Na manhã seguinte , acordei com o som do despertador, a ansiedade do segundo dia de trabalho ainda mais presente do que no primeiro. Levantei-me rapidamente, tomada por uma mistura de expectativa e um nervosismo latente. Cada detalhe da minha rotina matinal parecia mais intenso naquele dia: o cuidado com o cabelo, a escolha das roupas, a conferência da agenda do dia. Tudo precisava estar impecável; a lembrança do primeiro dia, das primeiras impressões que causara, permanecia fresca na minha mente, e eu não podia dar espaço para falhas.
Ao sair do apartamento, caminhei pelas ruas já movimentadas. O trânsito da cidade insistia em ser imprevisível, mas me mantive calma, consciente de que a pontualidade era um dos requisitos básicos da empresa. Cada semáforo, cada pedestre, cada buzina parecia amplificar minha tensão, e eu revisava mentalmente as tarefas que precisaria realizar assim que chegasse à empresa. Chegando ao prédio, segui direto para o elevador. A porta se fechou atrás de mim, e respirei fundo, preparando-me mentalmente para o segundo dia. Os primeiros segundos foram silenciosos, mas logo o elevador parou e, de repente, ele entrou. Kairos. A tensão aumentou instantaneamente, quase palpável. Ele não falou bom dia, apenas olhou para o relógio, e um silêncio pesado preencheu o espaço. Cada fibra do meu corpo se manteve alerta. Quando a porta se abriu para ele sair, a primeira frase dele soou como uma lâmina fria. — Você está cinco minutos atrasada. E, sem esperar resposta, ele saiu andando. Fiquei parada por um instante, incrédula e irritada. Cinco minutos. Cinco míseros minutos depois de uma manhã caótica no trânsito da cidade que nunca dorme. A indignação cresceu imediatamente, e a sensação de injustiça queimava dentro de mim. Respirei fundo, tentando controlar o impulso de retrucar, enquanto ele desaparecia no corredor, confiante e implacável. Segui até minha mesa, deixando meus pertences no lugar, mas a mente não parava de martelar: “Cinco minutos? Por que cobrar dessa forma? Que arrogância!” Organizei meus documentos, conferi agendas, e a cada gesto sentia a irritação crescer. Ainda assim, mantive a postura; não havia necessidade de se rebaixar a uma discussão naquele momento. Preferi guardar minha indignação, canalizando-a em concentração e precisão. Enquanto ajustava a pilha de arquivos, senti sua presença novamente. Kairos passou por mim com sua maleta, e, de maneira quase automática, chamei-o sutilmente: — Senhor Kairos. Ele parou, olhou para o relógio e depois, lentamente, para o meu rosto. Senti o peso do olhar dele, sério e implacável, mas não pude deixar de notar a forma como sua atenção parecia me penetrar, avaliando cada detalhe. — Desculpe, senhor. Havia trânsito horrível vindo para cá, mas vou me atentar aos atrasos. — disse, tentando controlar a voz e manter a compostura. Ele arqueou levemente as sobrancelhas, uma expressão quase imperceptível de julgamento pairando no rosto. — Espero competência da sua parte. Se for para chegar atrasada, fique em casa. Ser pontual é o mínimo que você pode fazer — disse, com a voz carregada de arrogância, antes de se afastar em direção à sua sala. Fiquei parada, segurando a respiração por um instante, incapaz de responder. A indignação queimava, uma mistura de raiva e frustração, mas eu optei por não retrucar. Havia algo em sua presença que impunha respeito, ainda que fosse um respeito forçado pelo medo e pela autoridade. Respirei fundo, sentindo o calor subir ao rosto, e comecei a organizar minha mesa com mais afinco, transformando a irritação em concentração. Passei a manhã inteira sem sair da minha mesa, determinada a mostrar que era uma profissional competente, apta para o cargo e capaz de superar qualquer provocação. Cada e-mail enviado, cada documento revisado, cada ligação atendida era um lembrete de que não precisava da aprovação dele para validar meu trabalho, mas sim da minha própria competência. A tensão interior permanecia, mas aprendi a canalizá-la em produtividade, tentando transformar cada sensação desagradável em foco. Perto do almoço, uma carta chegou para Kairos. Olhei para ela, hesitando se deveria entregá-la imediatamente ou esperar, considerando que já estava próximo do horário de almoço. Enquanto refletia, senti sua aproximação novamente. — Senhor Kairos — chamei, tentando ser breve e objetiva. Ele olhou rapidamente, impaciente: — Agora não. O tom seco, sem qualquer cortesia, deixou-me completamente estressada. Larguei a carta sobre a mesa dele, com cuidado, e olhei para o relógio. Já era a hora do meu almoço. Respirando fundo, decidi sair um pouco da empresa para me acalmar e colocar os pensamentos em ordem. Tudo que conseguia pensar naquele momento era o quanto estava odiando Kairos, e como a arrogância e prepotência dele pareciam invadir cada aspecto do meu dia. Segui para um restaurante próximo, tentando encontrar algum conforto na comida e na mudança de cenário. Porém, ao entrar, avistei Kairos sentado em uma das mesas, conversando com dois outros homens. Ele parecia completamente alheio à minha presença, mas o simples fato de vê-lo ali, no mesmo ambiente, fez minha fome desaparecer instantaneamente. Minha expressão fechou, e a irritação voltou com força. A visão dele, sério e imponente, parecia contaminar o ambiente, tornando impossível relaxar ou aproveitar o almoço. Seus olhos se fixaram nos outros dois homens, não me dando qualquer sinal de reconhecimento ou atenção. A sensação de frustração cresceu, e decidi que não valia a pena insistir. Saí do restaurante, caminhando pelas ruas, respirando fundo para tentar acalmar a irritação. Cada passo era um esforço consciente para não permitir que o estresse dominasse minha manhã. Enquanto caminhava, refletia sobre o dia até aquele momento: a arrogância dele, a tensão constante, a cobrança exagerada de cinco minutos de atraso, o desprezo implícito ao me negar a entregar a carta… tudo isso construía uma imagem de um homem inflexível, implacável, mas também misteriosamente magnético. Era impossível ignorar que, apesar de toda irritação, havia algo na forma como ele dominava o espaço e controlava cada situação. Decidi caminhar um pouco mais antes de retornar à empresa, permitindo que a raiva diminuísse e que eu pudesse voltar com a mente mais clara. Cada passo me ajudava a organizar pensamentos, a planejar como enfrentaria a tarde, a concentrar-me em tarefas e não na irritação que Kairos provocava. Sabia que precisava provar minha competência, independentemente do comportamento dele, e que o controle sobre minha própria postura era a única maneira de manter a dignidade e a autoridade pessoal naquele ambiente. Quando finalmente retornei ao escritório, respirei fundo antes de atravessar as portas. O dia ainda não havia terminado, e sabia que cada minuto exigiria atenção e foco. Kairos permanecia em seu posto, imponente, dominando o ambiente com sua presença silenciosa, e eu sabia que precisaria manter cada gesto e cada palavra sob controle. O segundo dia de trabalho prometia ser tão desafiador quanto o primeiro, mas agora eu carregava a consciência clara de que minha paciência, competência e determinação seriam testadas ao máximo. Eu estava com os olhos fixados no laptop, quando ouvi a voz de Kairos. —Mia?