— Por favor! — Imploro, praticamente me jogando aos seus pés. — Você não pode me tratar assim, não depois de saber que estou grávida. Ele se inclina no meu espaço, tão perto que posso sentir o cheiro das notas picantes de sua colônia. Então, um sorriso sombrio sai por seus lábios. — E você quer que eu acredite que você, uma pobre menina rica, era inocente — Ele faz uma pausa dramática e sorri como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada — E virgem? Você não parecia virgem quando eu te fodi! Ele da novamente aquele sorriso que me dá nos nervos. — Eu não quero essa coisa, e eu tenho certeza que você também não. Arrume uma clínica e de um jeito nisso. Não que eu acredite que seja meu, de verdade. Uma virgem não age como você agiu naquela noite, aliás, sinceramente eu nem me lembro, mas se tem alguma coisa que me recordo é que é impossível eu foder uma mulher que pareça indisposta, inocente ou virgem. Eu sinceramente ignoro tudo oque ele diz sobre mim e foco apenas no meu bebê. “Essa coisa” ele acabou de chamar meu bebê de “coisa” — Eu odeio você. — Minha voz não é um sussurro. — Se você acha que algum dia poderá voltar atrás dessa decisão está muito enganado. Você pode enfiar esse dinheiro no seu rabo seu filho da puta. — Digo com toda força que tem em mim. Sua mandíbula apertou e ele parecia querer quebrar meu pescoço, como a primeira vez. Mas agora algo brilhou em seu olhar, algo diferente. Ele estava incerto das acusações que me fez, e o pior de tudo. Ele sabia que eu estava falando sério. Ele sabia que eu nunca mais voltaria atrás.
Leer másOnze anos antes
Sentei na beirada da cama do meu pai. O homem, antes ativo, agora vivia na maior parte do tempo sedado. Eu, de verdade, preferia assim. Ao menos ele não me assustava, como quando começava a gemer e gritar à noite por causa das dores. Ele usava uma máscara de oxigênio para ajudar a respiração, seus braços estavam ligados ao acesso que levava a seu corpo a medicação; havia também monitores que apitavam a todo o momento. Eu ainda não entendo muito bem isso tudo, o que sei é que ele está muito doente.— Eu sei que você vai ficar bem, papai — disse, enquanto beijava o seurosto.Peguei meu ursinho Teddy e deitei ao seu lado, encolhida. Eu vestia um blusão de bolinhas que ia até a canela, meus cabelos estavam na altura das costas. Eu adormeci por um momento, e acordei com sua tosse seca.Não.Não.Não.Eu não podia suportar aquilo, ele claramente sentia dor. Onde estava Clarissa? Ela costumava ser uma enfermeira carinhosa, mas eu via claramente que ela não tinha mais o mesmo cuidado com meu pai. “Talvez, ela tenha desistido” pensei, enquanto chorava baixinho à beira da cama. Senti sua mão que, lentamente, se apoiou nas minhas costas.— Nicole? — disse com a voz rouca, soltando outra tosse.— Sim, papai. — Levantei lentamente e sentei ao seu lado.— Não chore, pequena — ele disse com dificuldade. — Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, eu te amo tanto.Fechei meus olhos quando papai passou a mão pelo meu rosto, limpando as minhas lágrimas.— Você merece todo amor do mundo. — Tosse. — Um dia alguém vai te amar tanto. E vai ser tão perfeito... Tão puro. — Tosse.— Por favor, papai, pare de falar, não está te fazendo bem.— Sempre me faz bem, estar com você. Eu sinto muito por não ter estado mais tempo.— Tá tudo bem. — Tentei fingir um sorriso para deixá-lo mais confortável.— Não está, filha. Eu sinto muito... Eu sinto muito. — Ele se agitou e, em seguida, engasgou ferozmente. O monitor começou a apitar.Eu me levantei correndo para ir atrás de Clarissa. Quando desci da cama, dei de cara com ela, que passou por mim com pressa e começou a mexer na medicação. Foi como se o tempo passasse em câmera lenta. Eu a via gritando, mas não conseguia entender nada. Tentei, sair mas parecia que meus pés estavam agarrados ao chão. Meu rosto gelou. Meu olho vagou novamente para o meu pai. Ele estava branco, seus olhos abertos, e tinha sangue na boca. Papai começou a tossir sangue.— O que está acontecendo? Papai! — gritei, enquanto chorava.— Tirem ela daqui! Tirem ela daqui!Não lembro quem me tirou de lá, se adormeci ou desmaiei. Eu apenas não lembro.Acordei de manhã e estava com a mesma roupa de antes. Minha cabeça doía. Olhei para a cômoda, havia uma roupa preta arrumada em cima. Levantei e fui direto para o quarto do meu pai. Empurrei a porta. Estava tudo limpo. Ele não estava lá. A cama estava devidamente arrumada com um lençol branco. Não havia mais monitores, nada. O cheiro de alvejante era tão forte que ardeu meu nariz. Dei alguns passos para trás e esbarrei com uma mulher de uns vinte e cinco anos, loira, bonita.