Mundo de ficçãoIniciar sessãoAlgumas alianças são seladas com promessas. Outras, com sangue, mentiras... e um casamento civil.. Angela sempre foi a garota perfeita para Rafael, linda, leal e cúmplice de todos os seus planos, até mesmo o mais ambicioso deles, que envolve um casamento estratégico para herdar metade da fortuna do tio, o poderoso e temido Lúcio Lancaster. Apaixonada desde os tempos da faculdade, Angela aceita se casar com Rafael no civil e comemora ao seu lado em uma luxuosa festa de hotel. Tudo parece perfeito… até que Rafael desaparece misteriosamente no meio da celebração.
Ler maisCapítulo 1 – Uma Noiva Sortuda
Naquela noite, Ângela aprendeu que o amor não mata de repente — ele envenena aos poucos, com promessas doces e sorrisos que escondem segredos.
Pov, angela.
Duas horas antes
Os flashes estouravam como fogos discretos, iluminando cada passo que eu dava pelo salão. O dia, que começara nublado, agora brilhava sob as luzes douradas do lugar luxuoso que abafava qualquer lembrança de mundo real.
A música era suave, as taças tilintavam, e o perfume das flores se misturava ao cheiro doce do meu cabelo recém-arrumado.
Meu vestido branco se ajustava ao corpo como se tivesse sido costurado pela própria vaidade. Depois de nosso casamento no civil, estávamos ali, comemorando o começo de uma nova vida.O meu dia.
O dia em que tudo o que sonhei parecia, enfim, real, ao menos é assim que vejo, mesmo que para Rafael não significa só isso, mas seria benéfico para nos dois.Rafael me puxou pela cintura e sussurrou no meu ouvido.
— Você está linda.
Seu sorriso era o mesmo de sempre, fácil, encantador, e perigoso o suficiente para me fazer esquecer de respirar.
Sorri, encostando a cabeça em seu ombro. Rafael sabia ser doce quando queria.Ele era meu namorado desde o final do ensino médio. O primeiro beijo, o primeiro plano para o futuro.
E também meu cúmplice… inclusive no que estávamos prestes a fazer.— Todos estão dizendo que eu sou sortuda — murmurei, tentando disfarçar o nervosismo.
— Eles estão certos — respondeu, beijando meu ombro nu. — Mas eu sou o mais sortudo aqui. Tenho uma mulher fascinante ao meu lado.
As pessoas nos observavam com sorrisos admirados, afinal fazíamos um ótimo par.
Ele fazia questão de mostrar ao mundo que me tinha nos braços, e que me escolhera. E eu... eu acreditava nele. Não era o amor ideal e ingênuo dos filmes, mas aquele tipo que nasce da cumplicidade, dos segredos compartilhados que ninguém mais poderia saber além de mim.Até que algo quebrou o encanto.
— Seu tio está nos observando de novo — comentei entre dentes, rindo sem graça o olhar dele as vezes fazia meu corpo todo travar como se ele perguntasse o que eu estava fazendo. — Acha que ele está desconfiando?
Rafael seguiu meu olhar.
Do outro lado do salão, sentado em uma poltrona imponente, estava Lúcio, o tio dele. Um homem cuja simples presença fazia o ar ficar mais denso, seu olhar, sua aparência impecável, ele chegava a se destacar até mesmo mais que Rafael, pela sua aparência e também por tudo que ele era e representava ali naquela festa.Ele tinha o olhar de quem já teve o mundo nas mãos, mas agora estava tudo escorregando pela borda, menos o orgulho.
O rosto pálido denunciava a doença que o consumia, mas os olhos... ah, os olhos continuavam vivos. Sombrio. Afiado. Quase predatório em minha direção.— É só a cara de quem está prestes a perder metade do que tem — Rafael brincou, mordendo o lábio e me puxando mais perto como se quisesse marcar seu território diante do olhar de seu tio. — E a culpa é sua.
— Minha? — perguntei, tentando rir, mesmo desconfortável com o olhar fixo do homem sobre nós.
— Você é irresistível — ele respondeu. — E agora é oficial. Casar com você foi a melhor decisão da minha vida. Prometo que não vai se arrepender. Seu futuro está garantido comigo.
A promessa soava bonita demais para ser inocente e eu sabia disso.
Aproximei-me um pouco, respondendo baixo.
— Eu sei o quanto isso significa pra você. E quero te ver conseguir o que é seu por direito, e também sei que me ama.Rafael era o herdeiro natural das empresas da família, mas o pai dele havia deixado tudo para o irmão mais novo, o mesmo que agora definhava diante de nós e continuava duro sem querer ceder nada a Rafael.
Nosso casamento antecipado não era apenas por amor. Era também uma jogada. Um passo necessário.Eu não me casara por dinheiro, mas entendia o peso do que estávamos fazendo.
