Desesperada por um emprego para se manter sozinha, Anabelle aceita o que parece ser sua única opção: trabalhar como babá de trigêmeos — três pestinhas inteligentes, afiados e cheios de truques na manga. Preparada para enfrentar guerras de comida, perguntas espertas e bonecas voadoras, ela não imaginava que o verdadeiro desafio morava no andar de cima. Sebastian Davis, o pai das crianças, é tudo o que Anabelle não precisa: lindo de tirar o fôlego, dono de um temperamento difícil, um olhar que derrete a alma — e uma língua afiada que parece feita só para provocá-la. Entre batalhas infantis, jantares constrangedores e olhares que dizem mais do que deveriam, Anabelle vai perceber que talvez manter o emprego... seja o menor dos seus problemas. Uma comédia romântica cheia de tensão, diálogos afiados, crianças intrometidas e um pai cretino que pode ser bem mais perigoso para o coração do que aparenta.
Ler maisA tensão na sala era palpável. As palavras dele ainda ressoavam na minha cabeça, mas eu sabia que agora não era o momento de demonstrar fraqueza. Meu corpo estava em uma batalha entre o instinto de socá-lo, de dar um tapa e sair dali, e o medo de perder tudo.Foco, Ana, eu me disse. Minha respiração estava irregular, mas, com a força de algo que só quem já passou por tanta coisa sabe, comecei a respirar mais fundo, mais devagar.Levantei o olhar, e, sem hesitar, olhei diretamente para ele. Meu rosto, até então tenso, se transformou. A máscara estava no lugar, como minha mãe me ensinara. Uma expressão impassível, como se as palavras dele não tivessem importância alguma. A dor? O ódio?
— Que bagunça é essa na minha sala? — a voz do Sr. Davis cortou o ar como uma lâmina. Ele estava parado na porta, os braços cruzados sobre o peito e o olhar duro como pedra.As três crianças se encolheram instintivamente. Lauren, que ainda estava no chão, baixou a cabeça como se quisesse desaparecer. Thomas escorregou mais fundo no sofá. Charlie segurou o braço do irmão com força.Respirei fundo, tentando manter a calma, e me aproximei de Lauren. Estendi a mão para ela e a ajudei a se levantar, sentindo seus dedos trêmulos envolverem os meus. Assim que ficou de pé, ela deslizou para trás das minhas pernas, como se eu fosse seu escudo.— Estávamos apenas brincando, senhor — respo
Ao passar pelo quarto de Thomas, um som abafado chamou minha atenção — um resmungo baixinho, quase como um sussurro. Franzi a testa, espiando pela porta entreaberta. Tudo parecia perfeitamente normal à primeira vista: cama arrumada, brinquedos organizados, cortinas balançando levemente com o vento. Tudo... exceto por um amontoado de cobertores em cima da cama que parecia mais volumoso do que o normal.Sorri com a certeza crescendo dentro de mim. Me aproximei em silêncio, como uma verdadeira ninja, e notei um leve movimento sob as cobertas. Bingo.Com um movimento rápido e certeiro, arranquei os cobertores de uma vez e antes que Thomas tivesse tempo de reagir, o puxei e joguei sobre o meu ombro como um saco de batatas.Ele gritou entre risos, enquanto sua gargalhada alta
— Eu odeio aquela garota nojenta! Eu nem toquei nela! — Lauren cruzou os braços e bufou com uma cara de desgosto, os olhos lançando um olhar cheio de raiva na direção da professora que a havia repreendido.— Por que não me conta o que aconteceu? — Perguntei, tentando manter a calma, mesmo vendo a frustração estampada no rosto da menina.— Aquela metida não aceita que eu rodopio melhor que ela. Ela veio querendo roubar meu lugar, então eu empurrei ela pra ela sair, e ela se jogou no chão gritando que eu chutei ela! — Lauren falou, a voz cheia de indignação, os ombros tensos como se quisesse explodir.— Lauren, você tentou dizer isso para a professora? — Perguntei, tentando entender
Logo, o almoço foi servido, mas a refeição se deu em um silêncio absoluto. Os trigêmeos nem sequer levantavam os olhos dos pratos, a concentração deles era tão intensa que parecia até que o som de seus talheres batendo nos pratos era a única coisa que preenchia o ar.Durante 15 minutos, o silêncio imperava, e os únicos sons que se ouviam eram os ecos dos talheres, acompanhados do barulho abafado das mastigações. Quando finalmente os trigêmeos terminaram, eu dei graças a Deus, aliviada de que a tortura silenciosa tivesse chegado ao fim. Eu estava morrendo de fome!— Papai, nos dá licença? — Charlie foi quem quebrou o silêncio, e eu levantei uma sobrancelha, curiosa.— Voc&e
