Mundo de ficçãoIniciar sessãoHonora sempre soube que não passava de propriedade, uma criada sem valor, tolerada por caridade e odiada pela própria mãe. Mas nada a preparou para descobrir que Alistair, o seu chefe a colocou no navio não por necessidade… mas para vendê-la. E ninguém no Black Raven parece se importar. Exceto o único homem que ela menos deseja ter por perto: William Redcliff. O homem que olha para ela como se ela fosse um erro vivo dentro do mundo dele. Nunca se tocaram. Nunca trocaram gentileza. Honora acha que ele a despreza. William tem certeza de que ela é um problema que ele não pediu para carregar. Mas o destino não liga para ódio. E basta uma tempestade para os levar a um naufrágio. Mas, quando Honora abre os olhos, ela não está morta, ela está em uma ilha deserta…com apenas uma outra alma viva ao lado dela: William. Agora não existe Casa Redcliff. Não existe hierarquia. Existe apenas um homem quebrado pela guerra, uma mulher quebrada pela vida, e uma ilha que exige que eles sobrevivam juntos… ou morram sozinhos. E quanto mais William tenta manter distância, mais a ilha força os dois a encarar verdades que nunca deveriam ter sido reveladas. Verdades sobre ele. Sobre ela. E sobre o que acontece quando duas pessoas juradas de ódio ficam completamente isoladas do mundo…e percebem que a única coisa mais perigosa que essa ilha selvagem é o que sentem um pelo outro. E quando eles forem finalmente resgatados, se forem, o mundo vai descobrir que algumas conexões não nascem por escolha… …nascem da fome, do medo, da dor, e de um amor proibido que nunca deveria ter existido.
Ler maisEle pareceu pensar, depois apontou com a cabeça para o corredor que levava ao convés.— O ar lá fora está melhor. Quer ir?Assenti.Caminhamos juntos até o convés lateral. O vento frio bateu no meu rosto como um balde de água limpa. Encostei na amurada, respirando fundo.Montenegro apoiou a caneca no corrimão, ao meu lado.— Você dança bem — ele disse, com um sorriso leve.— Não danço.— Dança sim. Melhor que eu, pelo menos.Ri da sua fala. O vento passou pelos meus cabelos, mas a trança bem amarrada nem mexeu. — Não esperava te ver aqui hoje — falei por fim.— Thomas me arrastou. Ele disse que eu estava “com cara de peixe morto”. — Montenegro fez aspas com os dedos. — Ele é insistente.— Ele é — concordei.Então, sem aviso, perguntei:— Você e o William são… amigos?Ele pareceu surpreso com a pergunta.— Somos. Desde a guerra.— Como você consegue?Montenegro franziu o cenho.— Como assim?Engoli seco.— Ele é… difícil. Frio. E às vezes… cruel.Montenegro cruzo
Montenegro parou a poucos passos, a luz fraca da lamparina iluminando o rosto dele. Era um rosto que tinha visto batalha, mas não havia dureza ali.— Senhorita — ele inclinou a cabeça. — Parece que é o destino que nos faz esbarrar… ou dançar agora.Eu ri, meio nervosa.— Não culpe o destino. Culpe eles. — Apontei para Clarissa e Thomas, que nos observavam como dois pássaros fofoqueiros.Montenegro deu a mão.— Só uma música.Pensei em recusar. Pensei mesmo. Mas o tambor bateu alto, as pessoas riram, e eu mesma precisava daquela leveza. Montenegro pisava no próprio pé às vezes, e eu tentava acompanhar o ritmo. Às vezes ele ria, às vezes eu ria. Ele se desculpava toda vez que errava, com aquele sotaque inglês correto demais para alguém que aparentemente não sabia coordenar o corpo.A dada altura, eu ria tanto que meu estômago doía. Eu não ria há muitos anos. Foi quando o ar mudou e o riso das pessoas caiu um pouco. O ritmo continuou, mas… algo ficou mais tenso. E eu soube, an
