Carol Colins foi deixada em um orfanato com apenas alguns meses de vida, pelo próprio pai. A morte trágica de sua mãe durante o parto despertou em Fernando sentimentos obscuros em relação à filha — mesmo que o último desejo da mulher tenha sido claro: que ele cuidasse de Carol até o fim de seus dias. Cego pela dor, Fernando ignorou o pedido da esposa e ordenou que a bebê fosse entregue a um orfanato, sob os cuidados de uma pessoa de sua confiança. Anos se passaram. E, embora de longe, ele nunca deixou de observar Carol crescer. Com o tempo, a mágoa cedeu espaço ao arrependimento — e Fernando, agora com uma nova família, decidiu reparar seu erro. Sua esposa atual já tinha um filho: Christopher. E é ele quem Fernando escolhe para ajudá-lo a se reaproximar da filha. Mas o plano não contava com um detalhe inesperado: a paixão intensa entre Christopher e Carol. Enquanto o romance proibido cresce entre segredos, ressentimentos e desejos incontroláveis, um inimigo do passado retorna para cobrar o preço do que foi feito. E Carol, sem saber, está no centro dessa vingança.
Leer más—Espero que termine isso antes do fim do seu expediente. Caso contrário, vai ficar aqui, e eu vou garantir que você não receba hora extra. — diz o babaca do meu supervisor.
—Sim, senhor. —Muito bem. Assim que eu gosto: bem domesticada. — ele sorri com aquele ar debochado. É encantador conviver com alguém que foi rejeitado e nunca superou isso. Simplesmente adorável! Prazer, meu nome é Carol, tenho vinte e quatro anos e divido um apartamento com duas amigas. Trabalho em um hotel limpando privadas, enquanto podia estar por aí curtindo a vida. Mas calma, eu juro que não tô reclamando... só queria aproveitar um pouco da minha juventude, já que não aproveitei nem a infância, muito menos a adolescência. Não foi por castigo dos meus pais ou algo assim — na real, eu nem conheci meus pais. Fui deixada num orfanato com poucos meses de vida e só saí de lá há uns quatro anos. Acho uma crueldade abandonar uma criança desse jeito. Eles podiam ter evitado tudo desde o começo... ou simplesmente se cuidado, né? Se algum dia eu encontrasse os dois por aí, talvez fizesse o mesmo que fizeram comigo: viraria as costas. —Felipe? Terminei aqui. Posso ir? — pergunto, já tirando as luvas sujas da louça. —Claro. Você podia sair daqui e ir direto pra minha casa. O que acha? — ele sorri como se fosse sedutor. —Vai se foder, seu babaca! — respondo no automático. Ele agarra meu braço. O susto me faz recuar. Me vejo encurralada, entre ele e a parede. —Olha só, Carol... toma cuidado com o que fala, ou as coisas vão ficar bem ruins pra você. — ele se aproxima, tão perto que eu já sei qual pasta de dente ele usa. O empurro com força. Ele cai de bunda no chão, resmungando qualquer coisa que não faço questão de ouvir. Pego minhas coisas e saio rápido, o coração acelerado. Depois de trocar de roupa no vestiário, sigo distraída até a entrada/saída do hotel. E adivinha? Lá vem o Felipe de novo, com cara de quem quer matar alguém. Acelero o passo, querendo evitar mais uma cena, mas acabo esbarrando em alguém no saguão. —Caralho! Tá cega, mulher?! — berra o homem na minha frente. —Desculpa, senhor. Eu não te vi... — tento me justificar, meio sem graça. —Desculpa uma ova! — ele está nitidamente irritado. É aí que percebo: ele segura um copo de água. Sem pensar duas vezes, pego o copo da mão dele e despejo o conteúdo na cabeça do infeliz. —Você precisa esfriar essa cabeça, amorzinho. — digo com um sorrisinho debochado e jogo um beijinho no ar. Vejo