— Olá, sou Summer — ela disse enquanto estendia a mão para mim.— Olá, Summer — disse com estranheza. Não apertei a sua mão. — Onde está o papai? — Ela fechou a boca em linha reta, em uma cara de poucos amigos, e depois sorriu. — Onde está a Clarissa? — disse, olhando em volta, à sua procura.— Nós não vamos mais precisar dos seus cuidados.— Mas ela estava cuidando do meu pai.— Seu pai também não vai precisar de mais cuidados.— Por quê? Onde está o meu pai?— Você está muito agitada, mocinha. Eu preciso que você se troque. Nós precisamos sair — disse de forma gentil, porém, não dando espaço para discussão.Saí, entrei no meu quarto e me troquei.Horas depois, andávamos por um jardim que eu não conhecia. Estava achando estranho. Onde estavam todos? Onde estava Madeleine? Eu, Mateus e Summer seguimos até um senhor desconhecido. Ele lia palavras que eu não tinha muita compreensão. Sentia-me agoniada, sem saber o motivo. Meu coração começou a doer. Eu só queria ir embora.Senti mãos geladas apoiando nos meus ombros. Olhei para cima e Summer estava lá, com o mesmo sorriso aconchegante.— Sinto muito, querida, está na hora de dizer adeus.Olhei para ela, era óbvio que algo acontecera com papai, mas por que ninguém dizia nada? Ela pegou minha mão. Eu instintivamente não quis ir, aquilo não parecia bom. Ela me puxou e eu neguei com a cabeça.— Vamos, querida, por favor! — Ela me encarou.Desisti de encará-la e acabei cedendo. Caminhei atrás do senhor que discursava há pouco e meus olhos correram para o meu pai. Ele estava deitado em um caixão preto, os olhos fechados. A feição era tranquila, não havia sangue ou dor.— Papai — chamei em voz baixa, quase em um sussurro. — Papai... — chamei novamente, não tendo certeza se dessa vez a minha voz havia saído.— Você só precisa se despedir, querida. — Summer me olhou com grandes olhos castanhos.— Não quero me despedir. — Olhei suplicante para ela.— Não dificulte as coisas. — Ele segurou os lábios em linha fina, claramente perdendo a paciência— Não! — Gritei, fazendo com que algumas pessoas em volta se virassem para mim. — Papai, acorde! Vamos para casa! — Tentei sacudi-lo. Minhas mãos foram impedidas. — Me solte! — Olhei para cima, enquanto Mateus me segurava. — Por favor, Mateus! — apelei. Lágrimas rolavam em abundância pelo meu rosto.— Eu sinto muito, Nicole. — Ele nem olhou nos meus olhos. Começaram a descer o caixão. Eu entrei em pânico. Como eles poderiam tê-lo posto ali? — Papai! Saia daí! Papai, por favor, levante!Consegui me soltar e alcançar o caixão. Soluços saiam da minha boca. Mateus me agarrou novamente e me pôs sobre os ombros, eu bati nele. Gritei, mas nada adiantou, ele estavam me levando para longe do meu pai.— Por favor, Mateus, ligue para Madeleine! Ela vai tirar meu pai dali!— Eu sinto muito, Nicole — ouvi-o sussurrar. — Eu sinto muito.O amor cega as pessoas, é evidente. Mesmo que antes nunca acreditasse nisso, a realidade estava ali, mais clara que água cristalina. Na verdade, olhando para trás com mais cautela, percebi que realmente não havia jeito daquela situação ser de outra forma, eu sempre fora dele. Sempre. A tatuagem no meu pulso direito me dizia exatamente isso. Meu pensamento corria de forma diferente do tempo que passava à minha volta. O homem que eu olhava, meu Carrasco, queria correr em minha direção e me proteger, esse homem faria qualquer coisa por mim. Ouso afirmar que esse homem morreria por mim. Seus lábios mexiam, em confusão e nervoso, dizendo para que eu me abaixasse. Ele dava passos frenéticos em minha direção, mas foi baleado na barriga. Meu primeiro instinto foi correr para ele, ver se estava bem. Mas ele continuava a balear os homens, não prestava mais atenção em mim. Olhei para o lado, taças de cristal explodiam, assim como louças caríssimas. Eu realmente deveria me abaixar, me
