Saulo Prado
Dois meses... e ainda sinto como se fosse ontem. As cicatrizes não doem, mas queimam na memória. Hoje, porém, não enfrento balas, nem sombras de guerra. Hoje, enfrento uma cerimônia. O casamento de Ana Júlia.
Beberiquei mais um drinque sem álcool, tentando conter o azedume que me subia pela garganta. Não que eu odiasse casamentos - odiava, sim, a ideia de ver minha mulher no altar, ao lado do ex, como se ainda houvesse algum laço entre eles. A gravata parecia um laço de forca no meu pescoço. E por mais que eu soubesse que era só formalidade, o incômodo me consumia.
O salão estava impecável. Lustres dourados espalhavam luz quente, flores brancas emolduravam o corredor como um túnel celestial. As mesas reluziam com detalhes dourados, velas acesas, como se tudo fosse tirado de um catálogo. Mas aquele perfume doce de flores frescas não disfarçava o clima carregado. Havia nervosismo, sim, mas também algo maior. Um peso.
E eu sabia. Não era só sobre a filha dela. Era sobre segre