2. Primeira impressão
Acordei cedo naquela manhã, antes mesmo do sol surgir completamente sobre Nova Iorque. A cidade, ainda envolta por uma bruma fina, começava a despertar, e eu senti uma pontada de nervosismo misturada a expectativa. Levantei-me com cuidado, sentindo o peso da responsabilidade que me aguardava, mas também o entusiasmo silencioso de iniciar algo novo. O apartamento ainda cheirava levemente a tinta fresca e móveis recém-colocados, lembrando-me de que cada detalhe daquele espaço simbolizava o meu recomeço.
Enquanto tomava banho, observei meu reflexo no espelho, tentando absorver cada sensação. O rosto carregava sinais de noites insones, reflexo das lembranças do passado que ainda insistiam em me acompanhar, mas havia também firmeza na expressão. O cabelo, ainda úmido, penteei cuidadosamente, prendendo-o de forma elegante, transmitindo disciplina e cuidado. Vestir-me foi um exercício de atenção: optei por uma camisa branca impecável e uma saia de corte clássico, complementadas por sapatos discretos, mas elegantes. Cada detalhe tinha de refletir a profissionalidade que eu buscava demonstrar.
Antes de sair, revisei mentalmente as instruções que recebera durante a entrevista, os nomes dos colegas que me apresentariam e as tarefas iniciais que esperavam por mim. Um último olhar pelo apartamento reforçou a consciência de que, a partir daquele dia, minha vida seguiria um rumo diferente. Respirei fundo e peguei minha bolsa, sentindo uma mistura de ansiedade e determinação enquanto saía pela porta do prédio.
Ao caminhar pelas ruas ainda silenciosas, observei Nova Iorque despertar lentamente. O ar fresco da manhã carregava o som distante dos primeiros ônibus e das pessoas que apressavam o passo para chegar ao trabalho. Cada esquina parecia anunciar a magnitude da cidade, intensa, implacável, mas cheia de oportunidades. Mantive os ombros retos e a postura firme, consciente de que aquele dia exigiria não apenas competência, mas também autocontrole diante de cada desafio que surgisse.
Chegar ao prédio da empresa foi intimidador. A fachada de vidro refletia a cidade e os arranha-céus vizinhos, criando uma sensação de imponência quase esmagadora. Ao atravessar as portas automáticas, fui imediatamente envolvida pelo ambiente climatizado e organizado. O recepcionista, educado e eficiente, confirmou minha chegada e indicou o caminho até a sala do que seria então, meu chefe.
Enquanto caminhava pelos corredores, meu coração acelerava. Cada passo reverberava levemente, misturando nervosismo e expectativa. O edifício respirava formalidade e poder, e a sensação de ser observada o tempo todo era o que mais me incomodava. Ao chegar à porta da sala, empurrei-a com cuidado e fui imediatamente confrontada pela presença dele.
Ele estava de pé, revisando documentos, a postura impecável. Ao erguer os olhos, nossos olhares se encontraram, e senti uma pontada de surpresa e algo mais difícil de definir percorrer meu corpo.
—Sim, você pode entrar.—Disse ele com ironia.
—Me desculpe, estava distraída.— me defendi.
A autoridade que emanava era inegável, a presença marcante e ao mesmo tempo intimidadora. Ele era alto, ombros largos, moreno, com queixo quadrado e olhos escuros penetrantes que pareciam analisar cada detalhe. O cabelo, também escuro, estava perfeitamente penteado, transmitindo disciplina. Não pude negar a atração que sentia, mesmo que meu julgamento inicial o classificasse como arrogante.
“Você deve ser Mia,” disse ele, a voz firme, controlada, preenchendo o ambiente sem soar rude. Balancei a cabeça, confirmando, e ele fez um gesto breve para que eu me aproximasse. Cada passo em sua direção parecia amplificar a tensão silenciosa que surgia entre nós. Ele conduziu-me pelos corredores, apresentando rapidamente alguns colegas, explicando de forma concisa as funções do departamento e destacando o ritmo intenso do trabalho. A primeira impressão que tive dele reforçava a combinação de exigência e magnetismo que eu já notara na entrevista.
Ao chegarmos à minha estação, organizei rapidamente meus pertences. O espaço era funcional, moderno, bem iluminado, e projetado para máxima produtividade. Ele permaneceu por alguns minutos, explicando as tarefas iniciais e destacando expectativas. A firmeza da voz e a precisão das instruções deixavam claro que esperava resultados impecáveis. Cada gesto dele, mesmo ao apontar um detalhe nos documentos, transmitia controle absoluto e uma presença quase hipnótica. Eu me concentrei em absorver cada orientação, embora a tensão que surgia de sua proximidade fosse inegável.
Durante a manhã, fui responsável por organizar agendas, preparar documentos e lidar com comunicações internas. Ele passava ocasionalmente, observando com atenção silenciosa, sem intervir diretamente. Cada aproximação dele aumentava a consciência de meu próprio corpo: um leve arrepio, a respiração mais rápida, o coração que insistia em acelerar. Era uma sensação que não podia ignorar, mesmo tentando concentrar-me no trabalho. Ele parecia perceber cada detalhe, cada movimento, como se avaliasse não apenas minha competência, mas também minha postura e determinação.
Em determinado momento, um documento importante estava fora do lugar. Enquanto reorganizava os arquivos, ele se aproximou silenciosamente, observando cada gesto. Ao terminar, ouvi apenas um: “Ótimo. Verifique sempre os detalhes antes de enviar.” A simplicidade da frase carregava aprovação e reconhecimento, e senti um misto de alívio e uma estranha excitação silenciosa diante de sua presença. Era algo novo, desconcertante e, ao mesmo tempo, fascinante.
Durante a pausa para o café, observei-o de longe, analisando documentos, falando com colegas, sempre com postura impecável e expressão séria. Mesmo à distância, havia algo na maneira como ocupava o espaço que prendia minha atenção. Retornei rapidamente à minha mesa, tentando concentrar-me nas tarefas, mas consciente de que cada aproximação dele, cada comentário direto, carregava uma tensão silenciosa. Não é como se estivesse apaixonada, até porque no momento não tenho cabeça para isso, mas algo nele faz com que eu o observe além do costume.
Ao final do expediente, revisei todas as tarefas, conferindo cada detalhe para garantir que não houvesse erros. Ele aproximou-se mais uma vez para verificar alguns documentos, e nosso olhar se cruzou por um instante prolongado, suficiente para que uma sensação intensa percorresse meu corpo. A tensão que eu sentia não era apenas física, mas emocional — um misto de fascínio, e atração que eu ainda não compreendia completamente.
Ao caminhar para a saída, respirei profundamente, absorvendo o ar fresco da tarde e refletindo sobre o dia. O primeiro dia havia sido intenso: desafiador em termos profissionais, mas também revelador em termos pessoais. Eu havia enfrentado a rigidez e a formalidade do ambiente, cumprido todas as tarefas e, ao mesmo tempo, percebido a complexidade da presença dele, que misturava autoridade, magnetismo e uma tensão sutil.
Enquanto atravessava a porta de vidro do prédio, sentindo o calor suave do final de tarde, percebi que aquele dia havia sido mais do que um teste de competência. Havia sido também um teste de autocontrole e percepção, e eu sabia que os próximos dias seriam igualmente desafiadores.