Quando o elevador se abriu, o silêncio do corredor era quase cerimonial. As portas fechadas, a iluminação baixa e a distância entre o elevador e a suíte de Rafael pareciam aumentar a cada passo. Meu coração batia em um ritmo estranho — não era ansiedade, era algo mais denso, mais grave.
Passei o cartão na porta. O clique seco me deu permissão para entrar no desconhecido.
A luz do quarto estava fraca, com um tom avermelhado que dançava suavemente sobre os móveis luxuosos. O aroma de velas aromáticas preenchia o ar — doce e intenso demais para algo tão simples como uma ligação de negócios.
Caminhei lentamente. Na mesinha de centro, repousava um pequeno bilhete, escrito com pressa e um romantismo ensaiado.
“Preparado para você, meu amor. Um ano juntos.”
Sorri... por um segundo. Depois, meu estômago se revirou.
Um ano?
Li de novo. “Um ano.”
— A gente tá junto há quatro anos! — murmurei, a voz confusa, quase inaudível, enquanto o desconforto começava a se espalhar pelo meu corpo como um arrepio de gelo. Como ele podia se confundir tanto? Aquilo não era uma simples confusão, eu podia sentir.
Meus saltos tocaram o tapete felpudo com passos mais hesitantes agora. A porta do quarto estava entreaberta, uma fresta escura que me chamava. Dali, uma luz bruxuleava, estranha, e… vozes. Risos. Ofegos. Meu coração começou a martelar no peito.
Empurrei a porta devagar, com a ponta dos dedos, e o que vi me atingiu como um soco no estômago.
Rafael.
Ali, na nossa cama.
Sua camisa aberta, desabotoada, revelando um pedaço da pele.
Seu corpo colado ao de uma mulher nua em cima dele.
Gemendo baixo, emaranhados nos lençóis de cetim branco da nossa suíte de núpcias. A suíte que era nossa.
Ela se virou lentamente, como se sentisse minha presença. O cabelo castanho-escuro escorreu como uma cortina, revelando o rosto. Os olhos… eram os meus. Quase. Só um pouco mais escuros, um brilho familiar que fez meu estômago embrulhar. E então, eu a reconheci.
— Kellen?!
Minha voz saiu como um trovão, um rugido rasgado pelo choque, pela traição e por um nojo avassalador que subia pela minha garganta. O ar no quarto parecia ficar pesado, e o mundo inteiro se reduziu àquela imagem grotesca à minha frente.
Eles congelaram. Kellen me olhou por cima do ombro com um sorrisinho entediado, como quem tivesse sido pega com a colher de prata na boca — e, ainda assim, não ligasse. Rafael empalideceu, tirando Kellen — minha irmã mais velha — de cima dele como quem afasta um objeto qualquer.
— Ângela... Ângela, espera, não é o que parece!
— Você tá me traindo com a minha irmã, seu desgraçado! — gritei, o coração disparado, a voz falhando de raiva e incredulidade.
— Me escuta, por favor...! — ele pediu, se levantando, assustado.
— Eu escutei tudo o que precisava. — Cruzei os braços, firme, controlando a explosão que queria sair. — Você não vai sair dessa. Eu vou cancelar tudo. Tudo! Vou contar pro seu tio. Vou expor cada fraude, cada centavo que você desviou, cada acordo sujo que assinou pelas costas dele enquanto fingia ser o sobrinho perfeito.
Rafael se levantou desajeitado, tropeçando no lençol. Se ajoelhou no chão como um idiota desesperado.
— Ângela, por favor. Me perdoa. Isso não significa nada. Foi um erro, um momento...
— Um erro de um ano? — cuspi a pergunta com nojo. — É esse tempo, não é? É isso mesmo que está no bilhete? Você está me enganando todo esse tempo com a minha irmã?
Ele hesitou. Encarou Kellen com dureza e se voltou para mim, mas não respondeu.
— Responde! — gritei, os olhos marejando. — Você sempre disse que me amava... em nenhum momento eu deixei de comparecer como mulher... mesmo quando meus planos eram me casar virgem, você me persuadiu... e agora... você estava me enganando?
Rafael abaixou a cabeça e, no silêncio dele, Kellen bufou.
— Ai, Ângela... você sempre se leva tão a sério — disse ela, debochada, enrolada no lençol como se estivesse em um spa. — Se você não fosse tão previsível, talvez ele não tivesse procurado outra. Ninguém precisa ser tão meticulosa e certinha. Se bem que... você não é tão certinha assim, levando em conta que até mesmo quase seduziu o tio dele quando tinha dezoito anos, a ponto de ser banida da mansão indeterminadamente. Mas adivinha? Eu sempre vou lá. — Kellen riu com deboche.
Virei o rosto para ela, com nojo e pena.
— Você é patética.
— E você é cega — ela rebateu, sorrindo. — Sempre foi.
Eu me virei para sair, tremendo de ódio.
— Estou indo direto até o seu tio. Ele vai adorar saber que o sobrinho que quase nomeou como herdeiro é só mais um canalha corrupto e traidor. E que usou a própria esposa como fachada.
Mas antes que eu alcançasse a porta, um impacto brutal atingiu a parte de trás da minha cabeça e eu perdi o equilíbrio.