— Você desligou na minha cara, sua mocréia! — Jessica gritou assim que atendeu no terceiro toque do celular.
— Culpa não foi minha, o maldito metrô fez uma curva e eu quase fui pro chão! E meu café foi parar todinho na minha blusa. — Bufei, jogando minha bolsa em cima da cama de casal que estava ali. O quarto era simples, uma cama de casal, uma mesa e um banheiro. Nada de especial, mas tinha aquele toque de simplicidade que me dava uma sensação de aconchego.
— Pra você aprender a não ir pro trabalho de metrô! — Ela respondeu, um tom de repreensão na voz.
— Queria que eu viesse voando? — Perguntei irônica, tirando uma blusa reserva que sempre tenho comigo. Sou desastrada, e sei disso. Por isso, tenho minhas precauções. O café é minha perdição, mas ao menos não sou tão imprevisível ao ponto de não me preparar para esses contratempos.
— Sua vassoura tá na garagem pra isso, bruxa! — Ela disparou, rindo.
Eu troquei a blusa rapidamente, me livrando do casaco que começava a pegar o cheiro forte do café. O tempo estava apertado, e eu não podia perder mais minutos.
— Jess, nos livros de putaria que você costuma ler, as babás perdem o emprego depois de foder o chefe gostoso? — Perguntei, rindo e me jogando na cama, ainda tentando tirar a imagem do pai dos trigêmeos da minha cabeça.
— Não, o chefe gostoso se apaixona pela babá, mas na vida real, sim, geralmente as babás são demitidas — Ela respondeu, e lá se foram minhas esperanças.
Quase um fim de sonho.
— Jessica do céu, você não tem noção do quão gostoso ele é! Só um dilúvio pra apagar esse fogo. — Me abanei, brincando com Jess, embora ela não pudesse me ver, mas o desespero por esse homem era real.
— Sortuda! E eu tenho que ter um chefe de 500 anos de idade! — Ela resmungou, meio que revirando os olhos, mas podia ouvir o tom de inveja na voz dela.
Eu saí do quarto e fui até o corredor verificar se as crianças já haviam saído do banho.
— Mas em compensação, os trigêmeos me dão medo.
— Qualquer criança te dá medo, Anabelle. — Eu ouvi um barulho do outro lado da linha, talvez ela tivesse derrubado algo no chão.
— Obrigada pela parte que me toca. — Respondi, com um meio sorriso, e então ouvi a porta do banheiro de Lauren se abrir. Fiquei parada, encarando a parede enquanto tentava não pensar mais no homem sexy com filhos problemáticos. — Preciso ir, as crianças já estão saindo do banho. Se eu não der notícias até as 20:00, mande a polícia!
— Vai lá, curta o chefão gostoso. — Ela riu, mas eu sabia que, no fundo, ela estava só brincando.
— Eu não vou curtir o meu chefe gostoso, preciso do meu emprego, vaca! Fui.
Desliguei meu celular e coloquei no bolso, já me virando para ir até o quarto de Lauren, quando de repente dei de frente com uma parede humana. Quase caí para trás de susto e dei três passos para trás, sentindo meu rosto corar instantaneamente ao ver o Sr. Davis ali, com os braços cruzados e um sorriso discreto, que mais parecia um desafio disfarçado.
Era só o que me faltava mesmo.
— Espero que você não fique falando esses palavrões na frente dos meus filhos, Srt. Montgomery. — A voz rouca dele invadiu meus ouvidos e o cheiro de cigarro me envolveu, me fazendo quase engasgar. Não precisava disso agora.
Eu pensei em responder, algo do tipo "Espero que você não fique falando com esse bafo perto dos seus filhos, Sr. Davis", mas segurei a língua, porque, convenhamos, não ia ajudar em nada.
— Não vou falar nenhum palavrão na frente das crianças. Desculpe. — Respondi, baixando o rosto. Eu sabia que devia estar vermelha igual um tomate, e provavelmente ainda mais por dentro, porque, sério, ele estava ali, tão perto, e eu estava completamente sem palavras.
— Ótimo. Vim falar sobre o quarto para guardar suas coisas, mas acho que você já leu a placa. — Ele disse, sem tirar os olhos de mim, como se estivesse avaliando cada movimento meu.
— Sim. Então, se me der licença, vou ver as crianças. — Tentei parecer o mais normal possível, mas, em vez de passar por ele sem mais nem menos, praticamente andei para o outro lado do corredor, me esforçando para não parecer um completo desastre. O mais engraçado é que, no meio da tentativa de escapar dele, quase me fundi com a parede ao lado. Acho que a vergonha me fez dar passos maiores que o normal.
Eu só queria desaparecer, pelo menos até o final do dia.
Entrei no quarto de Lauren, respirando fundo para tentar acalmar o coração acelerado. A garota estava sentada em frente ao espelho, lutando com seus cabelos longos, que pareciam não colaborar.
— Quer ajuda? — Perguntei, me aproximando. Ela me encarou pelo espelho, sem desviar o olhar.
— Não.
— Ok então. — Falei, meio sem saber o que fazer. Olhei em volta, observando o ambiente e tentando ocupar a mente, até que Thomas e Charlie entraram no quarto da irmã. Ela se levantou rapidamente, sem dizer nada, e os três saíram apressados do quarto, indo em direção às escadas.
Eu os segui de perto, tentando memorizar o caminho, não querendo me perder por ali. Passamos pela sala de TV, onde as crianças deram risada de alguma coisa que estavam vendo. Então, atravessamos para a sala de jantar, onde Sr. Davis estava sentado na ponta da mesa, distraído mexendo no celular, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Thomas se sentou ao lado dele, e logo Charlie fez o mesmo, ocupando o lugar ao lado de Thomas. Lauren se sentou do outro lado de seu pai, com uma expressão de quem estava esperando algo. Eu fiquei de pé ao lado da porta, como uma espectadora, apenas aguardando os trigêmeos começarem a comer, sem me atrever a interromper. Não sabia se deveria fazer mais alguma coisa ou se simplesmente esperar ser chamada para atuar. O ambiente estava estranhamente silencioso, e o som da colher de Thomas batendo contra o prato ecoava na sala de jantar.