Luna Castilho é uma jovem que nasceu enxergando o mundo com os olhos do coração, mas sua intuição vê o que ninguém mais enxerga. Filha de um mafioso poderoso, ela é dada em casamento a Fernando Torrenegro - um Don silencioso, cruel e movido por vingança. Ela é a moeda de troca. Ele, o carrasco disfarçado de marido. O plano era simples: destruí-la para atingir seu pai. Mas Luna não se dobra. Com doçura firme e silêncio afiado, ela começa a assombrar os fantasmas de Fernando - e a despertar sentimentos que ele jurou nunca mais ter. No mundo deles, amor é fraqueza. E fraquezas não sobrevivem.
Ler mais"Ela é a filha do inimigo… mas carrega nos olhos cegos a única luz capaz de me desarmar. E isso me enfurece mais do que qualquer arma apontada para minha cabeça." — Fernando Torrenegro
🖤 Medellín - Colômbia Dias Atuais Durante os meus trinta e sete anos nunca odiei tanto algo quanto o maldito sobrenome Castilho. Um nome poderoso, forte, mas que no fundo só me causa escárnio e repúdio. Por culpa do maldito patriarca dos Castilho cresci sozinho, na escuridão e distante de qualquer coisa que remete a família. Hoje não consigo ter bons sentimentos por ninguém, me tornei um monstro como muitos me chamam, e no fundo devo ser isso mesmo, até porque, sinto um vazio dentro de mim que nunca será preenchido. O vazio causado pela ausência dos meus pais, que foram brutalmente arrancados dos meus braços por culpa da ganância e falta de escrúpulos do bastardo Hernán Castilho. Mas o momento da minha vingança está próximo. E a dor que aquele desgraçado vai sentir será mil vezes pior e mais profunda do que a sentida por uma criança de cinco anos de idade ao ver seus pais brutalmente assassinados diante de seus olhos indefesos e ingênuos. Ali, naquele momento, diante dos corpos sem vida dos meus pais o maldito Castilho destruiu a minha inocência e o último resquício de humanidade que existia dentro de mim. Hoje me tornei o Don Fernando Torrenegro, um homem poderoso, respeitado e temido por toda a máfia, mas que no fundo se sente um solitário amargurado e vazio. O nome Castilho me causa asco, nojo e cada vez que ouço sinto gosto de sangue tamanha a minha furia. Engulo seco na tentativa de tirar esse gosto horrível da minha boca, mas tudo o que consigo é intensifica-lo, aumentando o meu ódio. Eu era apenas uma criança, com a idade de ter sonhos. Mas muito cedo eu fui obrigado a conviver com pólvora, e aprender que os Castilho eram um animal nocivo que precisavam ser exterminados. Ao invés de lápis, carrinhos, eu aprendi a manusear armas, a desarmar bombas, e a fazer vendetta com sangue. E principalmente, que a justiça tinha que ser feita com as próprias mãos. Quando fecho os olhos ainda consigo rever a cena de décadas atrás, o corpo do meu pai caído no chão com metade do rosto aberto na garagem do galpão em Valparaíso, totalmente irreconhecível. Sangue quente escorrendo pelos trilhos de óleo e os olhos fixos no teto como se ainda tentasse entender por quê. Eu não tive tempo de luto, porque poucos dias depois, naquela mesma semana, minha mãe caiu com o rosto no prato do jantar após levar um único tiro na cabeça. Fatal... limpo... e que serviu como a única pá que faltava para enterrar o homem que existia em mim. Eu sequer chorei. Só memorizei cada detalhe daquela cena, e confirmei quem eram os meus inimigos. Até porque, já não existia sentimentos dentro de mim. Ali, sem perceber, já haviam decretado o meu futuro. E ele não seria nada bonito e muito menos monumental. Mas seria justo, e era isso que me importava. Na minha memória aguçada memorizei tudo. Os corpos, o som do disparo e o maldito silêncio que surgiu logo depois. E sobretudo o nome por trás de toda a minha desgraça: Hernán Castilho. Ele achou que podia matar os Torrenegro como se a gente fosse barata. Achou que podia apagar nossa linhagem e riscar o