CAPÍTULO 4 A PARTIDA

A VIAGEM DE ELARA

Quando amanheceu, ele já estava de pé.

O terno pendurado na cadeira, o olhar perdido, o corpo pesado de cansaço e de raiva.

Desceu as escadas devagar. O som dos passos ecoou pelo mármore até o salão principal.

Marie estava na sala de jantar, arrumando a mesa com o mesmo cuidado de sempre.

O aroma de café fresco misturava-se ao perfume das flores.

Marie estava na sala de jantar, arrumando a mesa com o mesmo cuidado de sempre. O aroma de café fresco misturava-se ao perfume das flores.

— Bom dia, senhor. — cumprimentou ela, respeitosa. — Eu não sabia que o senhor havia retornado ontem à noite.

Ele puxou a cadeira e sentou-se, a voz ainda rouca:

— Onde está a Elara?

Marie parou por um instante, com a mão sobre a jarra de café.

— A senhora Elara viajou, senhor.

— Viajou? — Ele franziu o cenho. — Para onde?

— Não sei, senhor. — respondeu ela, com calma. — Ela saiu com as malas na mesma noite da formatura. Apenas se despediu e disse que não sabia quando voltaria.

Adric a observou, incrédulo.

— Disse quando retornaria?

— Não, senhor. Apenas pediu que eu não entrasse em contato e que, se o senhor perguntasse, dissesse que ela havia deixado um aviso no quarto.

O silêncio caiu sobre a mesa.

Ele respirou fundo, apoiando os cotovelos sobre o tampo.

— Merda... a formatura dela.

— Eu esqueci.

Marie baixou o olhar, sem comentar. Continuou a dispor as xícaras com seu costumeiro zelo, deixando-o com o peso do próprio esquecimento.

— E como ela estava? — perguntou ele, num tom mais baixo.

— Do mesmo jeito de sempre, senhor. — respondeu Marie. — Calma, educada... mas diferente. Havia algo no olhar dela.

Ele desviou o olhar, inquieto.

Tomou o café em silêncio, mas não sentiu o gosto.

Dobrou o guardanapo, levantou-se e disse:

— Marie, hoje eu não volto para casa.

— Tudo bem, senhor. — respondeu ela, com suavidade.

— Tenha um bom dia.

Ele apenas acenou e saiu.

Marie o observou pela janela enquanto o carro desaparecia portão afora, e murmurou baixinho:

— Que os ventos guiem essa história para longe da dor, senhor.

O relógio marcava oito da manhã quando Adric entrou no prédio da Valeforte Group. O terno impecável e o rosto tenso denunciavam a insônia da noite anterior.

O som dos saltos ecoou pelo corredor de mármore antes que a porta se abrisse.

Marla já estava lá, pontual como sempre, com uma pasta de couro nos braços e o perfume delicado invadindo o ambiente.

— Bom dia, senhor Valeforte. — disse ela, entregando a agenda. — O senhor tem reunião com os investidores às dez, e o diretor de contratos já confirmou presença.

Ele assentiu, pegando o papel sem olhar diretamente para ela.

— Obrigado.

Marla hesitou, observando o semblante abatido dele.

— Descobriu onde a sua esposa está?

Adric levantou o olhar, breve.

— Ainda não. Marie disse que ela viajou no mesmo dia da formatura dela.

— No mesmo dia? — Marla arqueou as sobrancelhas. — E o senhor não foi?

— Não. — respondeu, seco. — Eu estava em Ibiza, resolvendo contratos. E, sinceramente, nem lembrei da formatura. Acredito que isso tenha deixado ela chateada.

Marla apoiou a pasta na mesa e cruzou os braços.

— E ela precisava levar todas as coisas dela?

— Não sei. — murmurou ele. — Vou descobrir quando ela voltar.

— E quando ela volta?

— Também não sei. Marie disse que ela não avisou. Apenas saiu, com as malas, naquela noite.

Marla franziu o cenho, fingindo preocupação.

— Será que ela está planejando alguma coisa?

Adric suspirou, cansado.

— Não sei, mas vou ligar para a empresa dela. Talvez o primo dela saiba de algo.

Pegou o celular, discou o número de Patrick Vasquez e esperou a chamada.

O tom de voz do outro lado foi firme e cordial.

— Patrick Vasquez falando. Bom dia.

— Bom dia, Patrick, Aqui é Adric. — respondeu. — Você esteve na formatura da Elara?

— Não. — respondeu o primo, surpreso. — Ela nem avisou. E, para ser sincero, eu não estava em Nova York.

— Entendo. — disse Adric. — Eu também não. Estava na Europa, resolvendo contratos. Ela só deixou um bilhete para mim, dizendo que ia viajar.

— Sim. — confirmou Patrick. — Ela me comunicou que pediria férias. Disse que eu continuaria como CEO das empresas até o retorno dela. Quando voltasse, apenas cumpriria o prazo do contrato que o Tixiu deixou no testamento.

— Então ela não pretende reassumir? — perguntou Adric, surpreso.

— Não. Ela foi bem clara, disse que não quer ser CEO. Que o desejo do pai era que eu mantivesse a gestão. Ela vai apenas participar das reuniões obrigatórias, mas quer distância de tudo.

Adric passou a mão pelo rosto, tenso.

— Então você também não sabe para onde ela foi?

— Nem sabia que ela tinha viajado. — respondeu Patrick, sincero. — Só disse que precisava descansar. Que a faculdade foi exaustiva e que ainda não superou a morte do Tixiu.

— Eu tentei ligar para ela. — comentou Adric. — O celular está desligado.

— Sim, ela falou que ficaria off-line por tempo indeterminado. — confirmou Patrick. — Disse que precisava tirar férias de tudo e de todos.

O silêncio pairou entre os dois por alguns segundos.

— Certo, — disse Adric, por fim. — Se souber de algo, me avise.

— Pode deixar. — respondeu Patrick. — E… cuide-se, Adric.

— Você também. — encerrou a ligação.

O telefone deslizou lentamente pela mesa.

Marla o observava de canto de olho, tentando medir a reação dele, mas Adric não demonstrou nada. Apenas ficou ali, com o olhar distante, sentindo — talvez pela primeira vez — o vazio real que Elara havia deixado.

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