— Você fodeu tudo Thomas, mais que porra você fez! Estou encostada na porta, do closet ouvindo, rezando para ele não me escutar espiando seu telefonema. — Mais que Merda — Colleri Diz baixo. — Foi uma maldita chacina. Você viu os jornais?! — Se altera. — Isso é Loucura Thomas! Espio pela brecha da porta, e vejo Ethan, ele veste uma calça social, uma blusa branca, que já está com alguns botões desfeitos. Seu cabelo está desgrenhado e ele massageia seus olhos, para a aliviar a tensão enquanto apoia o celular entre o ouvido e ombro. — Vou transferir meio milhão para uma conta no Brasil. Vou arranjar passaportes e novas identidades. Ele se cala, por um momento. Ouvindo Thomas, antes de assumir com tensão. — Sim, eu prometo. Você é um maldito fora da sua mente. Provavelmente vai sair de lá morto. Mas eu não vou ficar nulo nessa situação Thomas. Respira pesado. Antes de anotar o endereço que Thomas passa, assim como o Numero de telefone. Espero passar bons três
— Me deixa ser alguém para você. Me deixa te ajudar a encontrar o seu lugar. Que é aqui. — Apoiei a mão em meu coração.Colle me abraçou, me pedindo perdão enquanto me segurava. — A cabeça dele, — Fungo. — Colle, tinha pedaços para todos os lados. — Ele fecha os olhos, também com a lembrança assombrosa de Luck. — Nos olhos dele, de repente, não havia mais vida. E ele estava me olhando... — Minha frequência cardíaca aumenta. — Estava me olhando quando fez, Colle. — Eu sinto tanto baby, sinto tanto. — Sua voz profunda vibra contra os meus cabelos.— A cada momento que lembro tenho medo de sonhar com isso, fico pensando que poderia ser você. Se não fosse por Lucian... eu tenho tido pesadelos com isso... eu... Sua mandíbula endurece novamente enquanto me observa com depressão, então balança a cabeça.— Eu sinto muito que Luck tenha cometido suicídio na sua frente. Se te conforta, eu também tenho pesadelos desde quando fui levado e por cada vítima que eu, um dia, perdi. É difíci
Tenho me questionado sobre a sensibilidade da vida, sobre como somos insignificantes; em um momento somos tudo, e logo não somos nada. Eu nunca pensei na nossa história terminando assim, nunca. Agora está tudo acabado. Não que eu me importasse, mas é realmente uma cena que sei que não esquecerei tão cedo. — Pode vê-lo agora — disse a enfermeira. Entrei na sala e Ethan estava sentado na maca com alguns hematomas no rosto e cerca de cinco pontos perto do cabelo. Olhei para ele, que ainda não me encarava. — Eu perdi o controle, e não há nada que eu vá fazer ou dizer que vá mudar isso. — Ele olhava para baixo. — Eu errei, magoei e não pude proteger vocês. Eu prometi a você anos atrás e não pude cumprir minha promessa. — Ele parece deplorável, com sua voz oprimida e cheia de vergonha.Abaixo meu rosto em minhas palmas e as esfrego. — Porque não me contou? — Não posso lutar contra a enxurrada de lágrimas que desce pelo meu rosto. — Porque não falou que seu pai era responsáv
— Ah, eu vou. — Ele nem hesita, Seus olhos baixam em decepção, e ele se inclina sussurrando como se estivéssemos compartilhando um maldito segredo. — Se você não me deixar entrar, eu vou estourar a porra da sua cabeça, e de quem mais estiver vivo aqui. — Ele se afasta muito pouco, só o suficiente para encarar meus olhos azuis chorosos. E continua sussurrando — Eu vou entrar de qualquer maneira. — Ele sorri ternamente, sínico. — A diferença Nicole é que eu não vou terminar o massacre nessa porra de lugar. Eu só vou olhar uma última vez o meu filho, me despedir e ir embora. — Você é um monstro! Você não pode, não pode... — Solto um soluço. — Não faça mal ao Nosso filho — imploro em um sussurro enquanto as lágrimas queimam meus olhos. Luck fica lá por apenas um segundo antes de limpar seu choque e endireitar os ombros.— Não vou matá-lo. — Afirma. Então fica tenso novamente e, desta vez, com meu peito pressionado contra o dele, quase posso sentir sua agonia física irradiando p
Um estalo mais próximo ecoou do corredor, fazendo-me dar um pulo. Fechei a porta, deixando uma pequena brecha. Houve um silêncio mortal, a cena do hospital vazio poderia muito bem ser usada para um filme de terror. Houve outros estalos. Pow. Pow. Pow. A bile sobe pela minha garganta e tentar engoli-la só ameaça me fazer engasgar.Minhas pernas tremiam, eu estava em um tremendo conflito entre olhar e fechar a porta. Porque eu realmente não fazia ideia do que estava acontecendo. Não passou um segundo antes que eu visse Will andando apressado, mas aparentemente bem, e minhas emoções começaram instantaneamente a se controlar. Abri totalmente a porta para dizer-lhe que estávamos bem, mas foi tarde demais porque eu não havia visto Luck, que estava bem atrás dele.Ele vestia uma roupa que, tenho certeza, um dia foi elegante, mas estava amarrotada e suja de sangue; seu rosto também estava sujo e seu cabelo desgrenhado, olhos com olheiras e pupilas dilatadas. Ele parecia fo
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