Rhaek era um homem de faro aguçado. Sua vida inteira fora moldada por instintos, leituras sutis e desconfianças que lhe salvaram de armadilhas incontáveis. Ainda assim, por mais que observasse Kalil, não havia clareza em sua mente. Algo no marroquino o atraía como um espelho longínquo: a postura, o modo firme de medir cada palavra, o silêncio que carregava mais força do que qualquer grito.
E, ao mesmo tempo, havia repulsa.
O passado de irmãos, vivido ao lado de Kael, trazia lembranças que ora lhe aqueciam, ora lhe corroíam as entranhas. E embora não conseguisse ligar Kalil diretamente a ele, sentia um chamado incômodo em seu íntimo — como se, diante daquele homem, as memórias insistissem em despertar.
Ele e Narelle permaneceram mais alguns dias em Marrakesh. Luxo, festas e jantares eram disfarces convenientes para manter os olhos atentos sobre o império recém-erguido por Kalil. Narelle, indiferente às suspeitas do marido, aproveitava os corredores do poder e os olhares que ainda atraí