O voo para Londres começou ainda cedo, e eu não conseguia afastar a sensação de nervosismo que crescia a cada passo dentro do jato particular. Sentada ao lado de Kairos, observei-o enquanto ajustava alguns papéis à sua frente. Ele não falava desnecessariamente, mas eu sentia a atenção dele pairando sobre mim de maneira quase tangível. Cada vez que seus olhos escuros me encontravam, uma corrente elétrica percorria meu corpo, queimando de dentro para fora. Eu não sabia ao certo o que era aquilo — uma mistura de raiva, fascínio e algo que hipnotizava de forma inexplicável.
Para evitar contato visual e o turbilhão de sensações que surgia, mergulhei na minha agenda, revisando minuciosamente os compromissos programados para os três dias. Era uma forma de me manter concentrada, de canalizar a tensão em algo produtivo. O voo transcorreu tranquilo, apesar do clima carregado entre nós. Cada som do avião parecia amplificar minha percepção dele, e cada movimento que ele fazia, mesmo mínimo, provocava em mim um alerta constante. Quando finalmente chegamos a Londres, o hotel nos aguardava com sua imponência luxuosa. A fachada refletia a luz da cidade, e o hall de entrada exalava sofisticação. Ao receber o cartão do meu quarto, notei que os de Kairos e René eram igualmente luxuosos, e todos os quartos ficavam no mesmo corredor, uma proximidade que me deixou apreensiva. Antes que eu pudesse me dirigir ao meu quarto, Kairos parou à minha frente. — Envie-me uma mensagem com os horários e compromissos de amanhã — disse, seu olhar sério fixo em mim. — Está bem — respondi, consciente do tom imperativo, mas mantendo a postura profissional. Ele se afastou, dirigindo-se ao quarto dele, e eu finalmente entrei no meu. O quarto era enorme, elegantemente mobiliado e decorado com bom gosto refinado. Nunca havia visto algo daquele nível, e por um momento fiquei com a boca aberta. Cada detalhe parecia projetado para transmitir conforto e sofisticação: cortinas pesadas de veludo, uma cama imensa com lençóis de linho finíssimo, uma escrivaninha elegante e uma iluminação cuidadosamente planejada. Respirei fundo, ainda absorvendo cada sensação, e deixei-me fascinar por alguns minutos antes de iniciar minha rotina de preparação. Tomei um banho demorado, sentindo a água quente dissolver parte da tensão acumulada. Troquei de roupa e optei por um pijama de seda rosa, composto por uma blusa de alça e um shortinho, confortável e ao mesmo tempo feminino. Pedi algo para comer ao serviço do quarto e, enquanto aguardava, vi a notificação de mensagem no celular. Era Kairos. Ao abrir, entendi que o “?” era uma cobrança sutil para que eu enviasse os horários e compromissos que ele havia solicitado. Enquanto digitava a mensagem, um barulho repentino vindo debaixo da escrivaninha me fez congelar. Antes que pudesse reagir, um pequeno rato surgiu de repente. O susto foi imediato: dei um grito e corri para o corredor, sem pensar duas vezes. No impulso, bati na porta do quarto de Kairos. Ele abriu quase instantaneamente, e me deparei com a figura dele — cabelos ainda molhados, camiseta preta e calça, expressão séria, mas com os olhos arregalados de surpresa. O silêncio durou alguns segundos, e por um instante, nos encaramos. Eu caí em mim e notei que não estava em roupa de serviço, mas sim de pijama; ele não estava completamente formal, mas de uma maneira casual que o tornava irresistivelmente presente. A proximidade e a situação criaram um clima inesperado, como um romance clichê, que me deixou paralisada por um instante. Seus olhos continuavam fixos nos meus, e senti meu corpo reagir de maneira involuntária, uma mistura de alerta, fascínio e tensão que não conseguia controlar. A situação era absurda, constrangedora, e ainda assim impossível de ignorar. Eu estava ali, vulnerável em meu próprio pijama, frente a ele que exalava autoridade e em cada gesto. O momento parecia suspenso no tempo, até que um som interrompeu a tensão. — O que aconteceu? — A voz de René ecoou pelo corredor, carregada de surpresa. O encanto momentâneo desfez-se em fração de segundos, e a realidade invadiu o ambiente. Kairos piscou, ainda sério, mas controlado, e eu senti a necessidade urgente de recuperar a compostura. A magia daquele instante, o breve clima de aproximação, desapareceu com a intervenção de René, e o corredor voltou a ter o ritmo normal de profissionais em viagem. Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos que giravam em minha mente. A adrenalina do susto misturava-se à tensão que Kairos provocava constantemente, e eu percebi que, mesmo em pijama, o magnetismo dele não diminuía. Pelo contrário: havia algo ainda mais intenso na vulnerabilidade daquele encontro, que me deixava inquieta, fascinada e, ao mesmo tempo, alerta. Eu disse a eles o que havia acontecido. Kairos trincou o maxilar enquanto eu contava o que aconteceu, mas pude reparar que seus olhos me percorriam dos pés a cabeça. Depois que René disse que entraria em contato com o hotel pediu para que eu aguardasse em meu quarto e se vestisse adequadamente caso alguém subisse para ver. Kairos se ofereceu para ir até meu quarto e ver se o rato ainda estava lá. Entrando no quarto, mostrei para ele a escrivaninha e subi em cima da cama. Ele procurou e não achou nada lá em baixou, o que me deixou desapontada. Em seguida ele foi até a porta e perguntou se eu me sentiria bem se ele pedisse para me trocarem de quarto. Eu fiquei surpresa, eu estava esperando um esporro, onde estava aquele cara ogro e arrogante que trabalhava comigo? Bom, sem perder tempo eu disse que sim e então ele saiu. A presença dele, mesmo depois de ele ter se afastado, continuava a pairar no ar, quase como se Ainda estivesse ali. O cheiro do seu perfume exalava por toda parte e estranhamente, eu gostei. Em alguns minutos um homem subiu até lá, eu acho que tinha o visto na portaria quando chegamos. Ele me deu outro cartão e disse que meu quarto agora era no fim do corredor, ele Levou minhas coisas e me pediu desculpas pelo ocorrido. Já no outro quarto, enquanto me preparava para descansar, arrumei rapidamente a mesa e organizei os documentos que seriam necessários para o dia seguinte. A viagem prometia ser intensa, repleta de compromissos e reuniões, mas também havia algo inegável: o desafio de lidar com Kairos em um ambiente tão próximo seria mais complicado do que eu imaginava. A mistura de fascínio, raiva e curiosidade que ele despertava em mim estava apenas começando, e eu sabia que cada momento nos próximos dias seria uma prova de autocontrole, profissionalismo e resistência emocional. Antes de me deitar, respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos que giravam em minha mente. O dia havia sido intenso: avião, chegada ao hotel, quartos luxuosos, susto com o rato, e aquele instante inesperado com Kairos no corredor. Eu o achava arrogante, mas por um instante, aquela pergunta que ele me fez sobre mudar de quarto e o encontro com ele no corredor me fez questionar se ele realmente era tão Ruim assim.