Aurora
O silêncio do quarto era acolhedor. Deitada sobre os travesseiros fofos, com uma das mãos repousando sobre minha barriga já bem saliente, eu ouvia a voz trêmula de Megan do outro lado da linha. A janela estava entreaberta, e a brisa suave da tarde movimentava as cortinas brancas, que dançavam lentamente com o vento.
— Eu não consigo me perdoar, Rory — ela disse, com a voz embargada, chamando-me pelo apelido carinhoso que só ela usava. — Aquilo... tudo aquilo... foi horrível. Eu me sinto suja. Covarde.
Fechei os olhos, inspirando fundo antes de responder. O tom da Megan me apertava o coração, e mesmo depois de tudo o que houve, eu entendia sua dor. Ninguém escolhe ser refém da própria fraqueza — ainda mais quando está encurralada por monstros.
— Você estava com medo, Megan — sussurrei, sentindo um leve chute dentro de mim, como se o bebê reagisse à tensão na minha voz. — Eles te ameaçaram. Não foi culpa sua.
— Mas eu devia ter te protegido — ela choramingou. — Eu prometi isso.