próprio nome com ouro. Subestimou o que eu carregava nas veias. Eu era um menino quando fugi. Um fantasma entre os becos de Caracas e Medellín, com ódio nos olhos e uma faca no bolso. Hoje, sou a porra do pesadelo que ele plantou e esqueceu de colher. E que está mais pronto do que nunca para fazer justiça ou vingança, cada pessoa interpreta da maneira que quiser. O importante é que farei o sobrenome Torrenegro ser lembrado, e principalmente, a alma dos meus pais descansarem em paz. Aprendi que o dinheiro e o poder compram tudo. Hoje tenho rotas completas, homens de elite à minha disposição, armas e silêncio. Tenho a polícia, os tribunais e até os malditos repórteres nos meus bolsos. Se eu estalar os dedos, alguém morre em menos de uma hora — e ninguém pergunta por quê. Mas do que adianta tudo isso se não tenho paz? Paz... Uma palavra pequena, mas que pelo visto nunca saberei o verdadeiro significado. Até porque, paz é uma invenção dos fracos. E eu não sou fraco e nunca serei. A dor me mudou e hoje sou forte o suficiente para ir até o fim e cumprir com o meu objetivo e com o juramento que fiz no túmulo de meus pais... Justiça. E neste mundo sujo, justiça é olho por olho, dente por dente, carne por carne e sangue sobre sangue. Mas a morte de Hernán Castilho seria fácil e rápido demais. Sem sofrimento é algo inútil pra mim. Eu quero que ele apodreça em vida, que mastigue a própria ruína até não restar dente na boca e que implore pelo seu fim, mas que ele nunca chegue. Por isso, escolhi Luna. A filha dele. Luna é uma jovem cega e que servirá perfeitamente para a minha vingança. Poesia cruel do destino, não? A filha que não enxerga. A flor que cresceu entre espinhos podres e que é frágil aos olhos do mundo. Mas eu sei — ela é a chave. O símbolo. A última coisa pura que aquele verme ainda protege. E eu vou esmagá-la, mas com calma, lentamente, assim como o maldito pai dela fez com a minha alma. Batidas na porta me fazem voltar a si. — Senhor Torrenegro. — Mateo, meu homem de confiança, entra com o envelope da corte civil. — O juiz assinou. Está feito. A certidão sai amanhã nos jornais. — Perfeito. — dou o último gole no meu Whisky e assim sem ler. Foda-se! Tudo foi arquitetado com antecedência e os votos foram escritos por uma assessora. Se trata de uma cerimônia simbólica roteirizada, sem nenhuma emoção ou vacilo. É só estratégia e ponto final. Eu não quero amor, toque ou qualquer tipo de sentimentalismo. Eu quero apenas o poder, e assim destruir definitivamente o causador de todo o meu ódio. Largo a caneta e ao olhar através da janela de vidro espelhado e o horizonte de Medellín me chama a atenção da janela da cobertura. A cidade parece respirar tranquilamente, diferente de mim, que apenas existo, mas eu vejo o submundo por trás das luzes, a selva real — onde só sobrevive quem mata. E amanhã, quando Luna Castilho vestir branco — o vestido que escolhi, o véu que mandei bordar e os sapatos de cristal que paguei — e caminhar na minha direção com passos guiados porque não enxerga… será o começo do fim. O meu golpe final. Finalmente a minha vendetta. Já imaginei esse momento. Fantasiei, até. O tecido marcando o corpo e os lábios tremendo sem saber o que vem. Ela não vai me ver, mas vai me sentir, e saber, sem dúvida, que está diante do homem que destruiu tudo o que ela conheceu. Eu sou o predador. Ela é o cordeiro no altar dos meus mortos. Mas tem algo que ainda me fere. Algo que me atormenta à noite. Algo que me enoja, porque não deveria existir. Foi a voz dela. Suave. Sem medo. Sem súplica. Apenas… verdade. — Por quê? Ela perguntou com calma ao sentir o anel de noivado deslizando no seu dedo anelar direito. Como se já soubesse a resposta, mas quisesse ouvir da minha boca. E eu… calei. Não porque não sabia. Mas porque sabia demais. Com essa recordação jogo o corpo na poltrona do escritório, um