Mundo ficciónIniciar sesiónApós uma traição mortal, Padgett, uma shifter de lobo, retorna cinco anos depois para encontrar seu mundo irreconhecível. Dada como morta, ela descobre que sua irmã mais nova está casada com seu ex-noivo, e uma guerra pelo poder do Supremo Alfa ameaça destruir todas as alcateias. Agora, Padge está entrelaçada com uma alcateia poderosa e seu Alfa temido, um homem envolto em mistérios e um dos poucos Lycans ainda vivo, Alfa Lorcan. Mas à medida que o vínculo entre eles se intensifica, Padge percebe que seu coração pode ser sua maior fraqueza. No meio da batalha pelo controle supremo, seus sentimentos confusos pelo Alfa Lorcan podem não apenas complicar seus planos de vingança, mas também revelar verdades que ambos não estão preparados para enfrentar. Em um jogo de poder e paixão, até onde Padge está disposta a ir para proteger aqueles que ama, e ela própria?
Leer másA cabana estava aquecida quando retornei no ápice da noite. O ar ali dentro tinha cheiro de madeira seca, lã antiga e fumaça recente. Familiar. Quase aconchegante. E o silêncio me caiu como um alerta.No interior, a lareira crepitava baixo, lançando sombras que dançavam pelas paredes. Ruídos ecoando do quarto me levaram diretamente para lá, apenas para me deparar em uma cena que me deixou em transe. Lorcan estava de costas, sem camisa, os músculos definidos brilhando sob a luz alaranjada das chamas.Mas não foi ele quem chamou minha atenção. Foi Sofia. Ajoelhada no chão.Organizando uma pilha de mantas sobre um colchão de firmeza duvidosa.— O que você está fazendo? — Minha pergunta foi direcionada à loira, que nem sequer se deu o trabalho de me olhar. — Isso deve servir, Alfa — disse ela, com a voz baixa e gentil. — É o melhor que consegui para improvisar algo confortável, o colchão foi emprestado por um dos lobos que estará de guarda essa noite, ele não vai precisar dele. — P
Durante quase toda a noite, Sofia me guiou por diferentes áreas da matilha com o mesmo entusiasmo que uma professora entediada faria durante uma excursão escolar. A cada parada, ela apresentava nomes, cargos e responsabilidades com um ar polido demais — e distante o suficiente para parecer um ensaio.Conhecemos três mulheres que lideravam a cozinha comunitária, com colheres de madeira presas às cinturas como adereços de batalha. Depois, fomos ao galpão de abastecimento, onde homens empilhavam sacos e caixas com precisão militar. Lá, os olhares demoraram demais em mim, não como se eu fosse suspeita, mas como se fosse uma distração.Um deles, ao notar minha presença, até tocou o companheiro ao lado e murmurou algo, antes de virar o rosto como se nada tivesse acontecido.As responsáveis pela lavanderia eram mais contidas. Mulheres silenciosas com mãos calejadas e olhos fundos pelo vapor e o trabalho repetitivo. Algumas me encararam com pena. Outras, com o tipo de julgamento que nem disfa
A temperatura da água divergia do inverno brutal do lado de fora. Quente, espessa, perfumada… como se zombasse da minha lembrança de frio, sujeira e abandono. O vapor nublava os espelhos e, por um instante, me senti outra.Ou talvez só mais uma versão partida de mim mesma.Na ilha não havia luxos, não havia encanamento, nem sabonetes cheirosos. Aquele banho, simples para qualquer outro, me arrancou lágrimas. Não pela água, mas porque eu finalmente aceitei que aquilo era real. A fuga, a dor, o luto. Eu não estava mais sonhando. Estava viva. Mesmo que ferida.Caminhei até um espelho de bordas bordô, passando os dedos pelo vidro embaçado até meu reflexo aparecer.Pálida. Olheiras escuras. Os olhos antes vivos estavam opacos. Os cabelos, crescidos até abaixo da cintura, eram um emaranhado seco e sem forma. Eu parecia alguém que sobreviveu — não alguém que vive.Mas, pelo menos, eu estava limpa.— Padgett?A lona se mexeu, e a voz de Sofia atravessou o vapor com precisão. Seu tom era educa
A tarde já se curvava em tons dourados quando a porta da cabana se abriu devagar. O cheiro das ervas me atingiu primeiro, forte, amargo, como folhas trituradas com sangue seco, me despertando de mais um sono profundo.A curandeira entrou silenciosa, envolta em peles claras, o capuz abaixado revelando cabelos grisalhos presos num coque simples.Ela mal me olhou.— Trouxe isso para seu tornozelo — disse, depositando uma pequena vasilha em cima da mesa. — E vim avisar que a cabana vai receber alguns patrulheiros esta noite, por algumas horas.Meu peito apertou. Parte de mim não queria sair, mas outra parte… precisava respirar outro ar além do da lareira. Mesmo que esse ar estivesse carregado de olhos julgadores.— Obrigada… — forcei um sorriso. — Você sempre serve à matilha como curandeira?Ela parou, virando o rosto em minha direção por breves segundos como se já sacasse minha tentativa de puxar assunto.— Desde antes do Lorcan nascer — respondeu, seca. — Tem algum outro lugar onde eu
PADGETT. Acordei com o cheiro.Era denso, quente… quase doce. Meu estômago se contorceu antes que eu tivesse qualquer pensamento consciente. Senti meu corpo reagir antes da mente: salivei, me remexi sob as cobertas grossas e, por um instante, não me lembrava onde estava.Então veio a lembrança do frio, do penhasco, dos braços de Lorcan me carregando. Meu corpo dolorido. O peso da verdade.Meu pai morto. Aiden no trono. E minha irmã… ao lado dele.Fechei os olhos com força, mas não adiantou. As imagens continuaram ali. Como gelo congelando os ossos. Me forcei a sentar, com cuidado. O calor da lareira tocava minha pele como um bálsamo, mas meu corpo inteiro doía, cada músculo rígido, cada articulação sensível. O tornozelo latejava como se ainda queimasse por dentro. A camisa que me cobria era larga, cheirava a madeira, couro e algo que lembrava floresta molhada. A camisa dele.Alfa Lorcan.Observei a cabana à minha volta com mais atenção. As paredes eram de madeira maciça. Uma estant
LORCAN.O ar gelado mal arrepiava minha pele, não me impedindo de continuar. Eu ainda sentia o calor recente da discussão e o caos que deixou para trás…Ela havia fugido.Dahlia tentou ir atrás, mas eu pedi que ficasse. Algo naquela fêmea, Padgett, me dizia que, se alguém podia alcançá-la, era eu.Eu não sabia explicar. Havia algo nela que despertava em mim um tipo estranho de atenção. Como se meu lobo reconhecesse alguma dor na forma como ela caminhava, como se arrastava pelo mundo.E ainda assim, cada segundo que passava sozinha naquela floresta me fazia andar mais rápido.Eu segui o cheiro dela entre os pinheiros altos, sentindo notas de sangue e medo misturadas com uma angústia antiga. Algo que não vinha do corpo… vinha da alma. O frio ficava mais cortante à medida que a trilha me levava a um terreno mais elevado.Então eu a vi.Sozinha. Nua. E de joelhos à beira do penhasco. Minha respiração falhou.Ela não me viu de imediato. Ou fingiu. Talvez já estivesse longe demais, perdida
Último capítulo