Os olhos dela queimam em mim.
Eu sinto antes de ver — aquele tipo de olhar que cola na pele e percorre cada centímetro até parar no meu rosto de novo. Quando dou um passo à frente, encurto a distância e deixo meu nariz roçar o pescoço dela. Ela perde o equilíbrio por um segundo, as mãos subindo para os meus ombros como se o mundo tivesse inclinado. A respiração dela acelera. A minha também.
Minha boca chega perto da orelha dela, o ar quente vibrando entre nós.
Presa. Entregue. Quase tremendo.
— Você confia em mim? — murmuro, sabendo que a resposta não importa.
— Não.
Ela responde sem hesitar.
Corajosa.
Adoro.
E eu não preciso que ela confie. Só preciso que sinta.
Passo as mãos pelas coxas dela com um movimento rápido, controlado, dominando o peso do corpo dela com facilidade. A plateia enlouquece quando a ergo, gritos rasgando o ar como se fossem outra batida da música. Sento-a sobre o bumbo da bateria, perto o bastante para que o som vibre no corpo dela. A música diminui, mas a gritaria cresce — o caos perfeito.
Posiciono-me entre suas pernas, deslizando o quadril na direção dela, como se o palco fosse nosso quarto e a banda inteira tivesse desaparecido. A mão livre sobe pelo pescoço dela, obrigando-a a me encarar.
Insano.
Enlouquecedor.
Sexy — e eu sei.
— Eu quero te deixar calma — digo perto demais — eu quero te deixar nervosa. Eu quero te libertar… mas sou ciumento pra caralho.
Ela apoia os cotovelos atrás de si, os olhos fixos na minha boca. Melhora tudo.
— Eu quero tocar suas cordas como se você fosse minha guitarra.
E é verdade.
O corpo dela vibra exatamente como um instrumento preparado para o toque certo.
E eu sei tocar.
Quando o ritmo desacelera, inclino o corpo e deixo minhas mãos descansarem na cintura dela. O resto da banda está ocupada com o solo da baixista. Ninguém está olhando. Mas ela sabe. Sente. Está entregue de um jeito que eu reconheço ao primeiro sinal.
Se eu quisesse mais naquele instante… ela deixaria.
Eu me inclino para frente, chegando tão perto que a plateia acredita que vou beijá-la. O rugido que sobe atrás dela é um incentivo — quase me faz querer cumprir a expectativa. Quase.
Mas eu prefiro provocar.
Levo meus lábios ao ouvido dela.
— Qual é o seu nome?
Ela congela.
Pausa perfeita.
Gosto de ver o cérebro dela falhar por um segundo.
— Stella. — diz, finalmente.
Sorrio. É impossível segurar. O vestido que ela usa está prestes a romper de tão justo, os seios pressionados contra o tecido de um jeito que faria qualquer santo cair — imagina eu.
— Stella… mia bella stella. — deixo cada palavra escorrer devagar — Vamos nos encontrar de novo.
Levanto-a com cuidado, colocando-a de pé na minha frente enquanto ela ajusta a roupa. O público ainda grita, mas eu só olho para ela. Quando termina, estendo a mão — não como um cavalheiro, mas como um homem que sabe exatamente o que quer.
Ela desce comigo até a lateral do palco. Quando os pés dela finalmente tocam o chão firme, vejo suas pernas tremerem. Quase sorrio de novo.
Pietra grita o nome dela, puxando-a para longe.
Stella olha para trás uma última vez.
A música explode no fim, e eu fecho o show com a adrenalina correndo nas veias. O suor escorre pela minha nuca enquanto levanto o microfone e deixo que a última nota reverbere.
— Roma… vocês foram foda pra caralho esta noite! — grito, e o público responde como um mar em chamas.
Eu rio. Eles me alimentam.
E eu entrego.
Agradeço com um aceno, jogo a garrafa vazia para o lado e deixo que as luzes engolam a multidão enquanto caminho para fora do palco ao lado dos meus irmãos de banda.
Lorenzo b**e no meu ombro.
— Você destruiu tudo hoje, Romeu. Principalmente… — ele ergue as sobrancelhas com malícia — aquela garota.
Eu apenas sorrio de canto.
— A noite está só começando.
As risadas ecoam pelo corredor estreito enquanto seguimos rumo ao camarim. O cheiro de álcool, perfume caro e tecido quente invade o ar quando abrimos a porta. É sempre assim depois de um show: caos, energia e aquele silêncio interno que só eu escuto — o de tudo que ainda quero.
Mas antes de entrar completamente, avisto Marco, meu segurança, encostado na parede, braços cruzados, postura alerta como sempre.
Eu me aproximo, baixo a voz apenas o suficiente.
— Marco… procure a garota da plateia. A do vestido preto. — Meu sorriso se torna lento, perigoso. — Diga a ela que eu quero encontrá-la.
Ele inclina a cabeça em um meio-aceno profissional.
— Entendido.