— Você desligou na minha cara, sua mocréia! — Jessica gritou assim que atendeu no terceiro toque do celular.— Culpa não foi minha, o maldito metrô fez uma curva e eu quase fui pro chão! E meu café foi parar todinho na minha blusa. — Bufei, jogando minha bolsa em cima da cama de casal que estava ali. O quarto era simples, uma cama de casal, uma mesa e um banheiro. Nada de especial, mas tinha aquele toque de simplicidade que me dava uma sensação de aconchego.— Pra você aprender a não ir pro trabalho de metrô! — Ela respondeu, um tom de repreensão na voz.— Queria que eu viesse voando? — Perguntei irônica, tirando uma blusa reserva que sempre tenho comigo. Sou desastrada, e sei disso. Por isso, tenho minhas precauções. O café é minha perdição, mas ao menos não sou tão imprevisível ao ponto de não me preparar para esses contratempos.— Sua vassoura tá na garagem pra isso, bruxa! — Ela disparou, rindo.Eu troquei a blusa rapidamente, me livrando do casaco que começava a pegar o cheiro fo
Entrei no quarto de Lauren e olhei em volta, absorvendo a decoração do lugar. As paredes eram pintadas de roxo, com uma bailarina desenhada na parede, dando um ar de conto de fadas ao ambiente. No canto, uma casa de bonecas do tamanho de uma mesa de sinuca e três prateleiras cheias de ursos de pelúcia.Lauren entrou no banheiro levando uma toalha, e aproveitei para dar uma olhada no closet dela — e, sim, ela tinha um closet! Peguei uma calça preta e uma blusa branca com alguns desenhos e coloquei em cima da cama, antes de sair do quarto.O quarto de Thomas era todo azul, com carrinhos espalhados por toda parte, e uma cama em formato de carro, como se fosse uma mini versão de uma garagem. Ele estava no banho, então fui até o closet dele — mais uma vez me sentindo indignada por crianças de 8 anos terem closet enquanto eu... bem, eu não tinha. Separei uma blusa preta e uma bermuda azul e coloquei em cima da sua cama.Entrei no quarto de Charlie, no final do corredor. As paredes eram pint
— Lauren tem balé, Thomas tem futebol e Charlie tem aula de artes. Todos às quinze horas, terminam às dezessete. O motorista os leva e busca.Ótimo. Duas horas do meu dia livre. Tempo suficiente pra jogar Candy Crush, atualizar o Instagram ou, o mais provável, ficar imaginando o pai absurdamente lindo dessas crianças sem camisa — com todo o respeito, claro.— Terça-feira, os três têm aulas de etiqueta na biblioteca, às quinze e trinta.Etiqueta. Com oito anos de idade. Eu, com vinte e poucos, ainda como miojo direto da panela e eles estão aprendendo a usar o garfo de sobremesa do jeito certo. Ok.— Quarta-feira é dia de natação às quinze e teatro às dezesseis e trinta.Com oito anos de idade e uma agenda mais lotada que a da Beyoncé. Começo a desconfiar que nem são crianças. Devem ser algum tipo de experimento do governo.— Quinta-feira eles saem com a mãe… então é seu dia de folga.Com a “vadia da mãe”, foi o que ele quis dizer, mas preferiu manter um resquício de civilidade. E tudo
Os portões de ferro se abriram com um rangido elegante — até o barulho parecia ter pedigree — e eu comecei a caminhar pela estradinha de pedras, ladeada por árvores tão grandes que pareciam saídas de um filme medieval. A mansão surgia à minha frente com toda a imponência de quem tinha sido construída apenas para intimidar visitantes pobres como eu. No centro do jardim, um chafariz esguichava água como se dissesse: bem-vinda à sua humilhação diária.Subi a pequena varanda de madeira branca e mal levantei a mão para tocar a maçaneta dourada da porta quando ela se abriu sozinha — como se a casa tivesse sensores de vergonha alheia.— Seja bem-vinda, senhorita Montgomery.A voz vinha de um senhor que parecia ter saído de um catálogo de mordomos britânicos. Ele vestia um terno impecável e uma gravata borboleta azul-marinho, combinando perfeitamente com o bigode preto que parecia ter sido pintado com canetinha. O detalhe curioso? Seus cabelos eram completamente grisalhos, o que fazia o bigod