Aos quarenta e seis anos, Lina Garcia construiu sua vida em torno de dois pilares inabaláveis: seus filhos e seu trabalho. Secretária impecável no renomado escritório Prado Advocacia, ela é sinônimo de eficiência, discrição e lealdade. Entre prazos, audiências e noites insones, Lina sempre colocou os outros em primeiro lugar — até que um afastamento inesperado do trabalho muda tudo. Débora Prado, sua exigente e poderosa chefe, decide realocá-la para um novo desafio: trabalhar diretamente com o homem que promete revolucionar o futuro da empresa — e que, por acaso, também é seu sobrinho. Saulo Prado é jovem, brilhante e dono de uma ambição silenciosa. Recém-chegado ao império jurídico da família, carrega no currículo casos complexos e uma frieza estratégica que o torna temido nos tribunais. Mas por trás da aparência controlada, existe um desejo profundo de se reconectar com suas raízes e provar seu valor aos Prado. O que Saulo não esperava era que sua rotina em Sobral fosse virada de cabeça para baixo por uma mulher… diferente de todas que já conheceu. Lina, com sua elegância madura, inteligência afiada e um charme inquietante, passa a ser sua sombra mais presente — e seu desafio mais inesperado. Entre olhares que duram mais do que deveriam, toques casuais que queimam, e conversas carregadas de tensão, nasce algo perigoso, proibido… e absolutamente irresistível. Em um ambiente onde reputações são tudo, até onde alguém pode ir por um desejo que não pediu para sentir?
Ler maisPov: Angelina Garcia
Era uma quarta-feira à tarde.
Poucas vezes eu havia saído antes do expediente, mas naquele dia chuvoso, algo inesperado aconteceu.
Débora Prado, minha chefe, surgiu na recepção com os olhos brilhando, após ter ganho mais uma causa, o anel de noivado reluzindo no dedo e um sorriso orgulhoso no rosto. Ela segurou meus ombros, e disse com um brilho genuíno na voz:
— Lina, você é um gênio. Vai descansar, mulher. Você merece.
Sorri um pouco surpresa. Agradeci.
Me despedi com elegância, embora nem soubesse o que fazer com aquela folga inesperada no meio da tarde. Numa tarde de inverno ainda.
Não havia nenhum segundo plano na agenda.
Nenhum compromisso. Apenas a promessa de silêncio, um banho longo quente e, talvez, uma taça de vinho. Quem sabe até uma tentativa de sexo, se Raul estivesse disposto, o que andava raro ultimamente.
Chovia fino quando saí do prédio da Prado.
O tipo de chuva que convida à dormir, ao descanso.
Dirigindo pelas ruas de Sobral, só pensei em chegar em casa, arrancar o sutiã, tomar um delicioso banho, pôr o meu roupão confortável e talvez reacender algo com o homem com quem divido a vida há décadas. Esse era o plano.
Mas ao virar a esquina da nossa rua, meus dedos gelaram no volante.
A viatura da empresa em que Raul trabalha. Companhia de eletricidade.
Parado na frente de casa. Às dezesseis e meia da tarde.
Ele nunca saía antes das sete. Meu coração palpitou.
Um aperto me atravessou o estômago. Algo estava errado. O que poderia ter acontecido?
Estacionei devagar, tentando racionalizar.
Talvez um mal-estar? Alguma emergência com os meninos? Respirei fundo, tomando coragem. Abri o portão com cuidado. Nem barulho fiz, por causa da Samara, a inquilina do andar de cima, a mesma que vivia atrasando o aluguel e se achando dona do prédio. Raul dizia sempre: — Deixa que eu resolvo, Lina.
Nunca resolvia.
Entrei na garagem. Nenhum som vinha de dentro de casa, choro ou reclamação. Nenhum cheiro de comida ou remédio. Nenhum barulho de crianças.
— Raul? Ana Júlia? Raulzinho? — Os chamei em vão.
Silêncio.
A casa parecia vazia ou pior: cúmplice, aquilo só aumentava a minha curiosidade. Olhei em todos os cômodos, até nos banheiros, e mais uma vez ao lado de fora, na garagem. O que poderia ter acontecido? Estariam num hospital?
