Em Sombra da Ambição, Valentina Mancini é forçada a trocar uma vida de conforto por um casamento arranjado com Enzo Moretti, um implacável chefe da máfia italiana, em uma tentativa desesperada de salvar sua família da ruína financeira. O que começa como uma aliança estratégica logo mergulha os dois em um jogo perigoso de poder, desejo e desconfiança. Ao lado de Enzo, Valentina descobre um submundo governado por lealdades instáveis, códigos não ditos e segredos mortais. Mas nada a prepara para as verdades sombrias enterradas em sua própria linhagem — e para a existência de Veritas, uma inteligência artificial criada por remanescentes da antiga ordem global, a PROJETCIO, com o poder de manipular governos, decisões e até sentimentos humanos. Envolta em uma teia de conspirações, atentados e dilemas morais, Valentina evolui de peão a líder estratégica de um novo movimento de resistência global: a Raízes. Quando a própria rede de decisões é sequestrada por Veritas, ela encara o maior desafio de sua vida — enfrentar a verdade, não como um dado objetivo, mas como uma construção política e emocional. Sombra da Ambição é uma história sobre sacrifício, redenção e a eterna tensão entre controle e liberdade. Em um mundo onde a verdade foi programada, amar e errar podem ser os últimos atos de rebelião.
Leer másZurique, Suíça. Isabella Conti estava sentada à cabeceira de uma longa mesa de carvalho, em uma sala de reuniões discreta dentro de um banco privado. Ao redor dela, seis homens de ternos escuros, cada um representando um fragmento da velha guarda que havia servido fielmente a Emil Moretti. — A estrutura está vulnerável — disse um deles, acendendo um charuto. — Enzo perdeu o controle. E Valentina não é sangue do clã. — Mas ela tem as chaves — respondeu Isabella, firme. — E Enzo... bem, Enzo não tomará decisões racionais com ela por perto. Ele sempre foi fraco com as mulheres. Um murmúrio de aprovação correu pela mesa. — O que sugere? — perguntou outro. Isabella abriu uma pasta. Dentro, documentos detalhados, gráficos, movimentações financeiras. — Emil deixou reservas. Contas fantasmas. Investimentos adormecidos. Tudo pode ser reativado. Eu tenho acesso. O que eu preciso é de vocês — apontou com elegância — para consolidar a estrutura. Política, segurança, informação. Em troca,
O jato pousou em Milão pouco antes do meio-dia. O céu estava límpido, mas o peso que Valentina carregava nos ombros era o oposto da leveza do dia. Ao descer as escadas da aeronave, os olhos estavam fixos, frios. Francesca caminhava logo atrás, com os documentos recuperados guardados em uma maleta de segurança. Enzo já a esperava do lado de fora, encostado no carro blindado. Usava um terno cinza escuro, o rosto impassível, mas os olhos... os olhos procuravam por algo no rosto de Valentina. Alívio, talvez. Ou perdão. Ele se aproximou lentamente. — Podemos conversar? Valentina assentiu com um gesto seco da cabeça. — Sozinhos. Francesca hesitou, mas obedeceu. O escritório de Enzo era silencioso. Fechado. Carregado de história. A porta se fechou atrás deles com um clique surdo. Valentina não sentou. Ficou de pé, de frente para ele. — Eu vi. — O quê, exatamente? — O vídeo. O galpão. Você... matando dois homens para proteger seu pai. Enzo fechou os olhos por um instante. Depois
O amanhecer em Marselha tinha um tom cinzento e úmido. O céu pesado parecia refletir a tensão no ar enquanto o comboio dos Moretti avançava pelas ruas estreitas da cidade portuária. Giulia, no banco traseiro, estava vendada e algemada, mas sua expressão era tranquila demais para alguém prestes a abrir um cofre que poderia decidir seu destino. Francesca dirigia o veículo principal. Valentina estava ao lado dela, com os olhos fixos na estrada. — Você confia nela? — perguntou Francesca. — Não. Mas confio no medo dela. E no ego. Giulia não suportaria morrer sem ser ouvida. O endereço os levou até um prédio antigo no centro histórico, uma fachada abandonada que escondia um subsolo reforçado. Após passarem pela entrada secreta, guiados pelas instruções exatas de Giulia, chegaram a uma sala estreita, revestida por aço e concreto. O cofre estava ali. Alto, grosso, com um teclado digital e um leitor biométrico. Giulia foi levada até ele. — Impressão digital e código — disse ela. — Emi
O porão da mansão Moretti havia sido adaptado para situações como aquela. Silencioso, à prova de som, com câmeras em todos os cantos. Giulia estava sentada em uma cadeira metálica, com as mãos algemadas e os tornozelos presos. Mesmo assim, mantinha o queixo erguido. Valentina desceu os degraus com passos firmes. Usava preto dos pés à cabeça — como se sua própria silhueta fosse uma sombra. — Dormiu bem? — perguntou, sem emoção. — Com música de interrogatório ao fundo? Uma maravilha — rebateu Giulia, irônica. Valentina sentou-se à frente dela, cruzando as pernas. — Você disse que tinha cópias. Dossiês. Provas. Chegou a hora de provar que isso não é só blefe. — O que ganho em troca? — Alguns dias de vida. E, talvez, um acordo futuro. Eu não prometo imunidade. Mas posso garantir tempo. E tempo, neste jogo, vale ouro. Giulia a encarou, com um meio sorriso. — Você fala como Enzo. — Não. Eu aprendi com ele. Mas o que falo... é meu. Por fim, Giulia suspirou, cedendo. — Há três lo
