Eles nasceram herdeiros. Cresceram como inimigos. Mas o destino os reuniu como aliados — e talvez, algo mais. Charlotte Winters e Alexander Reed foram moldados por famílias rivais, treinados para liderar impérios e desconfiar de tudo, inclusive um do outro. Quando uma denúncia anônima ameaça derrubar as duas corporações, eles se veem obrigados a trabalhar juntos para desvendar uma rede de fraudes, mentiras e segredos enterrados há décadas. Enquanto seguem pistas que cruzam fronteiras e desafiam lealdades, Charlotte e Alexander enfrentam não apenas um inimigo oculto, mas também a tensão crescente que insiste em reabrir antigas feridas — e desejos que nunca foram totalmente enterrados. No centro da trama, uma figura misteriosa conhecida apenas como V.K. movimenta peças com precisão cirúrgica, colocando vidas, legados e verdades em risco. Entre alianças improváveis, revelações familiares e escolhas impossíveis, Charlotte e Alexander precisam decidir: o que sobrevive quando o passado queima? O poder ou o amor? Herança de Fogo é um romance intenso sobre identidade, legado e as cicatrizes que herdamos — e aquelas que escolhemos carregar.
Ler maisCharlotte Winters odiava atrasos
Quando entrou na sala de reuniões, o silêncio era uma armadilha bem montada. Todos já estavam sentados. Inclusive ele. Alexander Reed levantou os olhos do tablet como quem observa uma peça entrando no tabuleiro. Um leve sorriso curvou seus lábios, mais provocação do que cortesia. — Sra. Winters — disse, com aquele tom que parecia sempre dois passos à frente. Charlotte pousou a pasta sobre a mesa de vidro, sem se sentar. Seu olhar percorreu a sala como uma lâmina afiada, mas foi nele que parou — firme, frio, e quase imperceptivelmente curioso. — Sr. Reed. Espero que essa fusão traga algo mais produtivo do que o seu charme duvidoso. Era o primeiro encontro formal entre os dois, representantes de famílias rivais, agora forçados a cooperar em um negócio bilionário. Mas não havia nada de cordial ali. Era guerra disfarçada de parceria. E nenhum dos dois estava disposto a perder. Alexander recostou-se na cadeira de couro, cruzando as mãos sobre o peito com uma expressão de quem já conhecia o desfecho do jogo. — Duvidoso é uma palavra forte. Eu prefiro... inegável — respondeu ele, calmamente. — Mas não se preocupe, Charlotte. Estou aqui apenas pelos números. Ela finalmente se sentou, com a elegância calculada de quem sabe que cada gesto comunica poder. O silêncio se manteve por um segundo a mais do que o confortável, até que Charlotte abriu sua pasta e começou a distribuir os documentos da fusão. — Ótimo. Porque os números são a única coisa que me interessam, Alexander. Emoções não constam na contabilidade. — Que pena. Elas tornam tudo muito mais... lucrativo. Ela não respondeu. Não precisava. O olhar que lançou bastava para calar qualquer outra tentativa de charme barato. Charlotte era filha de Richard Winters, o homem que transformou uma empresa familiar em um império global — e que agora, por ironia ou destino, exigia que sua filha dividisse o trono com um Reed. Do outro lado da mesa, Alexander escondia o desconforto por trás da pose relaxada. Por mais que quisesse jogar com a leveza que o tornava temido e admirado no mercado, sabia que com Charlotte o jogo era outro. Ela não reagia. Ela contra-atacava. E isso o intrigava mais do que gostaria de admitir. O diretor financeiro pigarreou, tentando puxar a atenção de volta ao contrato na tela. — Bem... se puderem focar nas cláusulas da fusão, temos uma longa manhã pela frente. Charlotte virou a página. Alexander também. Mas nenhum dos dois leu de fato. Naquela sala, entre cifras e cláusulas, uma nova guerra começava. E nenhum deles estava preparado para o que viria. *** Ponto de vista: Alexander Reed Charlotte Winters era tudo o que diziam — e pior. Precisa, impenetrável, afiada como uma lâmina recém-afiada. Ela entrava em uma sala como quem assume o controle de uma crise, como se até o oxigênio precisasse da permissão dela para circular. E aquilo não deveria incomodá-lo tanto. Mas incomodava. Alexander sempre tivera facilidade em ler pessoas. Executivos, políticos, acionistas — todos tinham um ponto fraco. Com charme e inteligência, ele os encontrava. Quebrava resistências, moldava alianças, conseguia o que queria. Mas Charlotte era um muro. Pior: um espelho. Refletia suas tentativas com frieza e devolvia cada palavra com uma precisão cirúrgica. Ele observava seus movimentos com atenção. A forma como ela distribuía os documentos, como não se apressava — não por descaso, mas por tática. Era uma estrategista. E não apenas nos negócios. Ela está jogando, pensou. E isso o deixava... curioso. Mas não podia demonstrar. Não ali. Não com metade da diretoria das duas empresas presente. A fusão era um casamento forçado. Uma jogada de poder entre famílias que, no fundo, se odiavam mais do que admitiam. O pai de Charlotte havia aceitado a proposta por conveniência, o dele, por sobrevivência. E agora, os dois filhos eram obrigados a trabalhar juntos — lado a