Mundo ficciónIniciar sesiónSempre que possível tentamos atender o máximo de pessoas ao fim dos shows, nem sempre conseguimos, mas hoje por ser um evento privado algumas pessoas foram selecionadas. As primeiras garotas correm diretamente para Megan, a baixista com jeito irreverente.
Outro grupo se aproxima para que eu autografe as camisetas e fazemos as primeiras fotos, aos poucos os presentes vão se amontoando nas minhas mãos e vez ou outra, olho na direção de onde Pietra está na esperança de que a garota apareça a qualquer momento.
Preciso saber quem é a dona daqueles olhos pretos.
— Onde você está com a cabeça hoje Romeozinho?
Paolo que está ao meu lado me sacode quando não percebo a fã em minha frente me estendendo a camiseta para autografar.
— Fico feliz que tenha gostado do show, como é o seu nome? — A garota responde algum nome que provavelmente eu tenha escrito errado.
Quase uma hora depois terminamos de atender todos com o estômago revirando de fome.
Pietra se aproxima conversando com Megan, quando ela se vira para abraçar Marco os dois parecem ficar tempo demais próximos um do outro. Já faz algum tempo que a interação entre eles começou a ficar estranha e pesada, principalmente quando Lucca está por perto.
As coisas entre os dois nunca ficaram bem resolvidas e nenhum de nós arrisca a comentar o que realmente aconteceu entre eles. E todos percebem como Marco a devora com os olhos sem disfarçar a expressão carrancuda quando Pietra volta a se sentar com o namorado.
A equipe da casa chega com algumas pizzas de cortesia e todos nos sentamos no chão para comer.
Lucca e Paolo estão revendo as fotos que tiramos para escolher qual postaremos nas redes sociais.
Megan foi com quem estive mais próximo, quando eu a conheci tinha acabado de retornar às aulas e sair do hospital. Ela nunca me julgou, apenas estava ali e todos os dias inventava alguma desculpa ou algum programa diferente para que ficássemos juntos.
Eu sabia que ela queria me dar motivos para não tentar de novo. Apesar da sua rebeldia eu nunca conheci um coração tão grande como o dela.
— E quem é a garota que estava com você, Pietra? — pergunto a minha amiga tentando disfarçar minha curiosidade.
— Stella? Somos praticamente irmãs — Pietra leva a garrafa de cerveja aos lábios — Ela passou por uma fase difícil e vai ficar um tempo morando comigo.
— A escritora? Eu me lembro de você falar dela. Não é a garota que teve um relaciona… — Pietra lança um olhar a censurando e Megan não termina a frase — Desculpa.
Agora está explicado por que os seus olhos me chamavam tanta atenção. Eles eram tristes e aparentavam a todo momento procurar uma rota de fuga ou um lugar para se esconder. Quase conseguia me enxergar dentro deles.
— E onde ela está agora? — pergunto
— No bar com um amigo meu, deixei os dois sozinhos. Acho que a Stella precisa conhecer outras pessoas — Pietra morde um pedaço da fatia, colocando a mão em frente a boca — Vocês devem conhecer ele, Alessandro o médico e um dos sócios da boate.
A cerveja que estava em minha boca desce pelo local errado, me fazendo ter uma crise de tosse. Marco atrás de nós cospe a pizza no cabelo de Megan que está agora com as mãos no peito, enquanto Paolo xinga tanto que até poderia ir para o inferno, e tudo isso tem um motivo.
— O médico filho da puta que tentou abusar da Megan? — Grito como se quisesse jogar Pietra de cima de um prédio — Você só pode estar ficando maluca!
— Como assim? Ela nunca me disse nada — Pietra entra em desespero e engatinha até a nossa baixista — Isso é verdade? Por que você nunca me contou?
— Não achei que era necessário, eu sabia que vocês eram amigos. Os meninos me acharam antes que conseguisse me levar para o hotel dele — Megan seca as lágrimas com o lenço — Pietra, eu não confio nele.
O caos se instala no camarim e todos saímos como furacões, esquecendo que temos fãs lá fora que vão dificultar a nossa passagem. Como a casa é ampla nos dividimos, Megan, Paolo e Marco vão até a saída para o caso deles já terem saído.
Vou com Pietra e Lucca em direção ao bar onde ela estaria.
Quando chegamos lá, nossas suspeitas se confirmam, o médico está com os braços de Stella em volta do pescoço tentando levantá-la do banco. Meu sangue sobe como fogo pelas veias, e antes que consiga agir a garota despeja tudo o que estava no seu estômago nos sapatos caros dele.
Lucca passa na nossa frente indo para cima do amigo e o atinge com um soco no nariz. Pietra está desesperada sem saber se tira a garota de cima do balcão ou tenta impedir o namorado de cometer um crime, conforme dá t***s na cara de Stella na esperança de trazê-la de volta.
A criatura de meio metro tenta jogar a amiga nas costas e faço sinal para que ela vá até Lucca, que nessa hora já conseguiu dar um fora no médico.
Pego Stella no colo e começo a ir em direção a saída.
— Tudo bem, coloca as mãos em volta do meu pescoço Stella — levando seu corpo em meus braços.
— Droga, eu morri? Eu morri e fui para o inferno — seus dedos finos tateiam meu rosto — O diabo tem a voz tão bonita.
— Tudo bem, está segura agora, Stella. Sou eu.
***
Ofereci meu quarto para que Pietra cuidasse da nossa pequena causadora de caos, deixei uma muda de roupas minhas em cima da cama que provavelmente ficariam enormes em Stella.
Quando a colocamos em minha cama, Stella continua murmurando coisas desconexas provavelmente efeito do álcool. Pietra encara a amiga caindo em um sono profundo com as mãos na cintura. Ela olha para fora, sei que ela quer passar um tempo com Lucca, que sempre está viajando conosco e por isso não conseguem se ver com frequência.
— Se você quiser pode ficar com Lucca, eu cuido dela — Aponto para Stella que nesse momento já está roncando na cama — Sei que vocês não se veem muito.
Pietra parece hesitar por um momento, ela jamais a deixaria sozinha com um estranho. Ela me jogaria de cima desse prédio se eu tentasse algo.
— Zero chances de você tentar algo? — cruza os braços me lançando um olhar ameaçador parecendo ler a minha mente — Eu arranco as suas cordas vocais se tocar nela.
— Nenhuma chance Pietra, você me conhece o suficiente para saber que eu jamais tentaria algo.
Ela vai até Stella e a cobre totalmente deixando apenas sua cabeça de fora e depois de me fazer mais algumas ameaças, segue para o quarto de Lucca. Não me atrevo a tirar a garota da montanha de cobertores, por isso encosto a porta e aumento o ar-condicionado na esperança de que ela não cozinhe.
Stella ronca tão alto que acho que poderia acordar o prédio inteiro.
Bonita demais para ser verdade, tinha que ter um defeitinho.
Tomo um tempo embaixo no chuveiro e troco de roupas. Quando volto para o quarto cogito deitar no chão, ou me encolher na cama. Entro embaixo do cobertor e faço uma pequena barreira entre mim e ela com alguns travesseiros para que Stella fique confortável, e me deito o máximo que posso no canto da cama.
Eu poderia dormir no sofá, mas a ideia de poder observá-la dormir parece inspiradora nesse momento. A todo momento seu corpo pequeno se vira na cama e murmura algo sobre fugir, não consigo compreender, então permaneço ali a observando de longe e sem ver o tempo passar adormeço com Stella se aconchegando em meus braços.







