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Capítulo 1 – Uma Noiva Sortuda
Naquela noite, Ângela aprendeu que o amor não mata de repente — ele envenena aos poucos, com promessas doces e sorrisos que escondem segredos.
Pov, angela.
Duas horas antes
Os flashes estouravam como fogos discretos, iluminando cada passo que eu dava pelo salão. O dia, que começara nublado, agora brilhava sob as luzes douradas do lugar luxuoso que abafava qualquer lembrança de mundo real.
A música era suave, as taças tilintavam, e o perfume das flores se misturava ao cheiro doce do meu cabelo recém-arrumado.
Meu vestido branco se ajustava ao corpo como se tivesse sido costurado pela própria vaidade. Depois de nosso casamento no civil, estávamos ali, comemorando o começo de uma nova vida.O meu dia.
O dia em que tudo o que sonhei parecia, enfim, real, ao menos é assim que vejo, mesmo que para Rafael não significa só isso, mas seria benéfico para nos dois.Rafael me puxou pela cintura e sussurrou no meu ouvido.
— Você está linda.
Seu sorriso era o mesmo de sempre, fácil, encantador, e perigoso o suficiente para me fazer esquecer de respirar.
Sorri, encostando a cabeça em seu ombro. Rafael sabia ser doce quando queria.Ele era meu namorado desde o final do ensino médio. O primeiro beijo, o primeiro plano para o futuro.
E também meu cúmplice… inclusive no que estávamos prestes a fazer.— Todos estão dizendo que eu sou sortuda — murmurei, tentando disfarçar o nervosismo.
— Eles estão certos — respondeu, beijando meu ombro nu. — Mas eu sou o mais sortudo aqui. Tenho uma mulher fascinante ao meu lado.
As pessoas nos observavam com sorrisos admirados, afinal fazíamos um ótimo par.
Ele fazia questão de mostrar ao mundo que me tinha nos braços, e que me escolhera. E eu... eu acreditava nele. Não era o amor ideal e ingênuo dos filmes, mas aquele tipo que nasce da cumplicidade, dos segredos compartilhados que ninguém mais poderia saber além de mim.Até que algo quebrou o encanto.
— Seu tio está nos observando de novo — comentei entre dentes, rindo sem graça o olhar dele as vezes fazia meu corpo todo travar como se ele perguntasse o que eu estava fazendo. — Acha que ele está desconfiando?
Rafael seguiu meu olhar.
Do outro lado do salão, sentado em uma poltrona imponente, estava Lúcio, o tio dele. Um homem cuja simples presença fazia o ar ficar mais denso, seu olhar, sua aparência impecável, ele chegava a se destacar até mesmo mais que Rafael, pela sua aparência e também por tudo que ele era e representava ali naquela festa.Ele tinha o olhar de quem já teve o mundo nas mãos, mas agora estava tudo escorregando pela borda, menos o orgulho.
O rosto pálido denunciava a doença que o consumia, mas os olhos... ah, os olhos continuavam vivos. Sombrio. Afiado. Quase predatório em minha direção.— É só a cara de quem está prestes a perder metade do que tem — Rafael brincou, mordendo o lábio e me puxando mais perto como se quisesse marcar seu território diante do olhar de seu tio. — E a culpa é sua.
— Minha? — perguntei, tentando rir, mesmo desconfortável com o olhar fixo do homem sobre nós.
— Você é irresistível — ele respondeu. — E agora é oficial. Casar com você foi a melhor decisão da minha vida. Prometo que não vai se arrepender. Seu futuro está garantido comigo.
A promessa soava bonita demais para ser inocente e eu sabia disso.
Aproximei-me um pouco, respondendo baixo.
— Eu sei o quanto isso significa pra você. E quero te ver conseguir o que é seu por direito, e também sei que me ama.Rafael era o herdeiro natural das empresas da família, mas o pai dele havia deixado tudo para o irmão mais novo, o mesmo que agora definhava diante de nós e continuava duro sem querer ceder nada a Rafael.
Nosso casamento antecipado não era apenas por amor. Era também uma jogada. Um passo necessário.Eu não me casara por dinheiro, mas entendia o peso do que estávamos fazendo.
E, no fundo, acreditava que o amor podia resistir até mesmo a uma transação como aquela.Mas o olhar de Lúcio continuava cravado em mim.
Era como se ele soubesse. Como se enxergasse através do véu, do vestido, do disfarce.Lúcio sempre fora um homem enigmático.
Desde a primeira vez que o vi, há quatro anos, quando eu tinha apenas dezoito, ele me causara a mesma sensação, um medo inexplicável ao mesmo tempo que minha atenção me mantinha presa na presença dele. Mesmo agora, fragilizado, ainda exalava autoridade. Ainda parecia o tipo de homem que não se rende nem à morte.E eu temia que soubesse demais, ainda mais com tudo que estava envolvido nesse casamento.
— Rafael... é desconfortável ele nos observando assim eu quero ir para outra parte da festa. — murmurei. — Ainda mais com aqueles seguranças parados ao lado dele seu braço direito, eu nunca gostei daquele homem.
Mas Rafael não respondeu.
O celular em sua mão vibrou, e a expressão em seu rosto mudou, a alegria desapareceu num instante. Ele atendeu rapidamente, sem olhar para mim.— Preciso atender uma ligação de negócios — disse, sem disfarçar o incômodo. — Volto em vinte minutos. Continue sorrindo e sendo perfeita, como sempre, ate que eu volte para estar ao seu lado.
Beijou minha testa e se afastou, entrando no elevador que o levaria até a suíte presidencial que havíamos reservado.
Continuei sorrindo.
Aceitei parabéns, bebi mais uma taça, e ri das piadas sem graça dos acionistas. Mas por dentro, algo se movia com um incomodo que me sufocou os pulmões. Um pressentimento frio, como se o chão sob meus pés estivesse prestes a rachar.— Sabe onde está o Rafael? — perguntou um dos convidados, aproximando-se. — Ele ficou de me apresentar ao presidente da empresa, não sei como chegar ate Lucios e conseguir falar com ele.
— ele disse que tinha algo importante para resolver, mas já estaria de volta.
— Não pode me apresenta-lo você mesma? — gelei com o pedido, eu sorri sem jeito, eu nunca tinha direcionado uma palavra a lúcios, ainda mais depois do incidente a quatro anos atras, mesmo com tanto tempo, eu ainda tinha tanto constrangimento, por isso recusei.
Olhei o relógio.
Vinte minutos haviam se passado.— Ele deve estar na suíte — respondi, disfarçando a inquietação. — Vou ver se já terminou a ligação.
Desculpei-me, ajeitei o vestido e caminhei até o elevador.
A música e os risos do salão ficaram para trás. Meu coração batia rápido, como se quisesse me avisar de algo.O elevador subiu em silêncio, e por um instante, tudo pareceu parado.
A respiração, o tempo, o ar.Eu só não sabia ainda que o casamento dos meus sonhos estava prestes a acabar, antes mesmo de começar minha vida com Rafael.







