Angelina Prado
Voltar para Sobral nunca esteve nos meus planos.
A ideia me assustava, me tirava o sono, me fazia revisitar fantasmas que eu jurei enterrar para sempre, porque eu temia voltar a aquela Angelina, que um dia eu fui. Mas, quando se ama, o medo muda de forma, deixa de ser uma parede e passa a ser um degrau. E eu estava disposta a subir, degrau por degrau, para viver, para ser feliz... ao lado de Saulo.
Deixar Santa Verena foi como arrancar uma parte de mim. A casa, os amigos, o meu espaço onde eu finalmente havia aprendido a respirar sozinha... tudo ficou para trás. Recomeçar exige coragem, e eu me vi recomeçando mais uma vez, aos cinquenta e dois anos, grávida, e com o coração cheio de cicatrizes, mas ainda pulsando por amor.
Cinco meses se passaram desde que chegamos a Sobral. Eu me vi grávida diante do espelho, a barriga que deveria ser pequena, por caber apenas uma vida, está enorme e eu mal conseguia me locomover.
Os dias eram quentes, vivos, o condominio com ruas l