Nos bracos do meu chefe, mais novo.
Nos bracos do meu chefe, mais novo.
Por: Ivi Santiago
Prólogo

Pov: Angelina Garcia

Era uma quarta-feira à tarde.

Poucas vezes eu havia saído antes do expediente, mas naquele dia chuvoso, algo inesperado aconteceu.

Débora Prado, minha chefe, surgiu na recepção com os olhos brilhando, após ter ganho mais uma causa, o anel de noivado reluzindo no dedo e um sorriso orgulhoso no rosto. Ela segurou meus ombros, e disse com um brilho genuíno na voz:

— Lina, você é um gênio. Vai descansar, mulher. Você merece.

Sorri um pouco surpresa. Agradeci.

Me despedi com elegância, embora nem soubesse o que fazer com aquela folga inesperada no meio da tarde. Numa tarde de inverno ainda. 

Não havia nenhum segundo plano na agenda. 

Nenhum compromisso. Apenas a promessa de silêncio, um banho longo quente e, talvez, uma taça de vinho. Quem sabe até uma tentativa de sexo, se Raul estivesse disposto, o que andava raro ultimamente. 

Chovia fino quando saí do prédio da Prado. 

O tipo de chuva que convida à dormir, ao descanso.

Dirigindo pelas ruas de Sobral, só pensei em chegar em casa, arrancar o sutiã, tomar um delicioso banho, pôr o meu roupão confortável e talvez reacender algo com o homem com quem divido a vida há décadas. Esse era o plano. 

Mas ao virar a esquina da nossa rua, meus dedos gelaram no volante.

A viatura da empresa em que Raul trabalha. Companhia de eletricidade. 

Parado na frente de casa. Às dezesseis e meia da tarde.

Ele nunca saía antes das sete. Meu coração palpitou. 

Um aperto me atravessou o estômago. Algo estava errado. O que poderia ter acontecido?

Estacionei devagar, tentando racionalizar. 

Talvez um mal-estar? Alguma emergência com os meninos? Respirei fundo, tomando coragem. Abri o portão com cuidado. Nem barulho fiz, por causa da Samara, a inquilina do andar de cima, a mesma que vivia atrasando o aluguel e se achando dona do prédio. Raul dizia sempre:  — Deixa que eu resolvo, Lina.

Nunca resolvia.

Entrei na garagem. Nenhum som vinha de dentro de casa, choro ou reclamação.   Nenhum cheiro de comida ou remédio. Nenhum barulho de crianças.

— Raul? Ana Júlia? Raulzinho? — Os chamei em vão.

Silêncio.

A casa parecia vazia ou pior: cúmplice, aquilo só aumentava a minha curiosidade. Olhei em todos os cômodos, até nos banheiros, e mais uma vez ao lado de fora, na garagem. O que poderia ter acontecido? Estariam num hospital?

Talvez somente perguntando a Samara para saber. 

Subi o primeiro degrau. Minha respiração ficou suspensa. — Ah! 

Foi quando ouvi. Um som abafado. Um gemido baixo, seguido de outro mais forte. T***s altas. Pele contra pele. E então... uma voz fina, quase num miado.

— Isso... desse jeito… Seu Rauulll...

Meu coração acelerou mais forte ali naquele batente, o primeiro degrau. Era a voz de Samara, só poderia ser. 

Subi o resto da escada como uma morta-viva. Os sons se intensificaram a cada passo meu. A cama cada vez mais alta rangendo, gemidos roucos, estalos e t***s, grunhidos animalescos. Até entrar na nossa casa alugada, o cheiro de sexo impregnava o corredor.

Empurrei a porta devagar. Os vi, no primeiro quarto. 

Samara: A nossa inquilina. 

Ajoelhada sobre a cama box. Nua. Seios pequenos firmes. Pele bronzeada. Seu corpo cheio de curvas, barriga bem lisa, a sua boca se abria enquanto ela se contorcia, esperneava. — Oh! Oh que delícia! 

Raul a penetrava com força, por trás. Segurava os quadris dela com as duas mãos. — Assim sua putinha, safada? — O homem forte, de pele clara, cabelos castanhos atrás dela, perguntava, a voz rouca, quase violenta. 

— Sua deliciosa! — A boca deslizando pelas costas dela, mordendo, chupando, dizendo palavras que nunca foram ditas para mim nem nos nossos tempos mais quentes. — Oh!Isso, isso, assim. 

— Isso... geme pra mim, sua putinha gostosa...

