Um mafioso mal-humorado, uma mulher com um pato… e um casamento que não estava nos planos de ninguém. Matteo Corleone é o cérebro da Famiglia Corleone — sério, calculista e com mais afinidade por contratos do que por sentimentos. O problema? Seu irmão caçula resolve se casar em Las Vegas com uma desconhecida… e rompe um acordo com a poderosa Família Romano. Para evitar um banho de sangue em Roma, Matteo se vê obrigado a ocupar o lugar do irmão e se casar com Bianca Romano — herdeira mimada, viciada em flamingos e absolutamente obcecada por um casamento de contos de fadas. Determinando que merece pelo menos UMA última noite de liberdade, Matteo vai à própria despedida de solteiro… e abandona a festa no meio, entediado. No caminho de volta, uma tempestade o deixa preso na estrada. É aí que ele conhece Cecília: uma mulher encharcada, esbravejando no meio da chuva e… tentando resgatar um pato fugitivo chamado Frederico. Uma carona forçada… um motel com apenas um quarto… e uma certa tensão no ar fazem a história tomar rumos completamente inesperados. Quando um testezinho de farmácia aparece na equação, Matteo vai descobrir que controlar um império do crie é muito mais fácil do que controlar o próprio destino.
Leer másA primeira coisa que percebi ao acordar foi o cheiro.
Um cheiro bom. Um cheiro absurdamente bom. Uma mistura de couro caro, uísque envelhecido e… algo que só podia ser descrito como decadência sexy.
A segunda coisa que senti foi o calor.
Havia um braço pesado jogado sobre a minha cintura, o corpo quente e sólido de alguém colado às minhas costas. E não era qualquer braço. Era um braço masculino, firme, com uma mão grande que parecia ter vida própria, repousada perigosamente perto da minha barriga nua.
Nua.
Essa palavra piscou como um letreiro de néon na minha mente. Eu estava nua.
O choque me atingiu como um balde de água fria. Meu coração disparou. Engoli em seco.
Devagar, Aurora. Talvez esteja sonhando.
Com muito, muito cuidado, virei a cabeça.
E então o vi.
O homem mais bonito que já tinha visto na vida.
Cabelos com cachos largos bagunçados, uma barba por fazer que dava vontade de passar a mão só para sentir a textura, cílios longos que seriam considerados um crime em algumas partes do mundo e lábios cheios, entreabertos num suspiro tranquilo.
Se Adônis existisse de verdade, ele estava deitado na minha cama.
Não é minha cama, meu cérebro gritou. Olhei ao redor.
O quarto era imenso, decorado em tons de bege e dourado, com cortinas pesadas e uma varanda aberta que deixava a brisa quente da manhã entrar. Um lustre de cristal brilhava sobre nós.
Definitivamente não era o meu apertamento minúsculo.
Definitivamente não era minha vida.
Meu estômago deu um nó.
— Ok, Aurora — murmurei baixinho, tentando não surtar —... respira. Respira. Talvez… talvez só seja um sonho.
Nesse exato momento, o Adônis se mexeu, resmungando algo em italiano — uma palavra arrastada e gutural que soou terrivelmente sexy — e me puxou ainda mais contra ele.
Senti.
Senti cada músculo duro dele, cada centímetro quente e… oh, céus, aquilo definitivamente não era um sonho.
Me encolhi como um gato assustado, tentando sair de fininho debaixo do braço dele.
Foi quando ele abriu um dos olhos.
Um olho escuro, profundo, perigoso.
E sorriu.
— Buongiorno, mogliettina — disse com a voz rouca, ainda carregada de sono.
Mogli-quem?
Pisquei, tentando traduzir.
— Hein?
Ele deu uma risadinha preguiçosa, como se estivesse se divertindo com a minha expressão de pânico.
— Bom dia… esposinha.
Esposinha... Esposinha?!
Sentei tão rápido que quase desloquei a coluna, agarrando o lençol para cobrir meu corpo nu. O movimento arrancou um gemido de protesto dele, que rolou para o lado com preguiça felina.
— Ah, não — murmurei, encarando o teto como se fosse desabar sobre mim — Isso não está acontecendo. Isso não está acontecendo!
— Está acontecendo — ele disse, esticando-se todo, braços para trás da cabeça, exibindo um abdômen de revista de academia. — E aconteceu bem gostoso, se você quer saber.
Eu quis morrer. Ou matar alguém. Ainda não tinha decidido.
