Giovanni
O cheiro da minha casa foi o primeiro sinal de que eu estava de volta à vida real.
Duas semanas de hospital, exames, antibióticos, visitas médicas, comida insossa e enfermeiras que insistiam em me chamar de senhor Corleone como se eu fosse um velho de noventa anos. Agora, finalmente, eu podia respirar o ar da minha liberdade — com o peito ainda sensível, é verdade, mas com a alma aliviada.
A cicatriz no abdômen coçava como o inferno, um lembrete físico de que eu quase morri. Mas ali, naquele momento, com os pés descalços tocando o piso frio da casa e o som distante de Aurora falando com a cozinheira, a vida parecia me dar uma segunda chance. Com juros. E talvez com cólicas — dela, não minhas.
Levei a mão até a parede do corredor, empurrando a porta do cômodo que vinha montando nos últimos dias.
O quarto do bebê.
Era um bunker disfarçado de quarto.
Paredes reforçadas com material à prova de som, janelas blindadas que pareciam comuns à primeira vista, e um sistema de alarme pr