a expressão dele mudar — uma mistura de raiva e choque. Fica ali parado, com uma carranca, e eu não espero pra ver o resto da reação. Me apresso e vou embora antes que comece a gritar de novo. --- Chegando em casa, encontro as meninas brigando por uma panela de brigadeiro. Aquilo me relaxa. —Oi, meninas! — sorrio, jogando minha bolsa no sofá. —Oi, Carol! — Bia é a primeira a responder. — Como foi o seu dia? —A mesma coisa de sempre. A diferença é que o babaca do Felipe tá se achando mais do que nunca. — suspiro. Isso me preocupa, mas não quero entrar nesse assunto agora. —Ah, e também esbarrei num cara mal-humorado... mas dei um jeitinho de esfriar a cabeça dele. —O que você fez? — Wanessa se aproxima, curiosa. —Nada demais. Só usei um copo de água gelada. — faço cara de paisagem. As duas caem na gargalhada. Acabo rindo junto, até que, de repente, Bia fica séria. —Carol? —Quê? —Você sabe se esse cara era hóspede do hotel? Me dá um frio na barriga. Eu não tinha pensado nisso. Um arrepio corre pela minha espinha. Um misto de medo e arrependimento me atinge em cheio. Se ele for mesmo um hóspede... e souber que eu trabalho lá... Ferrou. Eu tô muito fodida.EXTRA - JAKEDois dias após sair da prisão – Cemitério Municipal.A neblina da manhã ainda descansava sobre os túmulos quando desci do carro.A atendente tentou ser gentil, do tipo que pergunta se quer café ou flor. Eu recusei os dois com um olhar só.— Nome? — ela perguntou.— Anna Cooper.— Grau de parentesco?— Esposa.— Ela faleceu em...— Eu sei quando ela morreu.O sistema antigo dela não era tão rápido quanto minha memória.Ela achou.— Quadra 38, fileira C, número 12. É um jazigo simples.Perfeito.Porque o que restou dela nunca foi complexo.Segui o caminho sozinho.A grama estava úmida. O vento cortava, mas não entrava.Dentro de mim não havia mais clima.O túmulo era pequeno. Uma lápide simples, sem adornos.Só o nome.> Anna L. Cooper1987 — 2015“Aqui descansa a esperança de alguém.”Sem meu nome.Sem menção ao filho.A cova ao lado era menor. Ainda mais discreta.Só uma plaquinha metálica no chão, enferrujada, com o número de registro e uma palavra gravada:> “Infa
Fiquei um tempo ali, imóvel, abraçada ao próprio corpo como se pudesse conter tudo que estava se partindo dentro de mim.Depois de um tempo — talvez horas, talvez dias — ele voltou.Abriu a porta devagar, como se estivesse entrando num templo.E me olhou com aquele brilho perturbador nos olhos, misto de obsessão e ilusão.Fiz o que não queria fazer.Levantei os olhos, deixei minha voz mais baixa, mais contida.— Jake…Ele parou. Aquilo o pegou desprevenido.Eu nunca o chamei assim. Nunca com suavidade.Respirei fundo. O cheiro do lugar me enjoava. Mas precisei engolir.— Se você realmente quer que esse bebê viva...— Ele vai. — ele me cortou, firme.— Então precisa cuidar de mim. Eu preciso de comida de verdade. Água limpa. Um lugar mais… — minha voz falhou — mais seguro.Ele me observava com os olhos semicerrados. Desconfiado.— Você acha que pode me manipular?— Não. — menti. — Só tô tentando proteger o que você quer proteger. Você disse que isso é importante. Então me deixa chegar