couro frio, mas não tão gélido quanto a lembrança do perfume dela que me assalta como uma maldição — jasmim e mel. Simples, inocente e inaceitável. Ela usava um vestido azul quando nos vimos. Simples, de algodão. As mãos pousadas no colo, como se estivesse à espera de um julgamento. Disseram que foi educada e que confiava no pai. Coitada. Pelo que parece ela não sabe quem é o pai, e muito menos tudo o que ele era capaz de fazer unicamente pela ganância. A confiança é a arma dos tolos. E Luna… ainda é tola. Mas ela vai aprender. Vai sentir o mundo com os dedos, com o olfato e com a pele. Vai aprender o que é viver com o medo sussurrando no ouvido. E talvez — talvez — aprenda a me reconhecer antes de ser tarde demais. Porque eu não sou herói. Estou longe disso e não faço a menor questão de ser. Eu sou o monstro que ela nunca teve chance de evitar. Meu telefone vibra e me trás de volta. Era Mateo: “A garota chegou à casa de campo e está instalada.” Levanto. Amanhã é o casamento civil. Depois, o teatro para os jornais. E finalmente… a noite. Onde ela vai deixar de ser Castilho. E vai se tornar minha. A Minha noiva e a moeda de vingança. Com a sua beleza e inocência poderia ser a minha ruína — se eu deixasse. Mas ainda não é o momento disso. Preciso ser cauteloso e frio até conseguir o que desejo. E quem sabe depois posso usufruir o que será meu por direito. Mas, agora é hora de descer, vê-la de novo e de lembrar a mim mesmo que não existe espaço para fraqueza. Luna Castilho pode viver num mundo sem luz, mas vai aprender a ver com os sentidos, e quando sentir o que habita em mim — o ódio, o luto e a fome de vingança — talvez, bem no fim ou não, descubra que o monstro que a rodeia… já começou a sangrar por ela.“Entre a vingança e Luna, descubro que a maior ameaça não é o inimigo… é o que ela desperta em mim.”🖤LunaHá algo na respiração de Fernando quando ele se aproxima de mim. Não é apenas o peso da noite, nem o silêncio carregado que ele cultiva como armadura. É mais fundo. É como se ele estivesse sempre à beira de um precipício… e temesse que eu fosse empurrá-lo para dentro.Nos últimos dias, percebi que sua voz carrega tons diferentes quando o assunto toca meu pai. Ele não fala mal. Não fala bem. Na verdade, evita pronunciar o nome dele, como se o som tivesse o poder de acender velas em um túmulo. Isso só reforça minha suspeita. O segredo que Fernando guarda com tanto zelo tem algo a ver com meu pai. Não tenho provas, e tão pouco, tenho como ver nos olhos dele a verdade. Mas eu sinto. Sinto no modo como ele se cala, como seu corpo se retrai sempre que meu passado é citado.Às vezes, penso que ele acredita estar me enganando. Mas não há escuridão capaz de cegar minha intuição. Fecho o
“Não temo meus inimigos; temo apenas o que Luna desperta em mim.” — Fernando Torrenegro🖤Eu sempre soube que o maior risco de trazer Luna para minha vida não era o perigo dos inimigos, mas o dela tocar as feridas que escondi do mundo. Aquelas cicatrizes não eram feitas para serem compartilhadas. E, no entanto, ela estava cada vez mais próxima de arrancar os escombros que ergui como muralha.Quando entrei no quarto e senti o ar pesado, soube que algo estava errado. Ela estava diferente. Não era apenas a calma de sempre. Era a calma perigosa, a que vem depois da decisão.— O que você fez hoje, Luna? — perguntei, cada palavra pesada.O que ela respondeu não foi uma confissão, mas uma afronta. Ela não negou. Disse que apenas tentou "entender melhor a casa". Palavras inocentes, mas que escondiam muito mais.Meus músculos se retesaram.Rosa.Só podia ter sido Rosa.Passei a noite em claro, o corpo de Luna repousando a poucos centímetros do meu, enquanto a raiva fervia dentro de mim.Eu a
