Mundo ficciónIniciar sesiónTrês anos longe da capital foram suficientes para Ashiley Monteiro acreditar que podia ser uma mulher comum — longe de sobrenomes pesados, jantares corporativos e casamentos arranjados. Longe, principalmente, do homem por quem se perdeu. Pietro Santoro nunca soube quem ela realmente era — e quando ex-namorada dele volta a ocupar o espaço que jamais deixou vazio, Ashiley entende que não existe amor onde ela sempre precisou implorar por migalhas. Desiludida, ela retorna ao mundo que passou a vida fugindo… e aceita o acordo que mudará seu destino: o casamento com Gustavo Martins, herdeiro da família mais influente da cidade. Mas Gustavo não é apenas um noivo estratégico. Ele é silêncio, força, contenção… e um perigo suave demais para ser ignorado. Enquanto Ashiley tenta sobreviver ao próprio nome e aos conflitos entre famílias, o passado volta a rondá-la — um ex arrependido, uma rivalidade antiga, segredos enterrados e olhares que dizem mais do que deveriam. Entre o controle e o desejo, entre o protocolo e a verdade, Ashiley vai descobrir que ninguém — nem ela — está realmente preparado para o retorno de quem um dia aprendeu a desaparecer.
Leer másA música da banda tocava alto, misturada ao cheiro de cerveja barata, fritura e cigarro. O bar estava cheio, quente, barulhento — do jeito de sempre. Ashiley entrou como quem já sabe exatamente onde quer chegar e quem não quer encontrar. Passou pelos conhecidos sem sorrir. Naquela noite, ela não estava ali para socializar.
Encostou no balcão, pediu um uísque e segurou o copo como se ele pudesse organizar tudo que ela sentia. A bebida queimou a garganta — e foi exatamente isso que ela queria: sentir algo que doía menos do que o que estava dentro dela.
Então ouviu.
Uma risada. Uma risada que ela conhecia muito bem.
Pietro Santoro.
Seu coração não disparou. Não quebrou. Só… lembrou. Lembrou de tudo que ela passou tentando ser suficiente para alguém que nunca a escolheu por inteiro.
Ele estava rodeado de gente. Sempre estava. Mas naquela noite, alguém a incomodou mais do que ele.
Laura.
A ex oficial. Linda, arrumada, confiante. A mão dela no ombro dele parecia dizer “eu voltei, e esse é o meu lugar”.
Ashiley respirou fundo. Podia ter ido embora. Podia ter ignorado. Mas já tinha se humilhado demais por um amor que nunca foi dela. Virou o uísque de uma vez e caminhou até os dois.
— Que cena bonita — disse, calma, com um sorriso que não alcançava os olhos.
Pietro se assustou. Não esperava vê-la ali.
— Ashiley! Eu… eu não sabia que você vinha hoje.
Laura sorriu com aquele ar de “eu sei exatamente quem você é”.
— O Pietro estava me contando sobre a nova filial. Estamos trabalhando juntos outra vez.
“Trabalhando juntos”. Ashiley quase riu. Era sempre a mesma história.
— Que bom — ela respondeu. — Trabalho costuma ser… produtivo.
Pietro tentou se explicar na hora:
— Não é o que você está pensando, Ash.
Ela já tinha ouvido isso muitas vezes.
— Claro. Amigos — respondeu, firme, cortando qualquer desculpa.
O clima ficou pesado. Ashiley pegou a bolsa e disse:
— Eu só vim tomar uma bebida rápida. Já vou.
Pietro levantou um pouco da cadeira, como se quisesse impedir. Como sempre, tarde demais.
— Ash, espera…
Ela o olhou nos olhos, e pela primeira vez ele deve ter visto: ela estava realmente cansada.
— Não, Pietro. Agora é você que vai esperar nada de mim.
Saiu do bar. A porta rangendo atrás dela pareceu um ponto final.
O ar frio lá fora bateu forte no rosto, mas trouxe um pouco de paz. Caminhou até a praça próxima e sentou-se num banco. Pela primeira vez em muito tempo, deixou o silêncio fazer o trabalho que o amor não fez.
