Charlie
O cheiro de ferrugem e óleo queimado impregnava o ferro-velho, e cada passo que eu dava fazia ecoar o barulho de sucata sendo esmagada debaixo do meu All Star. O Diabo, por outro lado, parecia desfilar como se estivesse em uma passarela, inspecionando carro por carro com um interesse quase... artístico.
— Charlie, querido, seja menos emburrado — ele se encostou na carcaça de um sedã dos anos oitenta, cruzando os braços como se estivesse prestes a posar para uma pintura.
— Diabo, querido, você está rodando esse lugar há duas horas e não decide qual porcaria de carro vai querer. — Cruzei os braços, tentando ignorar o latejar de dor na minha têmpora.
Eu já estava cansado, irritado e com a paciência no limite. Meu trabalho no ginásio do pai não era exatamente o que eu sonhava quando decidi ser fisioterapeuta. Passava o dia cuidando de músculos estourados e egos ainda mais doloridos. Alguns daqueles lutadores tinham o talento único de me lembrar Thomas quando tinha sete anos: teimo