— O quê… O que a gente fez? — minha voz saiu aguda de puro desespero.
Ele me olhou com um sorriso malicioso.
— Acho que o termo técnico é: consumação matrimonial.
Abri a boca. Fechei. Abri de novo.
Nada saiu.
Calma, Aurora. Você é adulta. Já viu coisas piores. Tipo aquele coworking de freelancers onde serviam café com gosto de detergente. Você sobreviveu aquilo. Você sobrevive a isso também.
— Quem é você? — perguntei, estreitando os olhos.
Ele piscou devagar, com aquele ar irritantemente autoconfiante.
— Giovanni Corleone. Subchefe da família Corleone. — Sorriu como se estivesse me dando boas notícias. — Prazer, cara mia.
Subchefe.
Família.
Eu podia não ser especialista em máfia, mas até eu sabia o que "família" significava nesse contexto.
Senti meu rosto perder toda a cor.
— Mafioso?! — gritei.
Ele deu de ombros, como quem diz: ninguém é perfeito.
— Só de leve.
Minhas mãos começaram a tremer.
— Nós… nós nos casamos?!
Ele assentiu, com aquela calma irritante de quem não dava a mínima para o apocalipse que estava se desenrolando.
— Ontem à noite. Depois de algumas tequilas… e talvez umas apostas.
Apostas.
TEQUILAS.
A imagem de um Elvis gordo com um microfone na mão piscou na minha mente.
— Ah, meu Deus. — Tapei o rosto com as mãos. — Eu me casei com um mafioso bêbado em Las Vegas.
Ele deu uma risadinha divertida.
— Tecnicamente, você também estava bêbada.
Levantei a cabeça, os olhos ardendo.
— Isso é péssimo. É horrível! Temos que anular! Imediatamente!
Giovanni se espreguiçou de novo, como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Anular? — repetiu, com uma sobrancelha erguida. — Que feio, cara mia. Nosso matrimônio merece um pouco mais de respeito.
— Respeito? — esganiçei. — Eu nem lembro de ter dito "sim"!
Ele deu de ombros.
— Disse “porra, vamos nessa”, se quiser ser precisa.
Eu quis me enfiar debaixo da cama.
— Isso é um pesadelo — murmurei.
Olhei em volta, procurando minha roupa. Vi minha calcinha pendurada no abajur. Meu vestido estava amassado em cima de uma poltrona. Meu salto estava na varanda. Meu outro salto… bem, desaparecido em combate.
Suspirei fundo.
Foi quando vi o envelope dourado no chão. Me abaixei, tentando não derrubar o lençol, e peguei.
Certificado de Casamento – Elvis Chapel, Las Vegas.
Ali, em letras garrafais, estavam nossos nomes:
Aurora Isabella Martin e Giovanni Antonio Corleone.Assinados.
Carimbados.
Oficialmente casados.
— Você assinou isso?! — gritei, mostrando o papel.
— Você também — ele respondeu, casual, apoiado nos cotovelos.
Eu fechei os olhos, respirando fundo.
— Certo — disse, tentando recuperar a dignidade. — Ok. Vamos resolver isso. Vamos cancelar, anular, destruir, apagar!
Ele bocejou.
— Depois do café.
— Café?! — Minha voz subiu duas oitavas. — Você acha que café vai resolver isso?!
Ele se levantou.
Nu.
Completamente.
Não tive nem tempo de desviar o olhar. Meu cérebro deu tela azul.
Meu Deus. Como é possível alguém ser tão... estruturado?
— Onde você vai?! — perguntei, com a voz esganiçada.
— Banho. — Ele sorriu de lado. — Se quiser se juntar…
— NUNCA!
Ele riu, desaparecendo dentro do banheiro.
Fiquei parada ali, tremendo, enrolada no lençol e agarrando o certificado de casamento como se fosse uma bomba relógio.
Foi quando um flash da noite anterior explodiu na minha mente.
A despedida de solteiro de Megan. Nós dois, rindo alto no bar do cassino. Ele apostando que eu não teria coragem de cantar no karaokê. Eu subindo no palco para cantar "Like a Virgin". Ele apostando que eu não teria coragem de me casar. Eu dizendo que casaria agora.
E depois, o Elvis gordo.
As alianças de plástico.
O beijo.
Meu estômago embrulhou.
Ele saiu do banheiro alguns minutos depois, de calça jeans e nada mais, secando o cabelo com uma toalha.
— Você lembra de tudo? — perguntei, incrédula.
