O CONVITE — Camareira nova? — perguntou uma das veteranas quando entrei no alojamento feminino, no deck inferior. — Sim. Primeira viagem. — respondi, com a voz baixa. Ela riu, mostrando um sorriso cansado. — Bem-vinda ao paraíso dos outros, querida. Aqui, a gente trabalha para que eles acreditem que o céu existe sobre o mar. Olhei ao redor. As camas eram estreitas, o teto baixo, e o cheiro de sabão misturava-se ao sal do oceano que entrava pelas frestas. Nada ali lembrava os hotéis cinco estrelas em que eu costumava dormir. E, ainda assim, havia algo de reconfortante naquela simplicidade. O Ocean Mirage tinha 14 andares. Cassinos, restaurantes com chefs premiados, piscinas de borda infinita, teatro, galeria de arte, cabines que pareciam palácios — e, abaixo de tudo isso, os corredores discretos onde nós, os invisíveis, vivíamos e mantínhamos o espetáculo funcionando. Meu primeiro dia começou antes do amanhecer. O rádio preso ao cinto chiava com as instruções da supervisora:
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