Talvez somente perguntando a Samara para saber.
Subi o primeiro degrau. Minha respiração ficou suspensa. — Ah!
Foi quando ouvi. Um som abafado. Um gemido baixo, seguido de outro mais forte. T***s altas. Pele contra pele. E então... uma voz fina, quase num miado.
— Isso... desse jeito… Seu Rauulll...
Meu coração acelerou mais forte ali naquele batente, o primeiro degrau. Era a voz de Samara, só poderia ser.
Subi o resto da escada como uma morta-viva. Os sons se intensificaram a cada passo meu. A cama cada vez mais alta rangendo, gemidos roucos, estalos e t***s, grunhidos animalescos. Até entrar na nossa casa alugada, o cheiro de sexo impregnava o corredor.
Empurrei a porta devagar. Os vi, no primeiro quarto.
Samara: A nossa inquilina.
Ajoelhada sobre a cama box. Nua. Seios pequenos firmes. Pele bronzeada. Seu corpo cheio de curvas, barriga bem lisa, a sua boca se abria enquanto ela se contorcia, esperneava. — Oh! Oh que delícia!
Raul a penetrava com força, por trás. Segurava os quadris dela com as duas mãos. — Assim sua putinha, safada? — O homem forte, de pele clara, cabelos castanhos atrás dela, perguntava, a voz rouca, quase violenta.
— Sua deliciosa! — A boca deslizando pelas costas dela, mordendo, chupando, dizendo palavras que nunca foram ditas para mim nem nos nossos tempos mais quentes. — Oh!Isso, isso, assim.
— Isso... geme pra mim, sua putinha gostosa...
Ela rebolava pra ele, rindo, sentando e quicando no homem que era meu. O pai dos meus filhos, a quem eu já dividia anos de casamento, comunhão, parceria.
— Isso, mais…mais que gostoso, Seu Raul! — Ela gemia sem pudor, passando as mãos pela cabeça, o cabelo curto bagunçado. Pedia mais. Chorava de prazer enquanto ele a invadia com uma fúria que eu sequer sabia que existia. — Delícia! Você é perfeita!
Eu tremia. Cada palavra dele era um tapa no rosto.
Vi quando ele a puxou pela cintura e a tomou de frente, erguendo-a nos braços, como se ela fosse tudo que ele sempre desejou. O prazer nos olhos castanhos dele era cruel. Era real, iniciaram um beijo ali mesmo, algo que me fez engolir seco, beijos já não existiam mais entre nós, malmente bitucas, selinho.
Nada mais.
Não gritei. Apenas chorei.
Até que consegui dizer alguma coisa, a minha voz saiu trêmula.
— Raul? — Ele congelou na hora. Samara saltou do seu colo, tentou se cobrir, em vão. Eu já tinha visto tudo. Ela era perfeita, como ele mesmo disse.
Ele saiu de dentro dela ainda duro, ainda ofegante, ainda suado de tanto prazer. Me olhou como se eu fosse uma intrusa, uma miragem ou não, uma assombração. Como se eu fosse a errada.
O quarto inteiro fedia a sexo. A traição, o corredor também.
Lençóis amassados encharcados. Travesseiros no chão. A imagem era grotesca. Dolorosa. Irreversível. Aquilo já parecia ter horas, mais tempo do que vi.
Meus joelhos fraquejaram.
A dor não era só pelo que vi.
Era o que sentia.
Por tudo que entreguei.
Pela mulher que ele destruiu com os anos.
Pela paixão que ele matou aos poucos.
Saí do quarto em silêncio. Cada degrau da escada era um lamento contido. Uma parte de mim morria ali, sequer soube como cheguei embaixo.
Na varanda, a chuva caía. Lavava a sujeira que eu não conseguia limpar por dentro. A minha mente estava um caos.
— Lina, espera! Não é o que você está pensando! — Raul desceu apressado, vestindo as calças, o peito ainda nu suado, a pele vermelha, o cheiro de sexo impregnado nele.
— E o que eu vi, Raul? — Gritei, encarando-o. As lágrimas caíam, porque os olhos já não suportavam o peso da dor.