E, no fundo, acreditava que o amor podia resistir até mesmo a uma transação como aquela.Mas o olhar de Lúcio continuava cravado em mim.
Era como se ele soubesse. Como se enxergasse através do véu, do vestido, do disfarce.Lúcio sempre fora um homem enigmático.
Desde a primeira vez que o vi, há quatro anos, quando eu tinha apenas dezoito, ele me causara a mesma sensação, um medo inexplicável ao mesmo tempo que minha atenção me mantinha presa na presença dele. Mesmo agora, fragilizado, ainda exalava autoridade. Ainda parecia o tipo de homem que não se rende nem à morte.E eu temia que soubesse demais, ainda mais com tudo que estava envolvido nesse casamento.
— Rafael... é desconfortável ele nos observando assim eu quero ir para outra parte da festa. — murmurei. — Ainda mais com aqueles seguranças parados ao lado dele seu braço direito, eu nunca gostei daquele homem.
Mas Rafael não respondeu.
O celular em sua mão vibrou, e a expressão em seu rosto mudou, a alegria desapareceu num instante. Ele atendeu rapidamente, sem olhar para mim.— Preciso atender uma ligação de negócios — disse, sem disfarçar o incômodo. — Volto em vinte minutos. Continue sorrindo e sendo perfeita, como sempre, ate que eu volte para estar ao seu lado.
Beijou minha testa e se afastou, entrando no elevador que o levaria até a suíte presidencial que havíamos reservado.
Continuei sorrindo.
Aceitei parabéns, bebi mais uma taça, e ri das piadas sem graça dos acionistas. Mas por dentro, algo se movia com um incomodo que me sufocou os pulmões. Um pressentimento frio, como se o chão sob meus pés estivesse prestes a rachar.— Sabe onde está o Rafael? — perguntou um dos convidados, aproximando-se. — Ele ficou de me apresentar ao presidente da empresa, não sei como chegar ate Lucios e conseguir falar com ele.
— ele disse que tinha algo importante para resolver, mas já estaria de volta.
— Não pode me apresenta-lo você mesma? — gelei com o pedido, eu sorri sem jeito, eu nunca tinha direcionado uma palavra a lúcios, ainda mais depois do incidente a quatro anos atras, mesmo com tanto tempo, eu ainda tinha tanto constrangimento, por isso recusei.
Olhei o relógio.
Vinte minutos haviam se passado.— Ele deve estar na suíte — respondi, disfarçando a inquietação. — Vou ver se já terminou a ligação.
Desculpei-me, ajeitei o vestido e caminhei até o elevador.
A música e os risos do salão ficaram para trás. Meu coração batia rápido, como se quisesse me avisar de algo.O elevador subiu em silêncio, e por um instante, tudo pareceu parado.
A respiração, o tempo, o ar.Eu só não sabia ainda que o casamento dos meus sonhos estava prestes a acabar, antes mesmo de começar minha vida com Rafael.
Cap.166Ângela seguiu até a cozinha e encontrou a mulher sentada, enquanto os empregados a serviam. Ela mal sabia dizer do que gostava ou não; parecia que nada que era posto na mesa lhe era familiar.Assim que viu Ângela, afastou-se da comida como se estivesse sendo proibida de tocar.— Tia... desde que você foi embora, se casou cedo... a gente não tinha te visto mais. Que saudades! — Ângela disse, indo em sua direção e a abraçando.— Obrigada por me receberem... eu não sabia para onde ir.— Você não precisa ter medo. Quero que more comigo. Vou te oferecer um lar, segurança e, se você quiser, pode me ajudar com os trigêmeos. Preciso de alguém que cuide deles comigo, e eu quero que você tenha uma chance de recomeço também ao meu lado. O que acha?Helena engoliu em seco, os olhos marejados.— Você... faria isso por mim? — sua voz saiu quase sussurrada.— Sim. — Ângela sorriu, sincera. — Todo mundo merece uma segunda chance. Você vai estar segura aqui.Ângela se sentou próxima a ela, olh
Cap.1652 meses depois.Lúcios e Ângela estavam finalmente casados, e agora parecia que as coisas estavam retomando ao seu lugar, ou indo por novos caminhos, já que tudo precisava se realinhar e se reorganizar.Abigail havia deixado de lado os projetos que Ângela também desistira, e agora trabalhava como professora de meio período na faculdade. Mesmo que apenas para ocupar o tempo, parecia que, aos poucos, as determinações de cada um já não faziam mais sentido.Enquanto a aula não começava, ela estava sentada no pátio, conversando com Júnior.— Que engraçado, não é? De repente todas as nossas obstinações se tornaram nada quando Kellen morreu. Quem imaginaria que as nossas ambições estavam dependendo dela para continuar?— Verdade, eu também não vejo motivo para continuar com as pesquisas. Me sinto egoísta por isso, porque devíamos continuar e salvar pessoas.— Mas soube que Lúcios não abriu mão. Ele disse que contratou novos especialistas e que as portas estariam sempre abertas, já qu
