Mundo ficciónIniciar sesiónStella Monteiro é uma autora de romances bem-sucedida, a grande aposta da Austin, uma das maiores editoras de romance do Brasil. Decidida a recomeçar e tentar superar seus fantasmas, Stella se muda para Roma, na esperança de que as novas experiências a tragam de volta à vida. Suas expectativas vão acabar quando seu caminho se cruzar com o vocalista de uma das bandas de rock mais famosas da atualidade. Romeo Bianchi é polêmico, escandaloso e egocêntrico, seus fãs o apelidam de demônio. Em cima do palco ele incendeia multidões ao lado dos seus companheiros de banda, porém o sucesso na carreira, não rendeu a ele o mesmo no amor, sua lista de relacionamentos falidos e escândalos amorosos é extensa. Agora anos depois eles se reencontram, ela como a babá e ele como alguém que precisa recomeçar e dar uma segunda chance ao amor que jurou esquecer.
Leer másA noite cai sobre Roma como um véu cintilante, transformando a cidade em algo ainda mais vivo. As ruas parecem respirar luz e música, e enquanto eu me olho rapidamente no espelho do elevador, sinto algo inédito dentro de mim — talvez empolgação, talvez liberdade. Talvez só o efeito da Pietra, minha melhor amiga, falando sem parar que “hoje será inesquecível”.
Eu deveria estar no Brasil, focada na minha carreira de escritora, mas tudo esta desmoronando.
Meu casamento.
Minha carreira, não me resta mais nada além do divórcio.
Há dois anos eu acreditava em algo que jurava ser amor.
Talvez esse seja o problema, não consigo escrever sobre algo que não acredito mais.
Eu não acredito mais em amor.
Então tudo oq ue vou fazer agora é aproveitar minha última noite de férias em Roma e afogar meus sentimentos.
— Sabe, eu estou oficialmente me recusando a deixar você em casa antes das duas da manhã — Pietra fala enquanto atravessamos a rua e seguimos em direção ao Trastevere, o bairro que ela jura ser o coração pulsante da vida noturna.
— Duas? — arqueio a sobrancelha — Minha alma idosa não tem estrutura.
— Tem sim — ela me puxa pelo braço e ri — Ou vai ter. Hoje você é minha responsabilidade, e vou te provar que Roma é a cidade perfeita para recomeçar.
O ar noturno tem cheiro de pizza assando em forno de pedra e perfume cítrico, misturado ao som de vozes altas e risadas ecoando pelos becos estreitos. A rua de paralelepípedos está cheia, mas não me sinto sufocada — sinto energia.
Quando chegamos à entrada da casa de shows, fico surpresa. A fachada é discreta, com uma porta preta e duas luzes de neon roxas piscando. Nada extravagante, mas a vibração dali… é elétrica. Dá para sentir a música vibrando nos meus ossos.
— Aqui? — pergunto.
— Aqui. Confia — ela pisca e entrega nossos nomes na porta, como se fosse uma habituée. E talvez seja.
O espaço interno é amplo, com paredes cheias de artes urbanas e luzes coloridas refletindo no chão. Tem uma pista, mesas altas, um bar lotado e um pequeno palco iluminado no fundo. A banda ainda está montando os equipamentos, mas a galera já está animada, como se toda a noite estivesse prestes a explodir.
Pietra levanta duas mãos e grita um “Uhuuu!” tão alto que várias pessoas olham e riem. Ela não está nem aí. E eu gosto disso nela.
— Vamos brindar! — ela puxa minha mão até o bar, dá um tapa no balcão — Dois spritz, per favore!
Quando as taças chegam, ela ergue a dela em um brinde improvisado.
— À nova vida da minha amiga incrível, que merece tudo de bom. E que deixou todo o lixo para trás, onde ele devia estar. — Ela respira fundo e sorri — Bem-vinda à Roma, Stella.
Meu coração amolece.
— Obrigada.
— Agora bebe.
Obedeço. A bebida está refrescante, cítrica, borbulhando na língua. Uma pontada de coragem. Talvez até de esperança.
A noite mal começou e eu já sinto que… sim. Eu posso recomeçar. Não preciso ser definida pelo que vivi.
