Capítulo 6
Manha seguinte pos acontecimentos.
A casa estava silenciosa, como se o próprio ar estivesse evitando tocar no nome dela.
Rafael encarava a xícara de café em mãos, ainda vestido com a mesma camisa amarrotada da noite anterior a que havia usado para substituir a que estava suja e encharcada. A mãe dele, Lívia, entrou na sala apressada, segurando o celular com força.
— Você já tentou ligar pra ela hoje? — ela perguntou, com a voz aflita, como se estivesse tentando evitar entrar em pânico.
Rafael balançou a cabeça com um meio sorriso forçado.
— Mãe... Angela nos abandonou. Fugiu. É isso. Não tem mais o que pensar.
Lívia parou, incrédula.
— Fugiu? Como assim, Rafael? Vocês estavam casados! Tudo estava pronto, acertado. Ela sabia o que estava em jogo! Hoje era para você estar começando a tomar posse dos bens que são seus por direito! — ela bateu o pé com força.
Ele deu de ombros, olhando para a janela como se esperasse vê-la surgindo de algum canto do jardim, ao mesmo tempo que sentiu receio dos próprios pensamentos.
— Pois é... e mesmo assim, sumiu. No pior momento. No dia seguinte à assinatura dos papéis. Como se tudo não tivesse significado nada pra ela, não sei como meu tio vai reagir quanto a isso...
— Isso é impossível — Lívia se irritou, batendo o celular na mesa. — Angela não faria isso! Ela aceitou esse acordo por você. Por todos nós! Ela sempre se mostrou sincera, a não ser... — a voz dela sumiu desconfiada.
O silêncio foi quebrado pela entrada de Kellen, com os cabelos impecavelmente presos e um ar ensaiado de preocupação.
— Eu sempre desconfiei... — murmurou ela. — Angela nunca foi estável. Tinha um ar meio... impulsivo.
Lívia virou-se para ela, os olhos se estreitando.
— E você? Você não sabe de nada? Não ouviu, não viu nada? Você estava lá, Kellen, como você esta aqui hoje, mas sua irmã desapareceu? Vocês dois não estão aprontando, certo?
Kellen ergueu as sobrancelhas, fingindo indignação.
— Eu já disse, não vi nem ouvi nada. Só sei que ela estava estranha ultimamente. Pensando demais... talvez tenha se arrependido.
— Isso não faz o mínimo do sentido já que quem ganharia mais com isso seria ela, porque despareceria assim? Não tem a mínima logica!
Um silêncio constrangedor tomou conta da sala.
Foi então que a voz grave e fria de Lúcios se impôs do alto da escada.
— Ganhar o quê e quem desapareceu?
Todos se viraram ao mesmo tempo. Lúcios, com sua presença imponente mesmo na cadeira de rodas, os encarava com os olhos semicerrados. Tinha acabado de chegar com uma expressão cansada ainda assim elegante com seus trajes impecáveis como sempre mesmo em uma cadeira de rodas.
— Eu ouvi você dizer, Lívia... estávamos prestes a ganhar, Ganhar o quê?
O coração de Rafael disparou. Lívia engoliu em seco.
— É... é modo de dizer, Lúcios — tentou justificar, dando um passo à frente. — Você sabe, estávamos felizes pelo casamento... tudo isso era uma grande conquista para a família.
Lúcios arqueou uma sobrancelha, sem desviar o olhar de Rafael.
— Que curioso. Porque, pra mim, parecia que a única pessoa que conquistou alguma coisa... foi aquela mulher repudiável, já que ela acabou de entrar para a nossa família.
— tio! Ela está desaparecida, supostamente ela deve ter fugido, eu... parece que ela me enganou.
— Você tem provas, afinal se ela fez significa que metade da herança ainda não poder ir para suas mãos já que o acordo não foi cumprido.
— espere tio, por favor! — Rafael suplicou.
O silêncio se instalou mais uma vez, dessa vez carregado de culpa, medo e suspeita, lúcios apenas o encarou com um sorriso de deboche e se virou na intenção de ir embora.
O som das botas de Rafael contra o piso de mármore ecoava como o de um réu se aproximando do juiz. Ele se aproximou devagar, os ombros curvados, a cabeça baixa. Diante dele, Lúcios, impassível em sua cadeira de rodas, observava-o como um predador entediado diante de uma presa fácil.
— O que você quer?
— você tem que cumprir a sua palavra, você disse que depois do casamento eu poderia ser herdeiro...
— Calado! O que acha que eu sou para você? — Lucio asseverou com um olhar frio para o homem ao seu lado, seu assistente que estava contigo todos os momentos.
Um sujeito magro com olhar afiado, entendeu o comando com perfeição. Sem hesitar, ergueu a bengala e acertou com precisão cruel a panturrilha de Rafael, que caiu de joelhos com um gemido abafado.
— Você acha que eu sou cego, Rafael? — a voz de Lúcios era baixa, mas cortante. — Acha que não sei dos produtos desviados, dos números alterados, das encomendas fantasmas?