Cap.164Arthur pegou o tablet que trazia consigo. Um simples toque fez a tela acender, revelando imagens que Ângela não reconheceu de imediato. Até que o coração dela parou por um instante: era o dia do parto.O vídeo mostrava a correria dos médicos, os equipamentos sendo preparados e, no centro da sala, ela mesma, desacordada e em estado crítico.O som da gravação trazia ordens rápidas, urgentes, e um detalhe a fez prender a respiração: Lúcios. Ela o reconheceu no processo da cirurgia; viu-o cuidando dela, viu o vídeo dele e soube que foi ele quem salvou as crianças e fez o parto acontecer com segurança, sem arredar o pé, os olhos fixos nela como se sua vida dependesse disso.Ângela levou a mão à boca, trêmula.— N-não… — murmurou, em choque. — Pai… não foi o senhor?Arthur a fitou, sério, sem desviar o olhar.— Eu não estava apto para realizar a cirurgia. Se tivesse tentado… teria perdido você e as crianças. — A voz dele vacilou por um instante. — Foi Lúcios quem a salvou. Ele… e ap
Cap.163O dia seguinte amanheceu cinzento, o céu carregado parecia chorar junto com todos. O caixão de Kellen, fechado, repousava diante do pequeno cortejo. Flores brancas o cercavam, mas nada era capaz de aliviar a sensação de tragédia que pairava no ar.Ângela mal conseguia ficar em pé. Os olhos marejados, a pele pálida, o corpo curvado como se todo o peso da dor tivesse se alojado em suas costas.Abigail e Júnior a amparavam de cada lado, sustentando a amiga que parecia desabar a cada passo.Kaedra se aproximou lentamente. O semblante que sempre fora firme agora estava desfeito.O choro vinha em soluços sufocados, o orgulho que sempre a acompanhava tinha desaparecido.Ao se ajoelhar diante do túmulo, a mulher que parecia inabalável se rendeu ao peso da culpa.— Me perdoa, minha filha… — murmurou, com a testa encostada na pedra fria. — Me perdoa pelas vezes que não disse que te amava. Me perdoa por ter escolhido caminhos errados acreditando que te salvaria… quando só te machuquei at
Cap.162Kaedra atravessava o portão principal do hospital apressada, os passos firmes, mas o coração inquieto. Mal teve tempo de respirar quando Miquelangelo surgiu diante dela, o rosto transtornado.— É sua culpa! — gritou, a voz embargada pela fúria e pela dor. — Se não fosse você, Ângela e Kellen nunca teriam sido atacadas! Elas quase foram mortas, Kaedra! Ângela levou uma facada! Você sabe o quanto isso é grave?Kaedra parou, o corpo rígido. O olhar dela vacilou, perdida entre orgulho e culpa.— Eu… eu não sabia que isso aconteceria — murmurou, sem forças. — Sinto muito, Miquelangelo… eu juro que sinto muito.As palavras mal haviam saído quando um som seco, terrível, ecoou alguns metros atrás deles. Algo havia caído com violência, atraindo o olhar dos dois.Miquelangelo foi o primeiro a ver. Não precisou se aproximar para reconhecer. O rosto dele empalideceu instantaneamente, as mãos subiram para cobrir a boca. Ele recuou, cambaleando, balbuciando como se não quisesse acreditar.—
Cap.161O sol entrava timidamente pelas janelas do hospital, refletindo nas paredes brancas e esterilizadas.Ângela abriu os olhos lentamente, sentindo a cabeça pesada, mas logo percebeu que não estava mais em casa, e sim em um quarto de hospital. Não tinha ideia de quando foi socorrida ou do que aconteceu depois. Seu lado doía de forma irritante, a ponto de mal conseguir se mover. Seus olhos se arregalaram ao se lembrar de Kellen, mas suspirou aliviada ao vê-la ali. Ainda assim, a dor em seu corpo a lembrava de que nada do que aconteceu tinha sido mentira; a cena de Kellen e toda aquela loucura estava gravada em sua mente.Ao seu lado, Kellen respirava de forma irregular, os olhos arregalados e molhados de lágrimas.— Kellen… — Ângela chamou baixinho, segurando a mão dela ao se esticar até a cama ao lado. — Está acordada.Kellen se virou, quase tremendo, e encarou a irmã com um olhar que misturava medo, culpa e desespero.Cada lembrança da noite anterior parecia gravada em sua mente
Último capítulo