Ao passar pelo quarto de Thomas, um som abafado chamou minha atenção — um resmungo baixinho, quase como um sussurro. Franzi a testa, espiando pela porta entreaberta. Tudo parecia perfeitamente normal à primeira vista: cama arrumada, brinquedos organizados, cortinas balançando levemente com o vento. Tudo... exceto por um amontoado de cobertores em cima da cama que parecia mais volumoso do que o normal.
Sorri com a certeza crescendo dentro de mim. Me aproximei em silêncio, como uma verdadeira ninja, e notei um leve movimento sob as cobertas. Bingo.
Com um movimento rápido e certeiro, arranquei os cobertores de uma vez e antes que Thomas tivesse tempo de reagir, o puxei e joguei sobre o meu ombro como um saco de batatas.
Ele gritou entre risos, enquanto sua gargalhada alta ecoava pela casa, preenchendo todos os cômodos com uma alegria contagiante.
— Te peguei, espertinho! — falei, descendo as escadas com ele ainda nos ombros. Thomas não era pesado, e seus risos constantes deixavam tudo mais leve. Literalmente.
Chegamos à sala e o coloquei sentado ao lado de Charlie, no sofá, como se fosse um troféu recém-conquistado. Ambos me encaravam com olhos arregalados, mas agora brilhando de empolgação.
Cruzei os braços, ergui uma sobrancelha e anunciei, triunfante:
— Um, dois, três... Thomas embaixo das cobertas! Agora só falta uma. — Pisquei para os dois e me virei com confiança.
A última caçada estava prestes a começar. E eu estava adorando cada segundo disso.
— Não cante vitória antes da hora — disse Thomas, dando de ombros com um meio sorriso no rosto. — A Lauren é ótima em se esconder.
Ergui uma sobrancelha, cruzando os braços com ar desafiador.
— Isso é um desafio, pequeno Thomas?
Ele levantou as sobrancelhas, já animado, e ficou em pé no sofá como se fosse me enfrentar de igual para igual.
— Você quer que seja?
— Se eu não achá-la em dez minutos, compro uma barra de chocolate pra vocês. Que tal, combinado?
— Papai não deixa a gente comer chocolate, Ana — disse Charlie em um tom mais baixo, quase como um segredo, os olhos desviando para o chão.
Olhei para os dois, e naquele instante, Thomas pareceu murchar, o brilho travesso dos olhos se apagando um pouco. Me aproximei, abaixando a voz como quem compartilha uma missão secreta.
— Se vocês não contarem, eu também não conto.
Um sorriso lento se formou nos rostinhos deles, ganhando força até virarem sorrisos abertos e cúmplices, daqueles que aquecem o coração.
— Mas não se animem demais — completei, piscando para eles. — Eu sou ótima em esconde-esconde.
Me virei com confiança, sentindo o olhar dos dois me seguindo. A caçada por Lauren estava oficialmente em andamento — e eu tinha um chocolate em jogo.
Então eu respirei fundo e me coloquei em movimento novamente, caminhando pelos corredores da casa com a missão clara: encontrar Lauren, a mais encrenqueira — e aparentemente, a mais habilidosa — dos trigêmeos.
Percorri cada cômodo com atenção, conferi embaixo das camas, dentro dos armários, até atrás das cortinas. Nada. Nenhum sinal da garota. A casa era praticamente um labirinto e, para piorar, silenciosa demais. Meus passos ecoavam sozinhos no piso de madeira.
Quando voltei para a sala, suando levemente e com o coração batendo rápido — mais de exaustão do que de esforço —, me deparei com Charlie e Thomas sentados no sofá, ambos com sorrisos travessos nos rostos, como se estivessem prestes a explodir de risada.
Cruzei os braços, desconfiada.
— Se eu fosse uma criança... onde eu me esconderia? — murmurei para mim mesma, refletindo.
Nesse momento, notei Charlie desviar os olhos dos meus por uma fração de segundo. Ele olhou em direção à biblioteca, rápido, e depois voltou a me encarar com o sorriso ainda maior. Um sorriso que gritava “eu sei onde ela está”.
— Já desistiu? — provocou Thomas, com um tom debochado que me fez arquear uma sobrancelha.
Endireitei a postura, como uma soldada prestes a voltar à guerra.
— Nunca! — respondi, determinada, já me virando em direção ao novo ponto de interesse.
A biblioteca. Claro que seria lá. Se eu conheço bem essa mini vilã, ela não se esconderia num lugar óbvio... E crianças espertas sempre escolhem os lugares onde os adultos menos esperam.
Andei diretamente até a porta da biblioteca, confiante como uma caçadora prestes a capturar sua presa. Já conseguia até saborear a minha vitória sobre aquela pestinha esperta.
Mas no momento exato em que girei a maçaneta e abri a porta com cautela, uma sombra escapou por entre as minhas pernas.
— O quê...?
A garota passou ligeira, quase voando por baixo de mim como um foguete em miniatura, e disparou corredor afora em direção à sala de jantar. Eu demorei meio segundo para processar o que tinha acabado de acontecer, depois saí correndo atrás dela.
Seus passos eram rápidos, mas suas pernas curtas não a ajudavam muito. Em segundos, eu já estava quase alcançando ela.
— Nem pense em bater vitória! — gritei, tentando conter a risada.
Mas justo no instante em que ela ia cruzar a porta da sala de jantar para se declarar vencedora, seu pequeno corpo colidiu de frente com uma figura alta e imponente. Ela caiu sentada no chão com um baque surdo.
— Ai! — exclamou ela, esfregando o nariz.
Eu parei de correr no mesmo instante. Meus pés congelaram no chão.
Os meninos, que assistiam tudo do sofá com gargalhadas, também se calaram.
O silêncio foi imediato e denso, como uma nuvem pesada no ar.
Diante de nós, com as sobrancelhas arqueadas e o semblante sério, estava o Sr. Davis.
Engoli em seco, completamente sem saber o que dizer. Mordi os lábios, torcendo para que ele não tivesse visto a última meia hora da nossa sessão de esconde-esconde improvisado.
Lauren continuava sentada no chão, meio atônita, olhando para cima com os olhos arregalados.
Acho que agora a brincadeira acabou.