— De quase tudo — ele respondeu, piscando. — Lembro que você jurou me amar e honrar… e depois tentou enfiar a língua no meu ouvido no altar.
Afundei o rosto no travesseiro e gemi de vergonha.
Ele riu de novo, aquela risada rouca e quente que fazia coisas perigosas com meu sistema nervoso.
— Vai ser divertido ser seu marido — disse, se jogando de volta na cama.
— Não vai ser meu marido! — rebati, me levantando com dificuldade, tentando agarrar minha calcinha do abajur. — Eu vou anular isso hoje mesmo!
Ele cruzou os braços atrás da cabeça, me observando com olhos semicerrados.
— Difícil.
— Por quê?
Ele deu um sorriso malicioso.
— Vegas só anula se não consumar.
Meu cérebro travou.
— Consum... o quê?
— Consumação. Sexo. Você sabe, aquela atividade que fizemos repetidamente ontem à noite.
Senti minhas bochechas pegarem fogo.
Ele se inclinou um pouco, a voz baixa e provocante.
— Posso até desenhar, se precisar.
— Idiota — rosnei, pegando minha roupa e correndo para o banheiro.
Antes de fechar a porta, ouvi sua última provocação:
— Mas se quiser tentar anular, cara mia... — sua voz era puro veneno doce —... podemos fingir que é a primeira vez. Só pra garantir.
Bati a porta com força, ouvindo sua risada ecoar.
Eu estava tão ferrada.
E foi aí que tomei a única decisão lógica: fugir.
Saí do banheiro já vestida — ou tão vestida quanto consegui — com o vestido amarrotado, os sapatos nas mãos e o cabelo parecendo um ninho de pássaro. Nem olhei para Giovanni, que estava largado na cama como um deus grego satisfeito.
Peguei minha bolsa, enfiei o certificado de casamento dentro dela e marchei até a porta.
— Vai aonde, mogliettina? — ele perguntou com aquela voz lenta e divertida.
— Para longe de você! — rosnei, abrindo a porta.
— Vai voltar, cara mia. Vai sentir saudades.
— Não vai acontecer! — gritei por cima do ombro, já atravessando o corredor em disparada.
Atrás de mim, ouvi a risada grave dele ecoando no quarto.
Sim, eu definitivamente estava muito, muito ferrada.
Epílogo - Aurora Se alguém me dissesse há um ano que eu passaria o Dia de Ação de Graças na Califórnia, com um mafioso italiano gato, uma bebê nos braços, e um trio de outros mafiosos à espreita da torta de abóbora da minha mãe... Eu teria rido. E corrido. Provavelmente na direção oposta.Mas lá estava eu, sentada no banco da frente do carro de Giovanni — ou melhor dizendo, da nossa blindada nave italiana, onde até a cadeirinha da Alice parecia digna de um filme de ação. A estrada costeira se estendia em curvas suaves até a casa dos meus pais. O mar azul brilhava como um comercial de pasta de dente e a bebê no banco de trás roncava baixinho como um filhote de gato. Uma imagem idílica, se não fosse pelos carros pretos que nos seguiam feito sombras suspeitas.— Por que exatamente o Matteo, o Nicolo e a Ada estão vindo com a gente? — perguntei pela terceira vez, observando os SUVs pretos pelo retrovisor. — Já basta que isso aqui parece mais um comboio presidencial do que uma visita fami
Giovanni A sirene da ambulância teria sido um luxo. Eu tinha só meus nervos, um carro potente, e uma mulher parindo no banco de trás.— AURORA, EU ESTOU A QUINZE MINUTOS DO HOSPITAL!— QUINZE MINUTOS?! EU NÃO TENHO QUINZE MINUTOS, GIOVANNI! TEM UM SER HUMANO SAINDO DE MIM AGORA!!!A mulher gritou com tanta força que eu quase virei o volante para o mato. Meu coração batia no ritmo de uma rave dentro do peito. Cada vez que ela berrava, eu apertava mais o acelerador, ignorando placas, semáforos e qualquer coisa que não fosse chegar no maldito hospital a tempo.Ela se contorcia no banco de trás, segurando no apoio de cabeça como se fosse estrangulá-lo.— EU NÃO VOU PARIR NO CARRO, GIOVANNI! SE ESSE BEBÊ NASCER AQUI DENTRO, EU JURO QUE EU TE FAÇO COMER A PLACENTA!!!— Que nojo, mulher! Pelo amor de Deus, respira, faz aquele negócio da respiração — falei, já completamente suado, mesmo com o ar-condicionado ligado no máximo.Ela bufava igual a um touro prestes a derrubar um toureiro, e eu s