— Respirando?— Sim, capitão.— Achei que tivesse deveres para cumprir — William disse, com frieza militar. — Ou seu tempo livre se estende ao ponto de invadir espaços destinados a criados?Montenegro engoliu seco, conhecendo o humor curto de William.Olhei para o chão para não ser pega no meio da tensão. Mas William virou o olhar para mim.E então entendi que o espaço que ele queria marcar não era o de Montenegro.Era o meu.— E você — ele disse, a voz baixa e precisa — não deveria estar aqui.Levantei o rosto devagar.— Estou organizando as provisões, senhor.— Não é isso que perguntei — ele rebateu, os olhos cortantes presos nos meus. — Perguntei o que você está fazendo aqui. Neste lugar. Com ele.Montenegro deu um passo.— Capitão, não há motivo para…William cortou, seco:— Oscar. Volte ao convés. Agora.Montenegro hesitou por meio segundo.Olhou para mim, preocupado, como se quisesse dizer alguma coisa.Mas um oficial não desobedece a um capitão. E um amigo e
Risos. Dois. Três.Eu não senti tristeza. Não senti surpresa. Senti apenas… familiaridade.A constatação fria de uma realidade que eu já conhecia tão bem quanto conhecia a textura do convés sob meus pés.Foi quando ouvi passos aproximando-se atrás de mim. E eu soube antes mesmo de virar a cabeça.William.Ele estava parado a apenas dois metros, com uma taça na mão, o corpo ereto, o uniforme impecável.E conseguia, mesmo na confusão de pessoas, música e vozes, irradiar uma presença que dominava o ambiente.A loira percebeu a proximidade dele e endireitou a postura.— Capitão Redcliff! — ela chamou, como se estivesse oferecendo uma joia. — Estávamos justamente falando de suas vitórias.Ele não respondeu. Apenas olhou para ela, depois para mim. Foi quando ficou claro que ele tinha escutado. Tudo.Os olhos dele passaram do rosto da nobre para a bandeja em minhas mãos. Era impossível saber o que pensava. Não havia qualquer sinal em sua fisionomia. Havia apenas aquele gelo imóv
O soldado alto, de postura impecável e olhos castanhos curiosos, apareceu carregando uma caixa de garrafas.— Senhoritas — ele disse, inclinando a cabeça. — Imagino que este seja o local correto para deixar isso?Clarissa travou, analisando-o da cabeça aos pés como se estivesse vendo uma obra de arte exótica. Até porque ele não precisa carregar nada, esse papel era dos marujos, mas ele pareceu não se importar. Eu pigarreei.— Sim — respondi. — Pode colocar na mesa secundária.Ele se aproximou, os passos firmes, sem pressa.— Esta é uma festa impressionante — Montenegro comentou, ajeitando a caixa. — Parece que o navio inteiro foi transformado.— Quando o William chega, tudo muda — Clarissa disse com ironia venenosa, mas educada o suficiente para não parecer desrespeitosa.Montenegro arqueou uma sobrancelha, desconfiado, ou curioso. Não sabia dizer. — Vocês o conhecem bem?— Ela conhece melhor — Clarissa disse rapidamente, apontando para mim. — Falou com uma risadinha. Eu
— E você vai fazer parte dele, Honora — Thomas afirmou, sério como nunca. — A gente não vai te deixar pra trás.Essa frase me atingiu com força. Antes que eu pudesse responder, um marinheiro chamou pelo nome dele lá do final do corredor.— Thomas! Precisamos de você aqui!Ele suspirou.— Eu volto depois. Não façam nada perigoso nesse meio tempo.Ele beijou a testa de Clarissa, deu um aceno para mim e saiu correndo.Assim que ele se afastou, senti o peso do olhar dela.— Agora fala — Clarissa ordenou. — O que houve?Abaixei a cabeça.— Eu… o vi.— Quem? — Ela piscou. Um segundo depois, arregalou os olhos. — Não, pera. O William?Assenti devagar.— E como ele estava? — ela perguntou, inclinando-se para frente, predadora. — Falou alguma coisa? — Ele… — engoli seco — me olhou como se eu fosse um problema que ele não pediu pra lidar. Sabe aquele olhar de soberba?Só que pior. Ele tá… diferente. Mais alto. Mais intimidador. Clarissa entortou a boca.— Se ele magoar você, eu
Último capítulo