Quando a cabeça finalmente esvaziou, pegou o celular. O nome “Pai” ainda estava ali, intacto, como se os últimos três anos fossem apenas férias da vida real.
Ela hesitou. Respirou fundo. Depois ligou.
— Ashiley? — ele atendeu, surpreso.
— Eu aceito.
— Aceita o quê?
— O casamento com o Gustavo. Pode marcar tudo.
O silêncio do outro lado disse mais do que qualquer comemoração. Ela desligou antes que ele transformasse aquilo num evento.
O céu estava nublado, a cidade seguia com seu barulho, mas dentro dela havia um tipo novo de calma. Não era felicidade. Era decisão.
Voltando para seu pequeno apartamento, começou a guardar as coisas. Encontrou um moletom antigo de Pietro. Sem pensar duas vezes, jogou numa sacola de doação. Nada dele iria com ela.
O celular vibrou. Gustavo.
— O anel de noivado está pronto. Vá à joalheria escolher o modelo final — disse ele, direto como sempre.
— Vou — respondeu.
Na Monteverdi, luzes, vidro e luxo por todos os lados. Ela escolheu o anel mais simples e discreto. Não precisava de brilho. Precisava de controle.
E então viu Pietro. Ele também a viu.
Um instante. Um choque. Um silêncio.
— Vejo que continuam… amigos — ela disse, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.
Saiu da loja sem esperar resposta.
De volta ao carro que a levaria para a nova vida, o motorista perguntou:
— Vai viajar, senhorita?
— Não — disse ela, olhando a cidade pela janela. — Só seguindo em frente.
E pela primeira vez, essa frase realmente parecia verdade.
No banco do carro, anotou no celular:
“Da próxima vez que eu me trair, que eu lembre desta noite.”
Apagou a luz do apartamento. Deitou. Dormiu.
A manhã seguinte começou pesada.O envelope com a frase misteriosa ainda estava sobre a mesa do sítio, como uma ameaça silenciosa.Ashiley mal dormiu.Mas, ao contrário do que esperava, acordou mais firme — como se a confusão tivesse endurecido algo dentro dela.Gustavo já estava acordado, falando baixo ao telefone, postura rígida.Quando ela desceu, ele desligou imediatamente.— Alguma novidade? — perguntou ela.— Sim — ele respondeu. — Mas você não vai gostar.Ela sentou no sofá, respirando fundo.— Pode falar.Gustavo puxou o celular e abriu uma imagem.Era uma captura do sistema de segurança da casa nova, de dois dias antes.Mostrava uma pessoa parada do lado de fora do portão, às três da manhã.A imagem não era perfeita, mas o contorno era claro.Ashiley levou a mão à boca.— É o…?— O segurança pessoal do Pietro — completou Gustavo. — O mesmo que tentou te abordar na noite que ele apareceu na mansão Monteiro.Ashiley sentiu a pele arrepiar.— Ele estava rondando a casa?— Sim. E
O silêncio dentro do sítio já não parecia proteção — parecia contagem regressiva.Ashiley estava sentada no sofá, respirando fundo, tentando processar o que Gustavo acabara de dizer.O endereço da casa nova.Vazado.— Isso não faz sentido… — ela murmurou. — Ninguém sabia que eu estava lá. Ninguém além de—Parou.Engoliu seco.Gustavo completou por ela:— Além da sua família.Ela fechou os olhos, pressionando as têmporas.— Eu não consigo acreditar que eles fariam isso. A minha mãe… meu pai…— Eles não fizeram diretamente — Gustavo disse, sentando ao lado dela. — Mas alguém lá dentro está trabalhando contra você. E essa pessoa não está sozinha.Ashiley sentiu o peito apertar.— Eu não aguento mais isso.Foi a primeira vez que ela admitiu.E, no segundo em que disse, o corpo dela tremeu — não de medo, mas de exaustão emocional acumulada por anos.Gustavo percebeu imediatamente.Ele não se aproximou rápido.Não tentou abraçá-la sem permissão.Só falou, com a voz mais baixa que ela já ouv