*Carol* O som do zíper. A respiração dele. Quente. Irritante. Ritmada demais. Tem um grito no ar, mas não sei se fui eu. A parede é áspera nas minhas costas. Eu conto as rachaduras. Um. Dois. Três. "Vai acabar logo", ele diz. Ou talvez não diga. Talvez seja só a minha cabeça tentando preencher o silêncio. Meu corpo está aqui, mas... não está. É como se eu fosse só uma presença pairando acima de mim mesma. Assistindo tudo de longe. Afastada. Protegida. Uma lágrima escapa. Não é por dor. Nem por medo. É por perceber que eu não sei mais como chorar. Ele faz um som. Um ruído estranho, entre risada e ofego. Eu volto para a parede. Conto de novo. Um. Dois... A terceira rachadura sumiu. Ou talvez eu só tenha cansado de ver. Porque eu já estive aqui antes. Outras vezes. Outros sons. Outras rachaduras. A contagem perdeu o sentido. Os dias também. Não sei quantos se passaram desde o primeiro. Só sei que ele sempre volta. E eu se
Fazia quatro dias desde que ela sumiu. Quatro dias sem uma mensagem, sem um sinal. Apenas o silêncio. E os estilhaços do celular dela no chão da sala, como se ele tivesse feito questão de quebrar tudo que me ligava a ela. Entrei no quarto da Carol como se cada passo exigisse força demais. O ambiente ainda tinha o cheiro dela, o rastro do que éramos antes disso virar um inferno. No criado-mudo, o bilhete escrito com a raiva de quem esperou anos por essa chance. > “Ela pode me dar o que você me tirou.” Respirei fundo, tentando manter o controle. Mas não existia mais controle. Só raiva. E culpa. E a imagem dela com aquele maldito, em algum lugar que eu ainda não conseguia encontrar. O barulho da porta me tirou do transe. Erick entrou, com o celular na mão e o semblante tenso. — Conseguimos localizar uma movimentação em um armazém antigo, a 40 minutos daqui. As câmeras de segurança da rodovia captaram uma van branca compatível com a descrição que recebemos. E, antes que pergunte…
A consciência voltou aos poucos. Primeiro, o cheiro: desinfetante barato, mofado, metálico. Depois, o frio do chão tocando a pele dos meus braços. Tentava me mexer, mas algo apertava meus pulsos. Plástico. Abraçadeiras.Argh.Quando tentei levantar a cabeça, a nuca latejou. Tudo girava. Engoli seco e só então percebi a mordaça.Porra.O que aconteceu?A última coisa que lembrava era o Jake na minha sala. Sorriso gentil, aquele tom falso de quem quer parecer inofensivo. Ele entrou com aquela desculpa estúpida de "querer saber como eu estava". E eu, idiota, deixei. Sozinha. Sem as meninas. Frágil demais depois da última crise pra notar que alguma coisa ali não batia.A pergunta que tinha martelado minha cabeça — como ele sabia onde eu morava — agora tinha uma resposta óbvia. Ele sabia tudo. Sempre soube. Estava esperando a oportunidade certa.E eu dei a ele.As mãos formigavam presas nas costas. Meu corpo começava a doer. Tentei me mover outra vez, e dessa vez ouvi o arrastar do que par
O prédio estava quieto demais. Quando cheguei ao andar dela, algo dentro de mim se retesou. Um instinto bruto, primitivo, que me avisava que algo estava fora do lugar. E estava. A porta do apartamento estava encostada. Sem chave, sem tranca, sem aviso. Meu estômago virou. Empurrei devagar, cada centímetro da abertura me sufocando mais do que o anterior. O interior estava silencioso, impecável. Como se tivesse sido preparado para uma revista, não para a vida. — Carol? — chamei, com a voz falha. Nenhuma resposta. Entrei. A sala estava perfeitamente arrumada. Almofadas simetricamente dispostas. Nada fora do lugar. Nada vivo. Nenhum sinal de movimento recente. Nenhum som. Nenhum cheiro de café ou perfume no ar. Apenas o silêncio — e a tensão. Foi quando vi. O celular dela. Estava no chão, ao lado do sofá. Estilhaçado. A tela completamente destruída, como se tivesse sido arremessado com força. Me abaixei devagar, sentindo a pulsação martelar nos meus ouvidos. Peguei o aparelho n
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