*Carol*
O som do zíper.
A respiração dele. Quente. Irritante.
Ritmada demais.
Tem um grito no ar, mas não sei se fui eu.
A parede é áspera nas minhas costas.
Eu conto as rachaduras.
Um. Dois. Três.
"Vai acabar logo", ele diz.
Ou talvez não diga.
Talvez seja só a minha cabeça tentando preencher o silêncio.
Meu corpo está aqui, mas... não está.
É como se eu fosse só uma presença pairando acima de mim mesma.
Assistindo tudo de longe.
Afastada.
Protegida.
Uma lágrima escapa.
Não é por dor.
Nem por medo.
É por perceber que eu não sei mais como chorar.
Ele faz um som.
Um ruído estranho, entre risada e ofego.
Eu volto para a parede.
Conto de novo.
Um. Dois...
A terceira rachadura sumiu.
Ou talvez eu só tenha cansado de ver.
Porque eu já estive aqui antes.
Outras vezes. Outros sons.
Outras rachaduras.
A contagem perdeu o sentido.
Os dias também.
Não sei quantos se passaram desde o primeiro.
Só sei que ele sempre volta.
E eu se