Depois de alguns minutos dançando juntas no meio da pista, um rapaz alto com cara de bad boy estiloso aparece do nada, segurando o cotovelo de Pietra.
— Te achei — ele diz em italiano, sorrindo de forma tão descarada que Pietra praticamente derrete.
— Stella, esse é o Luca… não o meu, outro Luca — ela ri — ...e eu vou ali conversar com ele. Juro que volto.
— Vai lá — faço um gesto com a mão, rindo — Eu sobrevivo.
Ela me manda um beijo no ar e desaparece com o rapaz entre as luzes e o movimento. E então, pela primeira vez em muito tempo, fico sozinha em um ambiente cheio de pessoas… sem sentir pânico.
A banda sobe ao palco.
Luzes vermelhas. Microfones ajustados. A bateria faz um bum seco que reverbera pelo chão. Um teste de guitarra atravessa o ar, seguido de um riff tão afiado que arrepia minha nuca.
E então ele aparece.
O vocalista.
Cabelos escuros, bagunçados. Jaqueta preta. Olhar intenso, que parece examinar a multidão como se estivesse procurando algo — ou alguém. Ele inclina a cabeça, ajusta o microfone com calma e a sala inteira parece prender o fôlego. Até eu.
Engulo em seco sentindo os dedos dos meus pés se contraírem dentro do coturno, diante do peso daqueles olhos delineados de preto. O contato dura apenas alguns segundos, o suficiente para arrancar um pedaço da minha alma ao ouvir sua voz voltar aos meus ouvidos.
Com o microfone apoiado no pedestal, ele canta em italiano, mexendo o quadril lentamente. Os quatro têm uma sintonia perfeita, algum tipo de ligação erótica que os fazem interagir um com o outro, ao mesmo tempo que entoam letras rebeldes e pesadas.
— Buonasera, Roma, eu sou Romeo Bianchi e essa noite vamos para o inferno. — ele diz, a voz grave, rouca no ponto certo.
Meu peito aperta.
O guitarrista sorri. O baterista gira as baquetas como se estivesse prestes a incendiar o mundo. A primeira nota ecoa, vibrante, e sinto algo quente percorrer meu corpo.
Eu não sei o nome da banda. Não sei quem ele é. Não sei nada sobre aquela noite além do que já vivi.
O som é absurdo. Entra por mim, abre espaço, espanta sombras.
Se o diabo existe, eu tenho certeza de que ele deve ter essa cara. O diabo é um rockstar em macacão de couro e coleira no pescoço. Viro de costas por alguns segundos para tentar enxergar qual seria a minha dificuldade ao tentar chegar até o bar. Ao meu lado Pietra está com a língua enfiada na boca do namorado.
As garotas ao meu lado tentam se aproximar do palco ao ouvirem o vocalista dizer algo que não entendo. O espaço já é apertado e com o casal se pegando ao meu lado e a multidão me apertando, quase não consigo virar de volta para o meu lugar em frente ao palco, desistindo da ideia de fuga.
Poderia rezar em silêncio para que algo me salvasse do meu posto de vela, mas acho que Deus não me levaria a sério, pois no momento em que levanto os olhos de volta para o palco, vejo Romeo agachado com a mão estendida na minha direção.