“Não temo as sombras de Fernando; temo apenas a distância que elas erguem entre nós.” — Luna Castilho 🖤Desde o instante em que toquei naquela caixa, o ar entre nós mudou. Fernando podia mascarar sentimentos diante do mundo inteiro, mas não diante de mim. Eu sentia sua inquietação no modo como respirava, no peso da sua presença, até no silêncio que se alongava entre uma frase e outra. Ele tentou me convencer de que certas portas não deveriam ser abertas. Mas o problema é que eu já havia sentido a chave em minhas mãos. E quando isso acontece, não há como esquecer.Passei a manhã tentando me distrair com os pequenos detalhes que ainda me traziam alguma paz: o cheiro do jardim, o calor do sol sobre minha pele, o som das folhas balançando ao vento. Mas mesmo o canto dos pássaros parecia ecoar perguntas sem respostas.Fernando estava se distanciando de mim, e isso doía mais do que eu gostaria de admitir. Não porque eu temesse perdê-lo — embora esse medo fosse real —, mas porque sentia qu
“Entre o inferno que carrego e o paraíso que ela oferece, descubro que fugir de Luna é impossível… e ceder a ela é inevitável.” — Fernando Torrenegro🖤Fernando TorrenegroA madrugada avançava como um inimigo lento, arrastando os minutos até que se tornassem horas. Eu ainda estava ali, de pé, entre a porta e a cama dela, preso numa batalha que não me deixava mover nem para frente, nem para trás.Luna não falava, mas seu silêncio era ativo, carregado, como se fosse mais uma arma que ela usava contra mim. Ou talvez fosse apenas eu, incapaz de suportar a calma dela diante da minha tormenta.— Você devia ter medo de mim — murmurei, quebrando o peso da escuridão. — Qualquer mulher em seu lugar teria.Ela virou o rosto na minha direção, e aquele gesto simples foi como uma lâmina.— O que você quer que eu tema, Fernando? — sua voz não vacilou. — A sua raiva? Os segredos que guarda? Ou o fato de que, mesmo tentando, não consegue se manter longe de mim?Meu peito se contraiu. Eu não suportava
“Ela não é meu inimigo, mas é a única capaz de derrubar os muros que construí com sangue e vingança.” — Fernando Torrenegro🖤Naquela madrugada, a mansão parecia mais sufocante do que nunca. Caminhei pelos corredores em silêncio, como um predador sem alvo, mas a cada passo a sensação de estar sendo observado me corroía. Não por câmeras, não por homens armados — mas por ela. Luna.Era como se seus sentidos invisíveis percorressem cada parede, alcançassem cada canto onde eu tentava me esconder. Podia quase sentir sua respiração me seguindo, mesmo sabendo que ela dormia no quarto ao lado. Ou talvez não dormisse. Talvez estivesse desperta, com aquela intuição maldita que não descansava.Entrei no escritório e fechei a porta atrás de mim. A caixa ainda estava sobre a mesa, como uma ferida aberta. Eu não a havia destruído. Não consegui. Como poderia, se cada pedaço ali dentro era também a prova da minha razão de viver? O ódio precisava de alimento. A vingança exigia lembranças.Passei os d
“Aquela caixa guarda o peso do meu passado… mas foi Luna quem encontrou a chave para abrir as correntes da minha alma.” — Fernando Torrenegro🖤Ela havia tocado na caixa. Eu não precisava que dissesse em voz alta; estava escrito nos gestos, na forma como seus dedos inquietos tamborilavam contra a mesa, na rigidez de sua postura quando o assunto surgiu. Luna tinha cruzado a linha. Aquela caixa não era apenas madeira e ferro. Era o túmulo das minhas escolhas, dos meus pecados. Nela estavam registros, cartas, fotos e fragmentos de uma história que eu nunca quis partilhar. Uma história que corria com o sangue que me trouxe até aqui.E agora… ela havia sentido.Aquela maldita intuição dela era capaz de perceber até o que o olhar humano não alcançava.Naquela noite, quando o silêncio reinava e a mansão adormecia, fui até a biblioteca.Passei a mão pelas lombadas dos livros até chegar ao espaço onde a caixa havia estado.Coloquei-a sobre a mesa, abri o fecho, e encarei o conteúdo.Ali estav
Último capítulo