Na manhã seguinte, o plano foi colocado em prática. Vincenzo foi retirado do galpão, drogado com um sedativo leve, e deixado intencionalmente em uma estrada secundária na saída de Palermo, com documentos falsos escondidos no casaco. Entre eles, o suposto “dossiê” que denunciava negociações secretas entre Enzo Moretti e um grupo russo envolvido em tráfico de armas biológicas — uma invenção cuidadosamente construída por Francesca e Valentina. A notícia se espalhou em menos de vinte e quatro horas pelos círculos certos. Fóruns criptografados, canais de comunicação usados por informantes e mercenários. Era o tipo de isca que ninguém ignoraria. — O rastreador no casaco ainda está ativo? — perguntou Valentina, observando o mapa digital diante de si. — Sim — respondeu Francesca. — Ele foi capturado por homens armados a poucos quilômetros de Messina. Estão indo em direção ao sul. Acredito que seja uma das casas seguras da Giulia. Valentina assentiu. — Deixe que achem que conseguiram. Ma
A sala de reuniões da mansão Moretti nunca pareceu tão silenciosa. Valentina, sentada à cabeceira — lugar que outrora pertencia apenas a Enzo —, encarava os rostos à sua frente: conselheiros, homens de confiança, chefes de operações. Todos, supostamente leais. Todos, agora suspeitos. — A partir de hoje, todas as comunicações internas passam por criptografia de três camadas — anunciou. — Nada sai sem minha autorização. Nenhum relatório. Nenhuma movimentação de conta. Nenhuma reunião marcada sem ser verificada por Francesca. Alguns trocaram olhares. Outros disfarçaram o incômodo. Enzo observava tudo em silêncio, sentado ao lado dela, como uma sombra letal e serena. — Alguém aqui vazou informações sensíveis nos últimos meses — continuou Valentina. — E esse alguém ainda está entre nós. Fingindo lealdade, alimentando Giulia. Isso termina agora. — Com todo o respeito, senhora — disse Vincenzo, chefe da contabilidade —, essas são acusações graves. Estamos todos há anos com a família. —
O relógio marcava 18h47 quando Valentina entrou no Hotel Eden. O saguão era luxuoso, discreto, com flores frescas e uma música ambiente quase imperceptível. A recepcionista apenas a cumprimentou com um leve aceno. Ela sabia que Matteo Bianchi já havia providenciado tudo. Francesca estava em uma suíte no andar de cima, com binóculos táticos, microfone direcional e acesso direto à escuta escondida no colar de Valentina. Qualquer coisa fora do esperado, ela agiria. Valentina subiu sozinha. Suas mãos estavam frias, mas seus passos, firmes. No 8º andar, parou diante da porta 808. Bateu uma vez. A fechadura eletrônica piscou em verde. Matteo estava esperando. Ela entrou. O ambiente era sofisticado e quase silencioso, com luzes indiretas e uma garrafa de vinho aberta sobre a mesa. Matteo usava roupas casuais, mas sua expressão era tudo, menos relaxada. — Achei que não viria — disse ele, servindo duas taças. — Eu cumpro compromissos. Mesmo os arriscados. Ele sorriu. — Isso torna você
O trem bala cortava a paisagem italiana a quase 300 km/h, mas dentro da cabine executiva tudo parecia imóvel. Valentina encarava a própria imagem refletida na janela: elegante, fria, com um leve toque de mistério. A mulher que ela fora outrora parecia cada vez mais distante. Ao seu lado, Francesca revisava os documentos falsos. Valentina agora era Elena Valli, esposa de um magnata do setor marítimo, convidada para um evento diplomático russo em Roma. — Ele vai estar lá — disse Francesca, sem tirar os olhos do tablet. — Matteo Bianchi. Com um grupo de empresários ligados à exportação de minério. Mas todos sabemos o que isso significa: lavagem de dinheiro e acordos armados. Valentina assentiu. — E o objetivo é o quê? Me aproximar? Conseguir uma conversa? — Observar. Escutar. Medir o território. Mas se conseguir mais que isso, ainda melhor. — E se ele desconfiar? — Não vai. Bianchi não subestima mulheres. Mas também não as respeita. E isso pode ser sua maior vantagem. Valentina
A noite caiu como um manto espesso sobre Milão, e com ela veio uma decisão que pesava como chumbo sobre os ombros de Valentina. Ela estava no antigo salão de reuniões do lado leste da mansão — um lugar raramente usado, sombrio, com paredes revestidas de madeira escura e iluminação baixa. Francesca e Enzo estavam com ela. Luca havia sido trazido por dois seguranças, algemado, confuso, mas calado. Ele olhou para Valentina como se ainda não acreditasse que era ela quem havia mandado buscá-lo. — O que está acontecendo? — perguntou ele, a voz baixa, mas tensa. Valentina se manteve firme. — Você mentiu, Luca. A propriedade em Savona foi usada com seu código de acesso. E, coincidentemente, você alterou relatórios financeiros exatamente nos mesmos dias. Temos provas. — Eu posso explicar... — Todos dizem isso antes do silêncio final — interrompeu Enzo, sem levantar o tom de voz. — Mas nós não queremos explicações. Queremos a verdade. Luca respirou fundo, depois baixou os olhos. Um gest