A consciência voltou a mim não como um choque, mas como uma maré lenta e inexorável. Primeiro, foi o peso. Um braço sólido e pesado jogado sobre minha cintura, ancorando-me à realidade. Depois, foi o calor. O calor de um corpo nu contra as minhas costas, uma fornalha humana que afugentara o frio noturno. Por fim, veio a memória. Em flashes vívidos e sensoriais: suas mãos, sua boca, sua voz rouca sussurrando promessas que não eram doces, mas sim perigosas e deliciosas.Você nunca mais vai conseguir me esquecer.Um estremecimento percorreu minha espinha, e não foi apenas de prazer. Foi de puro terror.Mantive os olhos fechados por um longo momento, fingindo para mim mesma que ainda estava adormecida, que aquele era apenas um sonho intenso e passageiro. Mas o cheiro dele estava em toda parte. No travesseiro, nos lençóis, na minha pele. Uma mistura intoxicante de suor, sexo e uma colônia amadeirada que agora estava gravada nos meus sentidos como uma tatuagem invisível.Respirei fundo, o a
Acordo com a cabeça latejando e um gosto amargo de álcool misturado com arrependimento. Levo alguns segundos para entender onde estou. O quarto está em meia-luz, iluminado apenas pelo abajur âmbar no canto, criando sombras suaves nas paredes. A respiração lenta e pesada atrás de mim me faz prender o ar.Viro o rosto devagar.Romeo está deitado ao meu lado.As tatuagens negras recortam o peito dele como rabiscos carregados de histórias que eu nunca ouvi. O peito sobe e desce, calmo, enquanto o cabelo castanho cai, bagunçado, sobre a testa. Ele parece mais jovem assim. Menos demônio, mais homem. Um homem que eu não deveria desejar — mas desejo. Desejo demais.Engulo seco.Meu coração bate forte, acelerando, como se quisesse alertar que estou em território proibido.Lembro de flashes da noite anterior — a música preenchendo meus ossos, o perfume dele quando passou o braço pelas minhas costas, o calor da mão firme na minha cintura. E depois disso, tudo um borrão luminoso.Fecho os olhos,
Sempre que possível tentamos atender o máximo de pessoas ao fim dos shows, nem sempre conseguimos, mas hoje por ser um evento privado algumas pessoas foram selecionadas. As primeiras garotas correm diretamente para Megan, a baixista com jeito irreverente.Outro grupo se aproxima para que eu autografe as camisetas e fazemos as primeiras fotos, aos poucos os presentes vão se amontoando nas minhas mãos e vez ou outra, olho na direção de onde Pietra está na esperança de que a garota apareça a qualquer momento.Preciso saber quem é a dona daqueles olhos pretos.— Onde você está com a cabeça hoje Romeozinho?Paolo que está ao meu lado me sacode quando não percebo a fã em minha frente me estendendo a camiseta para autografar.— Fico feliz que tenha gostado do show, como é o seu nome? — A garota responde algum nome que provavelmente eu tenha escrito errado.Quase uma hora depois terminamos de atender todos com o estômago revirando de fome.Pietra se aproxima conversando com Megan, quando ela
Eu já a tinha visto antes mesmo de subir no palco.Era impossível não ver.A luz rubra da casa de shows recortava o contorno do corpo dela no meio da multidão — pequena, mas segura de si, com o vestido preto agarrado à pele e o cabelo castanho caindo como uma cachoeira sobre os ombros. Um contraste perfeito entre inocência e provocação. Do tipo que chama a atenção sem nem tentar. Do tipo que eu gosto de observar antes de decidir se chego mais perto.E eu decidi.A tradição dizia que em toda apresentação escolhemos alguém da plateia para o palco. Um jogo que eu sempre transformo em outro tipo de espetáculo. Cantar é fácil — o difícil é controlar o impacto que certas presenças têm na gente.Quando o refrão começou, fiz o que todo mundo esperava de mim: o show.Mas meu olhar já estava preso nela.A multidão se abriu quando os seguranças a convidaram a subir. A garota hesitou por meio segundo — charme puro — antes de aceitar. Assim que chegou perto, entendi que as luzes estavam sendo gene
A noite cai sobre Roma como um véu cintilante, transformando a cidade em algo ainda mais vivo. As ruas parecem respirar luz e música, e enquanto eu me olho rapidamente no espelho do elevador, sinto algo inédito dentro de mim — talvez empolgação, talvez liberdade. Talvez só o efeito da Pietra, minha melhor amiga, falando sem parar que “hoje será inesquecível”.Eu deveria estar no Brasil, focada na minha carreira de escritora, mas tudo esta desmoronando.Meu casamento.Minha carreira, não me resta mais nada além do divórcio. Há dois anos eu acreditava em algo que jurava ser amor.Talvez esse seja o problema, não consigo escrever sobre algo que não acredito mais. Eu não acredito mais em amor.Então tudo oq ue vou fazer agora é aproveitar minha última noite de férias em Roma e afogar meus sentimentos. — Sabe, eu estou oficialmente me recusando a deixar você em casa antes das duas da manhã — Pietra fala enquanto atravessamos a rua e seguimos em direção ao Trastevere, o bairro que ela ju





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