Mundo ficciónIniciar sesiónNo dia seguinte, Clara acordou com o coração batendo mais rápido do que o normal. A mensagem de Henrique ainda estava aberta na tela do celular. Leu mais uma vez, como quem precisa confirmar que aquilo era real. Ele lembrava dela. E queria vê-la.
Tomou banho com calma, prendeu o cabelo num coque simples e escolheu uma roupa que passava longe da tentativa de impressionar, mas ainda mostrava quem ela era — elegante, segura, de volta ao próprio eixo. No espelho, reparou que havia algo novo no olhar. Um brilho que não via há anos.
Quando chegou em frente ao prédio da Vascon, respirou fundo. A fachada moderna, o vidro refletindo o céu da manhã, tudo ali parecia diferente do mundo que ela deixara quando abandonou a carreira. Um segurança a recebeu com um sorriso e a encaminhou para a recepção.
Enquanto esperava o elevador, Clara se pegou rindo sozinha.
— O que você tá fazendo aqui, hein? — sussurrou pra si mesma.No décimo andar, a secretária a conduziu até a sala de Henrique. A porta estava entreaberta, e a voz dele veio primeiro, firme, segura, a mesma que ela lembrava, mas agora com mais peso, mais maturidade.
— Clara. — Ele se levantou assim que a viu, com aquele sorriso que começava nos olhos. — Eu realmente não esperava te reencontrar.
Ela riu, meio sem graça.
— Pois é. A vida tem dessas, né?
Henrique contornou a mesa e estendeu a mão. O toque dele foi firme, quente, familiar. Por um segundo, Clara sentiu o tempo se embaralhar. O passado e o presente se misturaram ali, num simples cumprimento.
— Você está igual — ele disse, observando-a com sinceridade. — Talvez um pouco mais… forte.
— E você… — ela hesitou, rindo — não tem mais nada daquele garoto desastrado da faculdade.
Henrique deu de ombros, brincando. — A vida obriga a gente a crescer. Mas confesso que tô feliz em ver que o tempo foi gentil com você.
Clara desviou o olhar, tentando disfarçar o rubor. Sentaram-se. Ele perguntou sobre os últimos anos, o que ela andava fazendo. Ela contou o básico, o casamento, o tempo fora do mercado, a vontade de recomeçar. Não falou da traição. Ainda não.
Henrique a ouviu com atenção genuína, sem interromper. Quando ela terminou, ele ficou em silêncio por um momento e depois disse:
— Eu lembro que, na faculdade, você era a melhor da turma. Tinha um olhar diferente pras coisas, sabia? Tipo… enxergar o que os outros não viam.— Faz tanto tempo, Henrique. Não sei se ainda tenho isso.
— Tem — ele respondeu de imediato, com firmeza. — Eu vejo nos seus olhos.
Ela sorriu, um sorriso pequeno, mas verdadeiro. E sentiu algo leve no peito, como se o ar ali dentro começasse a circular de novo. Henrique pegou um papel sobre a mesa.
— Estamos com uma vaga de supervisora de projetos. É exigente, mas acho que combina com você.— Não quero que pense que estou aqui pedindo um favor — ela disse, um pouco defensiva.
— E eu não estou oferecendo um. — Ele apoiou os cotovelos na mesa e a olhou nos olhos. — Estou convidando alguém que eu admiro pra fazer parte do meu time.
Clara segurou o olhar dele por alguns segundos
Aquele jeito seguro, tranquilo, sem promessas, sem segundas intenções que fazia falta na vida dela.— Tá bom — ela respondeu, sorrindo de leve. — Eu aceito conversar sobre isso.
Henrique sorriu de volta, satisfeito.
— Ótimo. Mas antes, me deixa te levar pra almoçar. Temos anos pra colocar em dia.Ela hesitou por um instante, mas acabou aceitando. No restaurante, o clima foi natural. Riram, lembraram histórias da faculdade, falaram de amigos que se perderam pelo caminho. E entre um café e outro, Clara percebeu que não lembrava a última vez em que se sentiu assim: leve.
Quando ele a deixou na porta de casa, o sol já começava a se pôr.
— Foi bom te ver de novo, Clara. — disse ele, com um sorriso que parecia sincero demais pra ser casual.— Foi bom pra mim também. — respondeu, sem conseguir disfarçar o olhar que durou um segundo a mais do que o necessário.
Entrou em casa com o coração batendo diferente. Arthur ainda não tinha chegado. E isso não a incomodou.
Ela deixou a bolsa no sofá, foi até a varanda e observou o céu laranja da tarde. Um novo capítulo estava começando — e, talvez, ela mesma estivesse escrevendo a melhor parte da própria história.







