Em uma noite de folga, a policial se deixa levar pela primeira vez, o que gera um caso de uma noite com um homem bonito e misterioso. Sem nomes, sem endereços ou contato, apenas uma noite de paixão levada pela bebida. No dia seguinte a única coisa que ela lembra dele é uma tatuagem que não pode ser vista facilmente. Mas existe outro problema em sua vida, um delegado que tem sentimentos por ela e não vai deixar que ela encontre outro alguém além dele. Agora Clarice terá de se contentar com as lembraças daquela noite ou haverá um momento em que o caminho deles vão se cruzar novamente?
Leer másClarice Martins
— Um… — Minha voz sai hesitante ao iniciar a contagem.
Os olhos escuros da minha amiga igualavam-se à sua pele negra, perfeitamente linda, abaixo da luz do balcão do bar da boate mais cara de toda Stanvil. A Sty, uma imponente construção cor carvão, com tijolos em estilo medieval e um extenso salão, tinha uma área ainda mais sofisticada reservada para a elite. Tudo era luxuoso.
— Mais uma! — incentiva Laura.
Um sorriso branco se faz presente junto com o balanço de seus cachos finos, refletindo sua empolgação. Ainda sentia na garganta a mistura adocicada de Long Island Iced Tea, um dos principais coquetéis, dos quais não tinha costume, mas havia sido escolha de Laura. Seus ingredientes incluíam vodka, gim, rum, tequila, triple sec, Coca-Cola, suco de lima-da-pérsia e gelo.
— Não tenho dinheiro pra isso, Lau. — Mesmo que tivesse deixado as palavras saírem, agarrei o copo com o conteúdo meio alaranjado, ou seria marrom? Pequenos cubos de gelo estavam dentro. Dispensei o adicional da fruta que deveria vir na borda do copo.
— Esse é por minha conta — ela grita, por cima do som alto da música agitada.
— Só mais esse — digo, lançando-lhe um olhar de desconfiança.
Ela riu, concordando. Tento beber rapidamente logo de primeira, mas não sai como esperado. Decido engolir aos poucos.
O barman avisou de repente:
— Disponibilizamos um quarto na área VIP para os clientes que escolhem essa bebida.
Aquelas palavras fazem a última dose descer machucando a garganta. Parecia um grupo de bois carregando uma carruagem com rodas de ferro.
— Como é que é? — Meu rosto ficou muito vermelho.
— Clarie! Seu rosto está vermelho — disse Laura, com um sorriso desconfiado puxando seus lábios.
— Claro, eu quase engasgo aqui — digo, rejeitando-a imediatamente. Estava curiosa sobre as palavras do homem bonito do bar.
— Quarto para quê? Eu não pretendo ficar aqui até amanhã. — Laura sopra o vento invisível à frente.
— Pense bem. Assim, poderá ganhar um quarto VIP de graça — diz minha amiga de rompante.
— Shhh! Quietinha! — Faço um sinal desajeitado com o dedo nos lábios. Volto-me para o bartender, incentivando-o a falar a verdade.
— Este coquetel, em especial, é famoso por causar amnésia da noite vivida.
Imediatamente encaro Laura:
— Você sabia disso? — Tentei soar firme e repreensiva.
— Você sempre diz que não passaria a noite com um estranho em sã consciência, então precisava de algo para acabar com esse seu voto de celibato eterno — tenta contato visual comigo, tentando ser firme.
— E não… pensou em me perguntar primeiro? — Queria ficar irritada com ela, coisa impossível naquele momento. Não adiantaria muito.
— Não mesmo! — disse ela, sem remorso.
O homem se afastou de nós para atender outros clientes. Era sua oportunidade de colocar o corpo fora, já que notara ser uma discussão entre amigas.
— Certo — murmuro, colocando as mãos espalmadas sobre o balcão fino e liso.
— Onde você vai? — Ela pergunta, preocupada.
— Rumo ao banheiro — quase grito, tentando me equilibrar na descida da banqueta.
— Eu vou com você! — se prontifica imediatamente.
Apenas levanto o dedão, fazendo o famoso joinha. Tento, a todo custo, caminhar reto enquanto Laura me seguia entre risos, provavelmente por não ser repreendida pela infame amiga policial, no caso eu, que começava a ver o mundo cor-de-rosa.
As luzes e corpos que tivemos de ultrapassar me deixaram ansiosa, então acelerei os passos, deixando Laura para trás.
— Clarie, me espera! — gritou por cima do som e das vozes.
— Eu volto já! — assegurei, virando-me apenas o suficiente para vê-la. Ela parou no lugar, aceitando.
— Eu espero aqui — avisou.
Alisando o tecido sedoso preto do meu vestido, encaro meu decote absurdo.
— Isso é realmente desnecessário — murmuro para mim mesma antes de levantar a cabeça, sem parar de caminhar.
