POV ARTHUR
A foto apareceu no meio da tarde, como um soco vindo de onde ele menos esperava. Arthur estava com o notebook aberto, o e-mail do financeiro na tela, quando a notificação do celular vibrou. Ele olhou sem interesse, até reconhecer o rosto. Não o dele. O dela.
Clara.
Clara, com o cabelo preso, a pele iluminada pela luz da manhã, o sorriso contido e — Deus — o braço de Henrique envolvendo os ombros dela. A legenda era curta, quase insolente: “Algumas coisas não precisam de legenda.”
Arthur sentiu a garganta fechar, o estômago revirar. Ficou olhando por longos segundos, incapaz de desbloquear o celular. Como se, se não tocasse na tela, aquela imagem não existisse. Mas ela existia. E estava no mundo.
— Amor? — A voz de Luísa veio da cozinha, leve, distraída. — Você prefere massa ou salmão?
Ele não respondeu. A palavra “amor” o feriu como agulha. Repetiu mentalmente: casamento aberto. Foi o que ele propôs, não foi? A tal “liberdade” que ele jogou na mesa como quem troca carta mar