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O cheiro do molho tomava conta da cozinha. Clara mexia a panela distraída, tentando disfarçar o nervosismo que crescia cada vez que olhava o relógio. As velas já estavam acesas, o vinho respirando, a mesa posta com o capricho que só ela tinha. Tudo estava do jeito que Arthur gostava.
Cinco anos de casamento. Cinco anos de um amor que ela acreditava ser o tipo que dura pra sempre.
Ele mandou mensagem dizendo que ainda estava resolvendo algo no escritório. “Chego em vinte minutos.”
Clara olhou o celular, suspirou. Tentou se convencer de que ele estava preso no trânsito, que talvez tivesse parado pra comprar flores, quem sabe uma sobremesa. Arthur sempre fazia essas pequenas surpresas. Ele era assim — atencioso, gentil, um marido que parecia saído de um sonho.
Mas aquela noite tinha algo estranho. Um silêncio incômodo dentro da casa, uma solidão que ela não sabia explicar.
Pra se distrair, abriu o W******p. No grupo das amigas, risadas, mensagens, fotos de jantares, drinks, um pouco de tudo. Até que uma imagem fez o coração dela parar por um instante. Era a Marina, uma das meninas da faculdade, jantando em um restaurante elegante. Até aí, tudo normal. Mas o problema era o restaurante.
Clara reconheceu o cenário de imediato — o La Terraza, o lugar que guardava cada lembrança boa do casal: o primeiro encontro, o pedido de casamento, as comemorações de aniversário.
E na foto, bem ao lado do prato de entrada, ela viu algo que fez o estômago revirar. A mão dele. O relógio prateado que ela mesma dera no último Natal.
Por alguns segundos, o mundo ficou em silêncio. O som do relógio da parede parecia distante, como se o tempo tivesse parado.
Clara não pensou. Apenas pegou a bolsa e as chaves. O vento lá fora estava frio, cortante. As luzes da cidade passavam rápidas pela janela do carro enquanto ela dirigia. O coração batia descompassado, as mãos tremiam no volante.
Quando estacionou em frente ao restaurante, ficou parada por um tempo, observando através do vidro.
Arthur.
Sorrindo.
Com outra mulher.
Ela estava de vermelho. Jovem, linda, com aquele tipo de leveza que só quem ainda não viveu o peso do amor tem.
Clara desceu do carro. Caminhou até a porta. Cada passo parecia ecoar dentro dela. O garçom tentou detê-la, mas ela apenas sorriu — um sorriso tenso, sem alma — e entrou.
Arthur demorou alguns segundos pra perceber. Quando o fez, o riso morreu no rosto dele.
Ela parou diante da mesa.
A outra mulher abaixou os olhos. Arthur ficou pálido, tentando se levantar.
Silêncio. O tipo de silêncio que grita.
Ela respirou fundo, sentiu as lágrimas queimarem por trás dos olhos, mas não deixou que caíssem.
Virou-se e foi embora, deixando pra trás o homem que jurou amá-la “até o fim”