Logo me encontro batendo contra um muro muito alto. Dando um passo para trás, aperto os olhos, deixando-os escalarem o monumento à frente, encontrando lindos olhos azuis-piscina.
— Me desculpe! — peço, confusa.
Uma sobrancelha é arqueada na minha direção. No momento, sinto mãos saírem dos meus ombros.
— Deveria tomar mais cuidado — o som forte de uma voz grave chega aos meus ouvidos.
— Concordo, mas é difícil quando não se sabe o que acontece depois de uma longa bebedeira forçada — solto.
— Forçada? — Enquanto me pergunto quem era ele, analiso seus traços bonitos do rosto e corpo grande.
Suas sobrancelhas grossas alinhadas destacavam o brilho dos azuis das íris. O nariz bem-feito ficava acima de lábios médios contornados por uma barba aparada, que marcava seu maxilar e mandíbula. Vestia um terno perfeitamente cortado e limpo. Os cabelos lisos, em um tom loiro escuro, caíam pelos lados da testa.
— Foi forçada a beber aqui, nesta boate? — perguntou, e encontrei preocupação em seus traços faciais.
— Há uma amiga muito insistente que me pagou uma bebida estranha, que, segundo o amigo do bar, faz ter amnésia. — Me vejo rindo de repente.
Vejo alívio passar rapidamente pelo rosto dele, trazendo agora indiferença.
— Você deve tomar cuidado com as suas amizades. — Ele deu um passo para o lado, disposto a passar por mim.
Como se tivesse vida própria, minhas mãos agarraram seu antebraço esquerdo, impedindo-o de prosseguir.
— Espera! — peço, com um tom meloso demais para mim mesma.
Seus olhos recaíram sobre minha imagem, me avaliando da cabeça aos pés.
Podia sentir seu olhar queimando na minha pele exposta: do pescoço ao vão dos seios médios, ombros e coxa revelada pelo rasgo do vestido negro e longo. Senti ele contar as cordas do meu salto alto e retomar a atenção para minha franja loira. Somente então encarou meus dedos apertando a manga do seu terno elegante.
— Não deveria fazer isso — repreendeu-me.
Ele não me intimidaria agora. Estava bêbada. Sóbria, mesmo que minhas pernas tremessem, aguentaria a encarada. Eu era policial, não sentiria medo dele.
— Pode me apontar o banheiro? — Peguei o estranho bonito desprevenido; não era o esperado.
Ele franziu as sobrancelhas e os lábios, virando o rosto para apontar para trás de si.
— Está a duzentos metros de você.
— Obrigada! — Tirei minhas mãos dele, dando um passo para me afastar. Balanço no processo. Não sabia se era culpa da bebida ou por ter as pernas flácidas desde o aparecimento daquele estranho bonito.
— Espere um pouco! — ouvi sua voz novamente.
— Sim…? — Depositei minha atenção nele.
— A espera será longa — avisou, levando-me a encarar a suposta direção do toalete. Havia algumas mulheres nas proximidades da parede, supostamente esperando na porta.
— Eu aguento a noite toda — ri, voltando-me para o estranho.
— Duvido disso.
— Como poderia saber… — Não pude terminar. Senti uma mão grande me levando ao encontro dele, deslizando pelas minhas costas nuas, parando na minha cintura. Um arrepio correu pela minha pele inteira.
— Venha comigo!
Clarice Martins — Antes que a senhorita pergunte, eu tenho porte de arma. — sua voz soou. — Isso é bom… Acho que resolvemos aqui. — digo com naturalidade, apesar de ter certeza de que os dois malfeitores teriam problemas para chegar em casa. — Espera um pouco! — Me virei para o grandão ao meu lado. Quase prendi o ar com o impacto de sua presença: "Reaja, mulher. É só um homem!" Homem este que mexia com cada parte do meu ser, sem explicação ou motivo. Uma leve brisa passou por nós, trazendo o mesmo aroma inebriante que me confundia os sentidos. "Onde senti isso mesmo?" Pinho e uva. — Sabe quem eu sou? — perguntei depois de minutos. O loiro deixou a sombra de um sorriso surgir em seu belo rosto. Somente assim percebi que seus olhos não saíam de mim, da franja, dos olhos, da pele e da boca. Ele fazia uma varredura em mim, mas sem ser indiscreto, pois não desceu para meu corpo. — A vi na delegacia mais cedo. Quase acertei minha testa de tanta burrice. Mas, imediatamente, me v
