No topo de uma metrópole onde corporações de tecnologia ocultam antigas linhagens de lobisomens, Rhaek Vorn comanda com punhos de ferro e sedução. Alfa de uma das maiores potências empresariais do mundo, ele mantém um harém de lobas subjugadas e alianças forjadas pelo medo — até que o passado retorna em carne e sangue. Narelle Nox foi entregue a ele ainda jovem, trocada por recursos e proteção, e criada sob sua vigilância para, um dia, ser tomada. Marcada em um ritual ancestral como sua futura loba fértil, ela fugiu antes que o destino fosse selado, grávida e determinada a desaparecer. Mas anos depois, ressurge como uma mulher bela, firme e estrategicamente posicionada como acionista da própria corporação Vorn, escondendo sua identidade — e o filho que ele jamais conheceu. O reencontro é uma colisão de passado e presente. Rhaek a reconhece. O sangue clama por posse. Narelle se recusa a se curvar. Enquanto a empresa se torna palco de uma batalha silenciosa entre desejo e poder, o Alfa precisa lidar com sua atual Luna, com um harém ameaçado, e com a loba que carrega sua marca... mas que pode destruí-lo de dentro para fora.
Ler maisNarelle estava sentada no sofá largo da sala principal, o corpo enrolado em uma manta fina, os olhos perdidos na lareira acesa apesar da tarde morna. O som leve do fogo estalando se confundia com o riso abafado do menino, do outro lado da casa. Ele brincava no tapete da brinquedoteca com seus carrinhos de madeira e uma nave prateada que Kael lhe dera.Mas ela não ouvia os brinquedos. O que ouvia era o próprio coração, batendo com a lembrança das mãos de Rhaek, da boca, do olhar escuro — e do que ela sentiu depois. Porque ali, no meio da floresta, não foi só desejo. Nem só culpa. Foi algo que latejava em um lugar profundo, onde nem a razão nem o poder conseguiam entrar. Um amor não admitido, um ódio que ainda ardia.E acima disso... havia o menino.Ela fechou os olhos por um instante, pressionando a manta contra o peito. Pensar em Rhaek era um veneno que acendia nela a sede antiga. Mas pensar no filho era a cura. Bastava ouvir seu riso, sua voz fina chamando uma das babás — e tudo n
Na trilha, o som dos passos sobre a terra úmida era engolido pelas copas densas das árvores. O sol da tarde se infiltrava entre os galhos em feixes dourados e breves. O ar ali parecia mais denso, carregado de intenções não ditas.Narelle chegou primeiro.Usava calça preta justa, botas de couro e uma camisa leve, aberta o suficiente para deixar escapar o calor — e provocar a ilusão de descuido. Mas cada movimento dela era estratégia.Afastou uma folha grossa do caminho e se posicionou de costas para a entrada da trilha. Não esperaria sentada. Ele viria. E ela queria vê-lo chegar.Demorou, mas ela sentiu. O cheiro metálico do sangue antigo. A tensão que vibrava no ar, como antes da tempestade.Rhaek surgiu por entre os galhos, a barba por fazer, o olhar escuro. Estava sem casaco, o peito largo marcado pela camisa colada ao suor, o cheiro de floresta misturado ao dele. Parou a poucos metros.— Você veio — ela disse, sem sorrir.— Você sabia que eu viria — respondeu ele, com a voz grave,
Rhaek qurria conhecer a criança. Ninguém mencionava nada sobre ele. Nenhum documento oficial revelava. Nenhum registro da empresa, nenhum sussurro nos corredores do clã.Mas ele sabia que o menino só podia ser dele.Sabia que Narelle havia fugido grávida. Sabia que retornara com um olhar mais frio, mais letal, e que o sangue dela — de algum modo — ainda pulsava vivo em outra criatura. Não era só sobre vingança, agora. Era sobre o que aquele menino poderia se tornar. E quem teria o controle disso.A noite estava úmida. Os sensores da mansão continuavam ineficientes contra ele — um truque aprendido com antigos engenheiros de fronteira, antes que o clã dominasse os sistemas de vigilância da cidade. Rhaek desceu uma encosta coberta de limo, agachado entre os arbustos, até ter visão direta da ala leste da casa.Ali, por trás das vidraças foscas, viu a silhueta de Narelle. A criança ao lado dela.Pequeno. Firme. Cabelos escuros. Um livro nas mãos.Rhaek franziu o cenho. Havia algo... difer
Narelle sentiu-se incomoda por perder a postura diante do que viu no quarto de Kaell, mas fingiu naturalidade nos dias que se seguiram, pois haveria um evento.A fachada da mansão brilhava sob a luz dourada do entardecer quando os convidados começaram a chegar.Carros pretos, lobos engravatados, fêmeas reluzentes em vestidos com cortes ousados e perfumes caros. Era uma noite de celebração. A empresa alcançara mais uma expansão — um novo contrato com a cúpula europeia. Kael havia prometido um evento discreto, elegante, para consolidar sua imagem como líder inquestionável. E para isso, precisava de Narelle.Ela desceu as escadas com a calma ensaiada de uma atriz veterana. O vestido vinho se ajustava ao corpo como uma segunda pele. A fenda alta mostrava uma coxa que já havia levado muitos à ruína, mas os olhos dela estavam frios. Calculando. Cada degrau, uma batalha silenciosa contra o que sentia.Kael a esperava ao pé da escada, impecável em seu terno escuro. Estendeu o braço. “Pront
O contrato ainda cheirava a tinta fresca quando chegaram à nova residência.Não era só uma casa — era um território. Uma mansão ancestral, isolada nos limites da floresta proibida, onde o clã há gerações não ousava pisar sem permissão. Lá, o ar era mais denso. E o silêncio, mais antigo.Kael entregou as chaves a Narelle como quem oferecia uma coroa envenenada.“Esse será nosso novo lar. Seguro. Protegido. Vigiado.”Ela ergueu os olhos. “Vigiado” ? Não me ameace Kaell, já não basta a distância que terei que dirigir até a cidade todos os dias!“É preciso...Por mim. Pelos meus. E pelos olhos que você não precisa conhecer. Além do mais, distância não é problema para lobos”Não havia sorriso em sua voz. Nem calor. Kael estava cumprindo o prometido — protegendo o menino — mas havia anexado um contrato invisível, escrito em regras não ditas, nas entrelinhas do poder.O garoto foi levado ao segundo andar superior por duas cuidadoras ômegas. Discretas. Obedientes. Mas Narelle viu o modo como
A alvorada ainda não tinha tingido o céu, mas o clã nunca dormia por completo. Na ala dos julgamentos silenciosos, três dos cinco anciãos já estavam reunidos em círculo, o chão frio de pedra coberto por símbolos antigos, desenhados com sal negro e resina de âmbar. O cheiro era acre. Cerimônias como aquela não eram feitas há décadas — não desde a última ruptura.No centro, a mesa de roble estava vazia, aguardando Rhaek. Ele não atrasava. Mas, naquela madrugada, hesitava.No andar superior de sua casa, ele encarava o próprio reflexo. Tinha as mãos apoiadas na pia, o rosto molhado, as veias salientes no pescoço. A criança era dele. Isso era um fato. E o clã exigia que a linhagem fosse selada com a marca de Alfa.O problema era Narelle.Ela não apenas desafiava a tradição, como também tecia alianças silenciosas com rostos que antes a ignoravam. Sua presença em eventos sociais, sua imagem calculadamente pública, e o filho — aquele menino de olhos dourados — tornavam tudo mais perigoso. Ele
Último capítulo