Traída na véspera do casamento pelo noivo e pela melhor amiga, Isabela vê seu mundo desmoronar diante dos olhos de todos. Humilhada e com o orgulho ferido, ela toma uma decisão impensada: aceitar a proposta de um estranho misterioso que surge no momento mais improvável. Leonardo Vasconcellos é um homem poderoso, reservado e cercado de segredos. Ele precisa de uma esposa para cumprir uma exigência familiar e garantir sua herança. Ela precisa de uma saída — e de uma nova chance de recomeçar. O acordo é simples: um casamento de conveniência, sem espaço para sentimentos. Mas quando as barreiras começam a ruir e a convivência revela feridas escondidas e verdades silenciadas, o que era apenas um contrato se transforma em algo mais profundo. Isabela descobre que nem todo amor nasce de forma perfeita — às vezes, ele floresce das cinzas da dor. E quando o passado bate à porta, disposto a reescrever a história, ela precisará decidir entre o homem que a destruiu… e aquele que, sem querer, a ensinou a amar de novo.
Ler maisO buquê ainda estava em suas mãos quando o mundo desabou.
Isabela encarava o reflexo no espelho do salão onde se preparava para o que deveria ser o dia mais feliz de sua vida. O vestido branco, cuidadosamente escolhido meses antes, parecia agora um lembrete cruel de tudo que estava prestes a perder. As mãos tremiam, mas seus olhos permaneciam fixos — determinados, quase vazios.
— Você viu isso? — A voz de Clara, sua prima e madrinha, ecoou atrás dela, carregada de incredulidade.
Isabela não respondeu. O celular ainda brilhava com a imagem que havia recebido minutos antes: Thiago, seu noivo, em um quarto de hotel. Não sozinho. Ao lado de Marina. Sua melhor amiga. Os dois rindo, despreocupados, envoltos em uma intimidade que destruía qualquer ilusão.
Traição.
Na véspera do casamento. Sem aviso, sem hesitação, sem culpa.
Isabela engoliu em seco. Sentia o peito apertado, como se algo estivesse tentando escapar — talvez o orgulho, talvez a raiva. Talvez os dois. E no fundo, uma voz insistente repetia: Você foi enganada. Ridicularizada. Diminuta.
— O que vai fazer? — Clara sussurrou, em choque.
Isabela se levantou com lentidão, alisando o vestido como se ainda houvesse algo a salvar naquele dia. Não chorou. Não gritou. A dor era tão profunda que parecia paralisante. Mas seus olhos, antes cheios de sonho, agora transbordavam de algo novo: fúria. E dignidade.
— Eu vou entrar naquela cerimônia — disse com a voz firme. — Mas não com Thiago.
— O quê?
— Se ele pode me humilhar, eu posso surpreendê-lo. Ninguém mais vai me fazer de idiota.
Ela saiu do salão como um furacão silencioso. Cada passo era movido por um impulso que ela ainda não entendia, mas sabia que não podia ignorar. O som dos convidados chegando, os olhares curiosos, as flores impecáveis decorando o salão luxuoso… tudo aquilo parecia parte de um teatro ridículo.
Foi então que ela o viu.
No bar do hotel, de terno escuro e olhar atento, Leonardo Vasconcellos parecia deslocado da cena. Alto, imponente, com um ar de indiferença que mais parecia uma armadura. Um homem que, claramente, não estava ali para festas. Mas seus olhos encontraram os dela como se soubessem exatamente o que estavam procurando.
Sem pensar, Isabela se aproximou. Ainda não sabia seu nome, sua história, suas intenções. Só sabia de uma coisa: ele era um desconhecido. E isso era tudo o que ela precisava.
— Preciso de um marido — disse ela, encarando-o nos olhos. — Agora.
Leonardo arqueou uma sobrancelha, surpreso… e curioso.
Leonardo a observou por um longo instante. Seu olhar não era de alguém surpreso com o absurdo da proposta — era de alguém que estava analisando friamente as possibilidades. Como se, de fato, considerasse aquilo uma oportunidade.
— Está falando sério? — ele perguntou, recostando-se no balcão, com a taça de uísque ainda pela metade.
— Mais do que estive em toda a minha vida — respondeu Isabela, mantendo o queixo erguido. — Meu noivo me traiu. Com a minha melhor amiga. E agora tem uma cerimônia armada, trezentos convidados esperando, um buffet que me custou o valor de um carro e uma imprensa local pronta para registrar tudo. Eu só preciso de um marido. Alguém que entre comigo naquela igreja e me salve do ridículo.
