Capítulo 6

Logo, o almoço foi servido, mas a refeição se deu em um silêncio absoluto. Os trigêmeos nem sequer levantavam os olhos dos pratos, a concentração deles era tão intensa que parecia até que o som de seus talheres batendo nos pratos era a única coisa que preenchia o ar.

Durante 15 minutos, o silêncio imperava, e os únicos sons que se ouviam eram os ecos dos talheres, acompanhados do barulho abafado das mastigações. Quando finalmente os trigêmeos terminaram, eu dei graças a Deus, aliviada de que a tortura silenciosa tivesse chegado ao fim. Eu estava morrendo de fome!

— Papai, nos dá licença? — Charlie foi quem quebrou o silêncio, e eu levantei uma sobrancelha, curiosa.

— Você não terminou a salada, Thomas. — Sr. Davis respondeu sem levantar os olhos.

— Eu não gosto de cenoura, papai. — Thomas murmurou, abaixando a cabeça, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Você sempre come as cenouras, por que hoje não come? — Sr. Davis questionou, com uma expressão séria. Thomas e Charlie trocaram olhares rápidos, como se estivessem tentando decidir quem responderia, mas não houve tempo. — Eu fiz uma pergunta.

— Desculpe, papai. — Thomas se desculpou, e com um suspiro derrotado, pegou as cenouras e as enfiou na boca. Tentou esconder uma careta, mas não conseguiu disfarçar completamente o desgosto. Engoliu sem mastigar muito, como se estivesse fazendo um sacrifício.

— Agora sim, podem ir. — Sr. Davis deu permissão, e os três se levantaram ao mesmo tempo, caminhando em minha direção com as cabeças baixas, sem falar uma palavra. Eles atravessaram a sala e se dirigiram para seus quartos, sem mais nada a acrescentar. Cada um foi para a sua cama, sem resistir.

Aquilo ficou me intrigando. Que estranho... Eles eram tão obedientes, mas parecia que havia algo mais, algo que eu não estava conseguindo entender.

Fechei as portas dos quartos silenciosamente, a sensação de desconforto ainda na minha mente. Desci para a sala, passando pela sala de jantar, onde percebi que o Sr. Davis já não estava mais. Fui até a cozinha, onde alguns empregados estavam almoçando e conversando entre si. Cumprimentei-os educadamente e me sentei com meu prato, sentindo a fome me consumir enquanto começava a comer.

Enquanto isso, algumas das cozinheiras puxaram papo comigo, e logo, fui me entrosando com elas, fazendo algumas amizades de trabalho. Isso me fez sentir um pouco mais à vontade, mas a estranheza da situação com os trigêmeos ainda não saía da minha cabeça.

Quando o relógio marcou duas horas, fui até os quartos e acordei as crianças. Lauren, com seus olhos ainda sonolentos, se levantou rapidamente e escolheu sua roupa de balé, uma combinação de saias rodadas e meias, o que a fez parecer uma garotinha meiga e gentil, em contraste com a energia normalmente intensa de uma criança de sua idade. Thomas, por outro lado, foi direto ao seu armário e tirou o uniforme de futebol, o que lhe dava um ar de jovem atleta, pronto para mais uma competição. Charlie, com seu estilo mais descomplicado, foi para o closet e escolheu uma roupa casual, uma combinação simples de camiseta e jeans que o fazia parecer tranquilo e relaxado.

Depois de todos estarem devidamente arrumados, nos dirigimos até a entrada da casa. Lá, o motorista já estava esperando pacientemente, e a viagem estava prestes a começar. Em ponto, às três horas, já estávamos a caminho do prédio onde as crianças faziam suas atividades extracurriculares. A viagem transcorreu tranquila, e eu aproveitei o tempo para observar o movimento ao redor, enquanto os trigêmeos conversavam animadamente, cada um imerso em seus próprios pensamentos e expectativas para o que os aguardava naquele dia.

As salas de pintura e balé ficavam lado a lado, o que, por um lado, era uma grande vantagem para mim. Eu podia ficar de olho em Lauren, Charlie e, ao mesmo tempo, observar o campo de futebol através da janela. A vista era excelente: o campo se estendia verdejante, e eu via os garotos correndo de um lado para o outro, com a energia típica de crianças se divertindo. Claro que, devido à minha miopia, eu não conseguia identificar quem era quem no campo, mas meu olhar ainda se fixava, tentando discernir entre os pequenos movimentos e risadas que ecoavam de lá.

Se todos os dias fossem como aquele, eu teria que me preocupar apenas com a minha sobrevivência. Os trigêmeos pareciam se virar muito bem sozinhos, sem problemas ou encrenca. A rotina estava se mostrando mais tranquila do que eu imaginava, pelo menos por enquanto.

Mas, como sempre, o destino se encarregou de me lembrar que tudo tem seu preço.

— LAUREN! – Ouvi a voz da professora de balé ecoar pelo corredor, cortando o silêncio.

E lá estava, a primeira encrenca do dia. Cedo demais para comemorar uma manhã sem surpresas.

Entrei na sala e logo a cena me chamou a atenção: uma garota jogada no chão, com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas, a mãe desesperada tentando acalmá-la, e uma professora visivelmente nervosa e impaciente. O ambiente estava carregado de tensão, e eu sabia que a culpa não seria de outra pessoa além de Lauren.

— Algum problema? — Perguntei, mais para quebrar o silêncio pesado do que para realmente esperar uma resposta. Olhei para Lauren, que estava de braços cruzados, com uma cara fechada e claramente desinteressada, encostada em uma barra de ferro.

— Você é a responsável? — A professora me encarou com um olhar severo.

— Sim, sou eu. — Respondi, tentando manter a calma, embora o estresse da situação já começasse a me afetar.

— Lauren deu um chute no tornozelo da amiga só porque ela não quis ficar atrás. Eu peço que converse com ela. Lauren, você está suspensa por 2 semanas.

Lauren não demorou a sair da sala, batendo os pés com uma raiva contida, como se tudo fosse injusto para ela.

Deus, vamos bater um papinho, um minuto de paz e sossego é pedir demais?

Sai correndo atrás de Lauren, não sem antes dar uma olhadinha em Charlie. Quando me dei conta de que a pestinha havia se escondido, quase me matei de vergonha. Fiquei ali, parada por um segundo, antes de perceber que estava em uma verdadeira maratona de esconde-esconde com uma criança travessa.

E foi naquele momento que a ficha caiu: estou velha demais para isso. Sentei-me no chão, derrotada, depois de dez minutos correndo sem direção, virando cada canto da casa como uma louca. Quando bati a cabeça contra a parede com força, me senti ainda mais um fracasso.

— Meu primeiro dia nesta bagaça e já vou perder meu emprego. 

Será que se eu voltar para casa, ajoelhar e pedir desculpas ao meu pai, prometendo entrar em um convento, ele voltaria a pagar minha faculdade? Eu não sabia mais o que pensar, só queria que o chão se abrisse e me engolisse ali mesmo.

Mas, como se algum milagre tivesse acontecido, vi uma sombra se aproximando. Levantei a cabeça e, para a minha surpresa, vi Lauren se sentando ao meu lado. O suspiro que soltei foi involuntário. Ela me olhou, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, e um silêncio confortável se instalou entre nós. Não era o que eu esperava, mas ao menos agora estava um pouco mais tranquila. 

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