O carro deixou a mansão Monteiro com uma velocidade maior que o normal.Gustavo não falou nada nos primeiros minutos.O silêncio era pesado, firme, cheio do tipo de tensão que não vem de raiva, mas de preocupação.Ashiley olhava a estrada pela janela, tentando digerir a conversa com a mãe, a traição de Lúcio, a sensação de invasão, tudo junto.Era estranho perceber que o cansaço dela agora vinha de outra coisa — não do medo, mas da sensação de estar abrindo os olhos depois de muito tempo vivendo no escuro.Quando o carro entrou na estrada de saída da cidade, ela finalmente perguntou:— Pra onde estamos indo?— Longe do caos — respondeu Gustavo, ainda olhando para frente. — A casa nova é segura, mas hoje você precisa respirar longe de tudo.— Eu estou bem — ela disse, sabendo que não estava.— Você está se segurando — ele corrigiu. — É diferente.Ela encostou a cabeça no banco, fechando os olhos por um momento.— Você não precisa cuidar de tudo sozinho, Gustavo.— Não é cuidado — ele r
A manhã seguinte não trouxe alívio.Trouxe silêncio.E silêncio, para Ashiley, nunca foi paz.Foi aviso.Ela desceu as escadas devagar, sentindo a casa nova diferente do dia anterior.Mais pesada.Mais tensa.Como se pressentisse o que estava prestes a acontecer.Gustavo estava na cozinha, camisa branca, mangas dobradas, café pela metade — não porque estivesse bebendo, mas porque estava pensando.Ela reconhecia aquele tipo de silêncio dele.Silêncio de alguém que está prestes a agir.— Dormiu? — ele perguntou, sem tirar os olhos da tela do celular.— Pouco.E você?— Nada útil.Ele guardou o telefone e caminhou até ela.— Temos a primeira pista concreta — disse. — E não vai gostar.O coração dela bateu forte.— Quem foi?— A equipe de segurança identificou uma movimentação estranha no sistema interno da mansão — explicou ele. — Alguém usou uma senha antiga. Uma senha que não deveria funcionar.Ashiley cruzou os braços.— Quem tinha essa senha?Gustavo demorou um segundo antes de respo
A equipe de segurança terminou a instalação por volta das dez da noite. Quando todos saíram, a casa ficou completamente silenciosa — um silêncio que, curiosamente, não parecia vazio. Parecia alerta.Ashiley estava sentada no sofá da sala, mexendo no celular sem realmente olhar.Gustavo, encostado na bancada da cozinha, analisava pela quinta vez o vídeo que haviam recebido.Ele pausou no mesmo segundo em que a porta do escritório, no vídeo, se abria ao fundo.— Isso — disse ele. — Olha.Ashiley se levantou e se aproximou.No canto do vídeo, quase fora do enquadramento, havia uma sombra.Rápida, mas nítida.A silhueta de alguém passando no corredor da mansão no exato momento em que o áudio foi captado.— Dá pra ver o contorno — disse Gustavo. — Alto. Ombros largos. Provavelmente homem.Ashiley franziu a testa.— Pode ser segurança?— Não — respondeu ele imediatamente. — Meus seguranças nunca ficam ali. O lugar é cego pra eles. E os seguranças da sua família raramente sobem para o segund
O comboio seguiu até o condomínio novo sem nenhum desvio. Dois carros à frente, um atrás. Tudo calculado, tudo fechado, tudo controlado — exatamente como Gustavo queria.Quando o carro parou na garagem da casa, Ashiley hesitou antes de descer.Não era medo.Era… estranheza.Era a primeira vez que entrava ali sem estar escondendo nada de ninguém.E a primeira vez que entraria com Gustavo.Ele abriu a porta para ela, sem a pressa de antes, sem a tensão agressiva do dia.Era outra coisa agora.Uma calma desconfortável — o tipo de calma que só existe depois que algo importante acontece e ninguém sabe falar sobre.— Está segura aqui — ele disse.— Eu sei — ela respondeu, mesmo não sabendo se sabia de verdade.Eles entraram.A casa estava silenciosa, iluminada apenas pelas luzes automáticas do corredor. Parecia acolhedora, mas também parecia esperar algo — como se os dois trouxessem uma energia que o lugar ainda não estava acostumado.Gustavo caminhou primeiro, verificando as portas, janela
Último capítulo