AuroraMinhas mãos estavam suadas. Tão trêmulas que por um momento pensei que não conseguiria girar a maçaneta. Mas o fiz, lentamente, como se cada centímetro significasse uma escolha entre viver ou morrer.O corredor estava mergulhado num silêncio estranho, cortante. O tipo de silêncio que precede uma tempestade. Ou um ataque.Meu coração batia tão alto no meu peito que podia jurar que preenchia toda a casa.Talvez eles tenham ido embora, pensei. Talvez fosse alarme falso.Idiota.Dei um passo. Depois outro. E então corri. Corri como se minha vida — e a do meu bebê — dependessem disso. Porque, no fundo, eu sabia que dependia.Cheguei ao quarto do bebê arfando, ajoelhando-me ao lado do berço com as mãos trêmulas. A luz suave do abajur iluminava o ambiente, e por um segundo, a inocência daquele espaço contrastava brutalmente com o caos do que estava por vir.Segui as instruções de Giovanni, abrindo a caixa falsa de fraldas. Estava lá. Uma Glock preta, pesada, fria. Um lembrete de quem
GiovanniA sala de estar de Matteo tinha a exata energia de um campo minado: polida, silenciosa e pronta para explodir a qualquer momento. Os policiais federais examinavam documentos, pastas, registros digitais. Havia papéis espalhados pela enorme mesa de centro, laptops abertos e olhos desconfiados em todas as direções.Eu estava com os braços cruzados, encostado na parede, sem tirar os olhos dos detetives. O cheiro forte de café misturado ao suor nervoso de Nicolo pairava no ar.— Isso aqui é uma palhaçada — resmungou Nicolo, andando de um lado para o outro feito um leão enjaulado. — Estão querendo achar cabelo em ovo. Todas as garotas da boate assinaram os contratos, tudo legalizado, carimbo, testemunha...— Estão querendo nos ferrar de algum jeito — murmurei, baixo o suficiente para só Nicolo ouvir. — E quanto mais a gente se irrita, mais eles gostam.Matteo estava sentado no sofá, com o semblante abatido. Não era todo dia que você via a principal boate do seu império ser reduzida
Aurora O silêncio do quarto era acolhedor. Deitada sobre os travesseiros fofos, com uma das mãos repousando sobre minha barriga já bem saliente, eu ouvia a voz trêmula de Megan do outro lado da linha. A janela estava entreaberta, e a brisa suave da tarde movimentava as cortinas brancas, que dançavam lentamente com o vento.— Eu não consigo me perdoar, Rory — ela disse, com a voz embargada, chamando-me pelo apelido carinhoso que só ela usava. — Aquilo... tudo aquilo... foi horrível. Eu me sinto suja. Covarde.Fechei os olhos, inspirando fundo antes de responder. O tom da Megan me apertava o coração, e mesmo depois de tudo o que houve, eu entendia sua dor. Ninguém escolhe ser refém da própria fraqueza — ainda mais quando está encurralada por monstros.— Você estava com medo, Megan — sussurrei, sentindo um leve chute dentro de mim, como se o bebê reagisse à tensão na minha voz. — Eles te ameaçaram. Não foi culpa sua.— Mas eu devia ter te protegido — ela choramingou. — Eu prometi isso.
GiovanniO cheiro da minha casa foi o primeiro sinal de que eu estava de volta à vida real.Duas semanas de hospital, exames, antibióticos, visitas médicas, comida insossa e enfermeiras que insistiam em me chamar de senhor Corleone como se eu fosse um velho de noventa anos. Agora, finalmente, eu podia respirar o ar da minha liberdade — com o peito ainda sensível, é verdade, mas com a alma aliviada.A cicatriz no abdômen coçava como o inferno, um lembrete físico de que eu quase morri. Mas ali, naquele momento, com os pés descalços tocando o piso frio da casa e o som distante de Aurora falando com a cozinheira, a vida parecia me dar uma segunda chance. Com juros. E talvez com cólicas — dela, não minhas.Levei a mão até a parede do corredor, empurrando a porta do cômodo que vinha montando nos últimos dias.O quarto do bebê.Era um bunker disfarçado de quarto.Paredes reforçadas com material à prova de som, janelas blindadas que pareciam comuns à primeira vista, e um sistema de alarme pr
Último capítulo