Leonardo girou o copo nas mãos, silencioso. Estava estranhamente calmo, como se aquela proposta absurda tivesse um lugar na rotina dele. Quando finalmente respondeu, sua voz saiu baixa e controlada:
— Eu sou Leonardo Vasconcellos. E não sou exatamente um homem desconhecido. Se disser meu nome em voz alta, metade das pessoas aqui vai reconhecer. Isso te incomoda?
— Desde que entre comigo no altar, pode ser o diabo em pessoa.
Ele soltou um leve sorriso com o canto da boca. Um sorriso perigoso. Calculado.
— Bom, então talvez você tenha sorte. Eu não sou o diabo… mas também não sou um santo.
Isabela cruzou os braços, impaciente.
— Vai aceitar ou não?
Ele largou o copo no balcão e ajeitou a gravata.
— Com uma condição — disse, com os olhos fixos nela. — Se eu fizer isso por você hoje, você fará algo por mim depois. Um acordo. Um contrato. Formal.
Ela franziu a testa.
— Que tipo de acordo?
— Eu preciso de uma esposa. De fachada. Por tempo determinado. Razões familiares. Se disser sim agora, vamos subir naquele altar, você salva seu orgulho e eu resolvo meu problema. Depois… discutimos os detalhes.
Havia algo nele que provocava medo e fascínio ao mesmo tempo. Aquela frieza calculada, aquele olhar de quem está acostumado a negociar o mundo inteiro como um tabuleiro de xadrez.
— Tudo bem — disse Isabela. — Mas saiba de uma coisa: eu não sou uma mulher fácil de manipular.
— Ótimo — respondeu Leonardo, com um leve levantar de sobrancelha. — Eu odeio pessoas fáceis.
Dez minutos depois, Clara quase desmaiou quando viu Isabela surgir no altar com um homem completamente diferente ao seu lado.
O burburinho entre os convidados foi imediato. A música continuava tocando, os fotógrafos clicando, mas os olhares se desviavam de Thiago, ainda parado no altar, confuso, para o novo casal que avançava com passos firmes.
Isabela andava com a cabeça erguida, como se aquela cena tivesse sido planejada desde sempre. E mesmo que por dentro ainda sentisse o estômago revirado, sua alma gritava com um prazer silencioso ao ver a expressão de choque no rosto de Thiago.
Leonardo, ao seu lado, caminhava com elegância. Como se tivesse feito aquilo mil vezes. Como se não fosse, também, um intruso naquela história.
Quando os dois pararam diante do altar, o silêncio foi cortado pela voz embargada do celebrante:
— P-podemos... começar?
Isabela olhou nos olhos de Leonardo. Ele inclinou o rosto discretamente e sussurrou:
— Se quiser fugir agora, ainda há tempo.
Ela segurou a mão dele com firmeza.
— Não. Isso aqui é só o começo.
— E eu preciso de uma esposa — respondeu calmamente. — Talvez hoje seja nosso dia de sorte.
O jantar naquela noite foi uma das experiências mais desconfortavelmente intensas da vida de Isabela. Beatriz conversava, fazia perguntas triviais, falava sobre negócios da família Vasconcellos... mas tudo parecia um som distante. Sua atenção, sua pele, seus sentidos... estavam completamente conscientes da presença de Leonardo.E ele não facilitava.A cada vez que cruzavam olhares, era como se um fio elétrico passasse entre os dois, acendendo algo impossível de ignorar. O toque dos dedos dele, quando acidentalmente encostavam, parecia queimar. O modo como a voz dele arrastava seu nome... era o suficiente para fazer seu corpo inteiro se arrepiar.Quando Beatriz se despediu, deixando-os sozinhos na sala, o silêncio se instalou novamente — denso, pesado, carregado de tudo o que não foi dito.Isabela se levantou, pegando sua taça de vinho, fingindo naturalidade.— Eu... acho que vou subir.Leonardo cruzou os braços, recostado na parede, olhando-a como se quisesse despir cada camada dela —
O silêncio entre eles, no caminho de volta, não era mais incômodo. Era... carregado. Como se qualquer palavra pudesse acender o pavio de algo que ambos vinham segurando tempo demais.Quando chegaram na mansão Vasconcellos, Isabela desceu do carro ajeitando a bolsa no ombro, tentando, em vão, disfarçar o quanto suas mãos tremiam. Leonardo caminhava atrás, olhando cada movimento dela como se fosse uma extensão dos próprios pensamentos — e desejos.Ao entrar, ela se virou para ele, tentando soar natural:— Vou subir... trocar de roupa. — disse, com a voz mais firme do que imaginava ser capaz no meio daquela tempestade interna.— Não. — Leonardo respondeu, seco, cruzando os braços, com aquele tom imperativo que ele dominava tão bem.Ela arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços também.— Não?Ele deu dois passos à frente, encurtando perigosamente a distância entre eles.— A gente precisa conversar, Isabela. — Sua voz soava grave, baixa, rouca... e tinha pouco a ver com palavras e muito