Clarice MartinsUm homem e uma mulher me lançaram um olhar de raiva. Ambos com roupas amarrotadas, cabelos e postura ansiosos. Aquilo me fez descer imediatamente do carro, sem perceber o automóvel parando atrás do meu.— O que foi, hein? Por que está buzinando feito louca aqui? — Perguntou o homem, com aparência de vinte e quatro anos, quase da minha idade.Ele tinha os cabelos castanhos, com ondas, mesmo em um corte gentil. Roupas sociais de marca e relógio caro. Seu rosto devia ter uma expressão gentil, por ser quase angelical, mas era o contrário: tinha uma carranca.Ciente de ter que manter a postura por minha profissão e, ademais, estar com um observador no carro atrás, me mantive calma.— Olha! Eu vou tentar ser a pessoa racional aqui. Enquanto isso, quero que vocês dois prestem atenção nas minhas palavras e no seu redor! — Digo, fazendo gestos leves.A mulher riu alto. Ela tinha quase a mesma idade que eu. Cabelos escuros e médios, como os meus, magra a ponto de ser considerada
Clarice Martins Assim, tive que dar um passo para o lado e evitar a colisão com o investigador, dando passos mais apertados. Mal aconteceu, e o aroma no ar me fez estagnar no lugar. "Que cheiro é esse?" Não ousei me voltar para eles. Era um delicioso aroma de pinho e uva. Aquilo fez meus olhos fecharem por um breve momento, enquanto tentei inalar mais um pouco e puxar da memória onde havia sentido tal perfume. — Está querendo atrapalhar a passagem agora? — A voz irritante de Carla fez minha investigação pessoal ficar distante. Bufei, irritada pela intromissão, então passei distante dela, coloquei as folhas na minha mesa e fui atrás da minha sacola de remédios. Quando voltei, não tive tempo de espiar a sala do delegado porque estava ciente de que ele notaria minha indiscrição e interesse sobre o estranho. Por isso, só pude me contentar em fingir que não tinha visto um deus grego passar pelos corredores. E, principalmente, fingir que ele não era nada interessante. "Lembre de Ren
Clarice Martins Mal pensei nisso, quando um homem chegou, o deixando estranhamente ansioso. O homem era alto e bem trajado, cabelos loiros cobrindo o início das orelhas, onde deveriam estar caindo fios compridos sobre cada lado da sua testa, além de possuir costas largas. Vendo-o quase totalmente de costas para mim, uma imensa curiosidade me abraçou. “Quem seria esse? Por que ele deixou o investigador tão ansioso?” “Acho que já o vi em algum lugar. Mas onde?” Me perguntei, enquanto bebia minha água tranquilamente. O homem foi convidado a se sentar quando o investigador indicou a cadeira à frente da mesa. Assim que ele seguiu a sugestão, Pereira voltou a mexer nos papéis quase que imediatamente. A postura firme e nada relaxada do homem me passava a sensação de que ele era alguém acostumado a ser notado, grande, importante e, provavelmente, estava no cargo de chefe de muitas pessoas. Quando Pereira conseguiu algo nas gavetas da sua mesa, ele imediatamente passou ao seu convidad
Clarice Martins — Vai ficar melhor. — Diante das minhas palavras, ele semicerrou os olhos. Se aproximando ainda mais, apontou para um carro nas extremidades. — Entre naquele carro e me espere lá! — ordenou. Não pude contestar, pois ele passou para os demais: — Vamos levá-los para a delegacia. — Encerrou a operação. Sentada dentro do carro que Hudson me apontou, observei Ruan acenar à distância. Retribuí sua despedida com a cabeça, pois ainda segurava o ombro. “Como dói.” Deixei minha arma quase cair aos meus pés dentro do carro, ainda a segurava. De repente, a porta do motorista se abriu ao meu lado, e Hudson deslizou para dentro, fechando a porta. — Machucou o ombro. — Avaliou seriamente. — Posso passar no hospital depois. — Fingi não sentir muita dor. — Pensa assim mesmo? — Levantou a mão e a repousou na parte mais baixa do meu braço, onde meus dedos não estavam apertando. Meu rosto se contraiu, e ele se divertiu um pouco. — Fez um bom trabalho hoje. — Fiquei surpresa co
Clarice MartinsEra Ruan, um dos dois agentes transferidos, que agora era meu parceiro e trabalhava na mesa ao lado. Ele era alto, com um olhar atento e um jeito descontraído, parecendo nada abalado pelo excesso da carga horária dos últimos dias. A rotina puxada não tinha atingido apenas a mim, mas todo o pelotão, principalmente meu parceiro e eu.— Bom dia. Alguma novidade? — Descartei o copo de café recém-esvaziado.— Hudson quer a gente na sala de operações agora. Parece que temos um problema.Suspirei. Mal tinha me sentado, não podia me acomodar.— Todos madrugaram hoje? — Eu tinha certeza de que havia acordado cedo.Ruan me lançou um olhar confuso, olhou para o relógio simples em seu próprio pulso e me mostrou.— São sete e vinte. — Franzi o cenho.“Como isso é possível?”, quase derrubei a cadeira, confusa e culpada.“Não faz sentido eu ter dormido tanto.” Segui com ele até a sala onde todos se encontravam agora. No centro da mesa, um mapa da cidade estava marcado com várias anot
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