— Me escuta, pelo amor de Deus... isso foi… — Ele sequer achava as palavras.
— Foi o quê? — Berrei exasperada.
— Um erro! — Ele disse olhando para mim e em seguida para baixo.
— Um erro gostoso, não foi? Eu vi a forma como você gemia, como a tocava... com prazer nos olhos. Prazer que nunca teve comigo.
— Lina, por favor... — Ele tentou me tocar. Me segurar.
O corpo dele me enoja, porque ele sempre foi meu, e agora não era mais, outra mulher o tocava, o tinha, como eu nunca tive ou parecia ter.
— Não me toca! — Gritei, recuando.
O choro já era convulsivo.
A dor, insuportável.
Os vizinhos espiavam pelas janelas, mas eu não me importava mais.
— Tá com nojo de mim? — Suas mãos tateavam no ar, eu o empurrei.
— É claro que tá... você nunca deixa eu te tocar. Toda vez que a gente vai pra cama, é cheio de frescura, tem que fazer silêncio, é muito drama...
— Trinta anos, Raul! — cuspi a dor entre lágrimas. — Trinta anos ao seu lado... e você me paga assim? — Ele não respondeu, doía, me partia em pedaços ver, saber aquilo, como alguém que te promete tanto tem coragem? Trair, mentir, enganar.
É como construir um castelo, somente pelo prazer de destruir, depois. Sem se importar com os danos que irá causar.
Naquela tarde, entre o cheiro de chuva e o gosto de sangue na boca, eu morri por dentro, como mulher, nunca imaginei o tanto que uma traição é capaz de despertar gatilhos, insegurança, medos ainda mais em uma mulher aos quarenta e três anos.
Depois daquela tarde, eu nunca mais fui a mesma, para mim, eu já tinha morrido, só existia, mas mal sabia Raul que...
A mulher que nasceu depois daquele dia não aceitava mais migalhas. E jamais voltaria a rastejar aos pés dele.
Saulo PradoA noite avançava e a escuridão tomava conta das ruas enquanto eu chegava ao hotel, em busca de um lugar para descansar. A recepção estava tranquila, com a jovem recepcionista loira me observando atentamente. O som do meu celular vibrando me interrompeu, ao olhar para a tela, vi o nome do meu pai. Ele já havia me ligado três vezes, mas eu não estava com disposição para conversar de verdade. Respirei fundo e atendi.Ao pensar que ele ainda esperava uma resposta.— Oi, Fernando. — Falei, tentando soar mais animado do que realmente estava.— Oi, filhão! Onde você está? — Sua voz tinha aquele tom animado, como se estivesse esperando boas notícias de mim.— Num hotel, próximo à empresa, por quê? — Respondi, já sabendo que ele não queria saber muito sobre o meu destino ou o motivo de eu estar ali. Não havia convite para ir até a sua casa, e ele bem sabia que eu não teria o que fazer lá. Além disso, a esposa dele jamais me aceitaria como visita.— Estou aqui em frente à Prado, o q
Angelina GarciaSair do escritório apressada, sequer deveria ter voltado. Mas ali estava eu, com o coração batendo forte, e a mente uma mistura de confusão e excitação. Entrei no elevador praticamente correndo, como se a pressa pudesse me afastar dos pensamentos que ainda pairavam na minha cabeça. O senhor Saulo... o que aconteceu? Ele parecia estar louco, ou talvez fosse só um tarado.Não consegui entender o que havia acontecido entre nós naquele instante.Olhei-me no espelho do elevador, tentando acalmar a respiração ofegante. O que eu estava sentindo? Eu me conhecia, sabia que nunca tinha reagido daquela maneira antes. A sensação era como uma mistura de calor e arrepio, algo que me invadia sem eu ter controle sobre aquilo. Como eu tinha conseguido sair daquele banheiro? Por que eu não tinha simplesmente parado, ficado ali e pedido explicações?Em quarenta e seis anos de vida, nunca havia lidado com alguém tão ousado, tão... provocador. Ele era jovem, inexperiente talvez, mas ainda