O carro deslizava pelas ruas de Montserra, cortando o trânsito como se o mundo inteiro estivesse se curvando para aquele momento acontecer. No banco de trás, Isabela mantinha os olhos fixos na janela, mas não via a paisagem. Sua mente fervilhava, o peito parecia apertado, e as mãos tremiam — não de medo, mas de raiva, de indignação... e de uma adrenalina que ela nunca sentiu antes.Leonardo, sentado ao seu lado, não desgrudava os olhos dela. Havia algo diferente ali. Uma energia, uma força que ia além da sede de justiça. Ela estava... linda. Não apenas pela beleza que ele já conhecia, mas pela postura, pela determinação. Aquela mulher que encararia o mundo de cabeça erguida... e ele não pôde evitar de se perguntar, em silêncio, como diabos foi que ele resistiu tanto tempo àquilo.— Tem certeza que quer fazer isso? — Sua voz saiu mais rouca do que ele pretendia, enquanto o olhar deslizava dos olhos dela para os lábios, quase sem perceber.Isabela respirou fundo e se virou, encontrando
O clima estava pesado na mansão dos Vasconcellos. Leonardo caminhava de um lado para o outro no escritório, impaciente, enquanto Isabela observava da poltrona, abraçando os joelhos. Cada minuto parecia uma eternidade desde que Rafael prometera trazer informações concretas.Isabela apertava o tecido da própria blusa, o coração batendo descompassado. Ela já sentia no fundo da alma que não iria gostar do que estava prestes a descobrir.O som da notificação no celular quebrou o silêncio. Leonardo pegou o aparelho imediatamente, leu a mensagem e, com um suspiro pesado, levantou o olhar para ela.— É ele. — informou. — Rafael está aqui.Poucos minutos depois, Rafael entrou no escritório, com uma expressão tensa. Sua postura, sempre descontraída, agora estava rígida, e seus olhos mostravam claramente que o que ele trazia não era nada fácil de dizer.— Descobriu? — Leonardo foi direto.Rafael assentiu, respirando fundo.— Descobri. E vocês não vão gostar. — Olhou diretamente para Isabela, sér
O silêncio reinava no carro enquanto Leonardo conduzia, olhando fixamente para a estrada. Sua mão apertava com força o volante, e seu maxilar estava travado. Isabela, no banco ao lado, observava-o de relance, sentindo a tensão exalar dele como se fosse palpável.Depois do episódio com Thiago, nada mais parecia exatamente no lugar. A segurança que ela começava a sentir ao lado de Leonardo estava balançada, não por ele, mas pelo medo do passado que insistia em persegui-la.— Você tá bem? — Leonardo perguntou, finalmente, sem tirar os olhos da estrada. A voz estava mais baixa, mas carregada de preocupação.Isabela respirou fundo.— Estou... ou tentando estar. — respondeu, olhando pela janela. — É como se o passado não me deixasse seguir em frente. Como se ele fizesse questão de me lembrar que eu nunca vou ser suficiente.Leonardo apertou mais forte o volante e desviou rapidamente o olhar para ela.— Nunca mais diga isso, Isabela. Nunca. — Sua voz estava mais firme agora. — Você é mais do
Isabela descia os degraus da mansão com o coração disparado, as mãos frias e as pernas tremendo. A cada passo, a ansiedade tomava conta do seu corpo. Ela apertava com força a mão de Leonardo, como se aquilo fosse o único elo que a mantinha de pé.— Respira, Isa. — Leonardo disse com a voz firme, embora o olhar dele denunciasse que também estava preparado para qualquer coisa. — Você não precisa temer ninguém. Eu estou aqui.Quando chegaram à entrada da mansão, os seguranças estavam posicionados, formando uma barreira humana na frente do enorme portão de ferro. Do outro lado, um homem andava de um lado para o outro, impaciente, exibindo aquele mesmo sorriso cínico que Isabela conhecia bem.Thiago.O homem que um dia ela amou. O homem que destruiu seu coração, que a humilhou e a deixou em pedaços... e que agora estava ali, como se tivesse todo o direito do mundo de invadir sua vida novamente.— Ele teve coragem de vir até aqui... — Isabela sussurrou, a voz saindo trêmula, porém carregada
Último capítulo