Ela rebolava pra ele, rindo, sentando e quicando no homem que era meu. O pai dos meus filhos, a quem eu já dividia anos de casamento, comunhão, parceria.

— Isso, mais…mais que gostoso, Seu Raul! — Ela gemia sem pudor, passando as mãos pela cabeça, o cabelo curto bagunçado. Pedia mais. Chorava de prazer enquanto ele a invadia com uma fúria que eu sequer sabia que existia. — Delícia! Você é perfeita! 

Eu tremia. Cada palavra dele era um tapa no rosto.

Vi quando ele a puxou pela cintura e a tomou de frente, erguendo-a nos braços, como se ela fosse tudo que ele sempre desejou. O prazer nos olhos castanhos dele era cruel. Era real, iniciaram um beijo ali mesmo, algo que me fez engolir seco, beijos já não existiam mais entre nós, malmente bitucas, selinho. 

Nada mais. 

Não gritei. Apenas chorei. 

Até que consegui dizer alguma coisa, a minha voz saiu trêmula. 

— Raul? —  Ele congelou na hora. Samara saltou do seu colo, tentou se cobrir, em vão. Eu já tinha visto tudo. Ela era perfeita, como ele mesmo disse. 

Ele saiu de dentro dela ainda duro, ainda ofegante, ainda suado de tanto prazer. Me olhou como se eu fosse uma intrusa, uma miragem ou não, uma assombração. Como se eu fosse a errada.

O quarto inteiro fedia a sexo. A traição, o corredor também. 

Lençóis amassados encharcados. Travesseiros no chão. A imagem era grotesca. Dolorosa. Irreversível. Aquilo já parecia ter horas, mais tempo do que vi. 

Meus joelhos fraquejaram.

A dor não era só pelo que vi. 

Era o que sentia. 

Por tudo que entreguei. 

Pela mulher que ele destruiu com os anos. 

Pela paixão que ele matou aos poucos.

Saí do quarto em silêncio. Cada degrau da escada era um lamento contido. Uma parte de mim morria ali, sequer soube como cheguei embaixo. 

Na varanda, a chuva caía. Lavava a sujeira que eu não conseguia limpar por dentro. A minha mente estava um caos. 

— Lina, espera! Não é o que você está pensando! — Raul desceu apressado, vestindo as calças, o peito ainda nu suado, a pele vermelha, o cheiro de sexo impregnado nele.

— E o que eu vi, Raul? — Gritei, encarando-o. As lágrimas caíam, porque os olhos já não suportavam o peso da dor.

— Me escuta, pelo amor de Deus... isso foi… — Ele sequer achava as palavras.

— Foi o quê? — Berrei exasperada. 

— Um erro! — Ele disse olhando para mim e em seguida para baixo. 

— Um erro gostoso, não foi? Eu vi a forma como você gemia, como a tocava... com prazer nos olhos. Prazer que nunca teve comigo.

— Lina, por favor... — Ele tentou me tocar. Me segurar. 

O corpo dele me enoja, porque ele sempre foi meu, e agora não era mais, outra mulher o tocava, o tinha, como eu nunca tive ou parecia ter. 

— Não me toca! — Gritei, recuando. 

O choro já era convulsivo. 

A dor, insuportável. 

Os vizinhos espiavam pelas janelas, mas eu não me importava mais.

— Tá com nojo de mim? — Suas mãos tateavam no ar, eu o empurrei. 

— É claro que tá... você nunca deixa eu te tocar. Toda vez que a gente vai pra cama, é cheio de frescura, tem que fazer silêncio, é muito drama...

— Trinta anos, Raul! — cuspi a dor entre lágrimas. — Trinta anos ao seu lado... e você me paga assim? — Ele não respondeu, doía, me partia em pedaços ver, saber aquilo, como alguém que te promete tanto tem coragem? Trair, mentir, enganar. 

É como construir um castelo, somente pelo prazer de destruir, depois. Sem se importar com os danos que irá causar. 

Naquela tarde, entre o cheiro de chuva e o gosto de sangue na boca, eu morri por dentro, como mulher, nunca imaginei o tanto que uma traição é capaz de despertar gatilhos, insegurança, medos ainda mais em uma mulher aos quarenta e três anos. 

Depois daquela tarde, eu nunca mais fui a mesma, para mim, eu já tinha morrido, só existia, mas mal sabia Raul que...

A mulher que nasceu depois daquele dia não aceitava mais migalhas. E jamais voltaria a rastejar aos pés dele.

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