Saulo Prado Tudo parecia se encaixar naquele ambiente, o luxo, a ostentação, e o requinte do sobrenome Prado. Era um lugar onde o dinheiro falava mais alto, onde a justiça podia ser comprada e vendida como se fosse qualquer outro bem de consumo.Os clientes chegavam com valores já prontos, esperando apenas um empurrãozinho para garantir o que desejavam. Não havia confrontos, nem debates acalorados sobre o que era certo ou errado. Todos se vendiam por dinheiro. E, no meio de tudo isso, eu também não estava para fazer diferente naquele lugar.Minha atenção se voltou para Lina. Ela estava novamente na porta, desconcertada, como se estivesse tentando entender algo que estava fora de seu alcance. Sua hesitação era quase palpável, como se estivesse buscando a maneira certa de me comunicar.O leve toque na cabeça, uma tentativa de se dar um pouco de espaço, me fez sorrir de forma quase imperceptível. Eu já estava acostumado a esse tipo de reação. Eu era novo ali, e isso explicava parte de
Angelina Garcia Doutor Saulo parecia ser um profissional inteligente, mas no início todos se parecem assim, com aquele ar de mudança, uma aura de quem ansiava por justiça. Seu jeito exigente com o trabalho era, de fato, admirável, mas havia algo mais. Algo nos olhos dele, algo que despertava curiosidade.Admirável como compreendeu o esquema da Prado Advocacia com rapidez. Ele caminhou em minha direção, seu olhar focado no elevador, que parecia demorar uma eternidade para chegar. O ambiente fechado da empresa fazia tudo parecer mais lento, como se o tempo se arrastasse, mas com ele ali, perto de mim, tudo parecia mais intrigante.Mal entramos no elevador, vi Ketlyn, a nova assistente de Alessandro Martinez, mexendo na tela do celular. Ela levantou os olhos e sorriu ao vê-lo. Sorriso largo, um brilho nos olhos, mas para mim, o sorriso era algo que não viria tão facilmente.— Nós encontramos de novo! — Ela disse, com um tom brincalhão, sem esconder que o já havia conhecido, como se o tr
Saulo Prado Observei a chuva incessante enquanto esperava quarenta minutos passarem. Pelo menos serviria como um tempo para descansar.A minha mente girava em tudo que havia lido até então, o que seria aqueles acordos? E porque sempre buscavam transferir os casos para os mesmos juizes?Prometi a mim mesmo que não deixaria Angelina desconcertada novamente. Meu lado cafajeste precisava ser ignorado, ainda que o desejo de apertar suas nádegas, sentir meus dedos afundando em sua carne até deixarem marcas, fosse quase incontrolável.Um curto grunhido escapou da garganta enquanto visava as gotas caindo.Apoiei ambas as mãos espalmadas na tela do parapeito, afastando a ideia. Fazia apenas vinte minutos que eu havia conhecido aquela secretária. Como já podia estar tendo pensamentos insanos com ela?Olhei para o relógio e um lampejo desconfortável cruzou minha mente. Trabalhando ali, certamente já tinha ido para a cama com um dos Prados. Teria ido?Evidente que sim. Qual mulher não faria isso
Pov: Angelina GarciaMeu ventre se contorcia.Uma inquietação tomava conta de mim.O calor aumentava, já sabia que era efeito da menopausa.Meus batimentos estavam acelerados, e meu peito parecia temer a sua volta. Entrei apressadamente no escritório de Débora e, mal pus os pés dentro dele, virei-me para fechar a porta.Tranquei.Aquele garoto tem cabelos loiros lisos, pele clara, olhos azuis, barba no mesmo tom do cabelo. Era perfeito, tão perfeito quanto uma miragem.Era como uma cópia do senhor Prado filho segundo. Porém mais jovem, mais bonito.O que ele queria comigo? Brincar?Eu conhecia bem o descaramento dos Prados.Do avô, do pai e agora do neto.Em quase vinte anos trabalhando para essa família, aprendi a me manter à margem. Quando entrei na empresa, o senhor Prado sabia que eu era casada. Algumas vezes o peguei olhando para minhas pernas, mas nunca demonstrei interesse em seus gestos. Ele adoeceu e a filha assumiu. Achei que as coisas ficariam mais fáceis.Procurei uma blus
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