lado, ou frente a frente. Alexander voltou a olhar para ela. Charlotte não desviou o olhar. Não piscou. Era um duelo silencioso, mas intenso. Como se tudo estivesse prestes a explodir, mesmo que nada tivesse sido dito em voz alta. Essa mulher vai me destruir ou me fazer rir disso tudo um dia, pensou. Talvez os dois. *** Ponto de vista: Charlotte Winters Alexander Reed tinha o dom irritante de transformar arrogância em charme — e pior ainda: de quase convencer que era natural. Charlotte o conhecia de nome, de fama, de estatísticas. Sabia o quanto ele era eficiente, o quanto sua presença desestabilizava executivos veteranos e o quanto o mercado o respeitava. Mas ela também sabia ler por trás da pose. E o que via não a impressionava. Havia nele algo... performático. Controlado demais, como se a cada frase estivesse vendendo uma versão de si mesmo. E Charlotte não comprava ilusões. Ela estudou os traços dele enquanto fingia revisar a cláusula de confidencialidade. Ele sabia que estava sendo observado — e gostava. Aquele sorriso contido, quase um desafio, não era casual. Era cálculo. Mas havia uma sombra nos olhos dele que poucos perceberiam. Charlotte percebia tudo. E era exatamente por isso que o odiava tanto quanto respeitava. Você j**a bem, Reed. Mas não melhor do que eu, pensou, mantendo o rosto neutro. Herdeira de um império construído à base de sacrifícios e frieza, Charlotte havia sido treinada para não se apegar, não hesitar, não confiar. Alexander representava tudo o que ela sempre evitou: instabilidade, risco... e aquele tipo de carisma perigoso que mexe com instintos que deveriam estar enterrados sob toneladas de autocontrole. Quando os olhares se cruzaram novamente, ela não desviou. Não podia. Porque naquele jogo, o primeiro a piscar... perde. Ela se recostou na cadeira, cruzando as pernas devagar. Sabia o que aquele gesto causava. Sabia que ele notaria. Era uma guerra silenciosa, mas com armas afiadas. E o mais irônico? Ela não sabia dizer se queria vencê-lo... ou apenas mantê-lo jogando.Charlotte estendeu a mão, devagar, tocando o rosto dele. O beijo foi inevitável. Quente, contido apenas pelos segundos iniciais — até que as mãos dele encontraram sua cintura, puxando-a com firmeza, e a tensão que os consumia há dias explodiu entre eles. Ela subiu em seu colo sem hesitar. Seu corpo se encaixava no dele como se tivessem sido moldados para aquele instante. Não era só desejo — era urgência. Fome. E também raiva. Pela espera, pela negação, pelo orgulho que os impediu de chegar ali antes. foram para um quarto apressados o quarto estava mergulhado em penumbra, iluminado apenas pelas luzes distantes da cidade refletindo nas janelas. Assim que a porta se fechou, os corpos se buscaram com uma pressa que vinha do silêncio, da saudade não dita, dos olhares que prometeram mais do que palavras poderiam.Alexander a encostou contra a parede, os lábios percorrendo sua pele com uma devoção feroz. Charlotte não recuou — puxou a camisa dele com mãos ávidas, como quem rasga uma dúvi
Tudo começou com uma falha no padrão dos ataques. Após a captura de Katarina Vaughn, a força-tarefa montada por Charlotte e Alexander analisava todos os ataques cibernéticos e vazamentos. Um detalhe chamou atenção:> As transferências criptografadas usavam um protocolo de autenticação dos anos 90.— Isso não faz sentido — disse Charlotte, observando os logs no laptop. — Por que alguém moderno usaria um padrão tão antigo?Alexander olhou mais de perto.— A não ser que quisesse parecer novo, mas estivesse tentando esconder algo muito velho.Foi então que Lina, a analista da força-tarefa, cruzou os dados com registros da fundação Winters-Reed, da década de 1990.> Um nome surgiu em transações antigas com assinaturas similares: Heinrich Keller.Mas o homem estava morto... ou assim todos pensavam.Ao aprofundar a investigação, descobriram que:Heinrich havia simulado sua morte com apoio de contas fantasmas.Katarina usava passaportes e empresas que, direta ou indiretamente, levavam a funda
As luzes de Puerto Madero refletiam no Rio da Prata, distorcidas como a verdade que eles perseguiam. Charlotte desceu do carro com passos decididos, o vento noturno chicoteando seus cabelos soltos. Ao lado dela, Alexander escaneava o entorno — olhar treinado, tenso, pronto para tudo.Lucien Deveraux marcara o encontro em um rooftop discreto. Ex-investidor das holdings, havia sumido após um escândalo abafado anos antes. Mas agora, com Katarina em movimento, ele reaparecia com algo que prometia mudar tudo.— Estamos sendo seguidos — murmurou Alexander, antes mesmo de entrarem no elevador.Charlotte assentiu. — Dois homens no carro prata. Mesmo padrão de Marselha.No topo, a cobertura estava quase vazia. Luzes baixas, uma única garrafa de vinho abandonada em uma mesa lateral. Lucien surgiu da sombra. Envelhecido, mas não vencido. Usava luvas pretas e um sobretudo que mais parecia farda de guerra.— Vieram rápido — disse ele, com um leve sotaque francês. — Mas talvez não rápido o suficien
O bar era o mesmo. Pequeno, quase esquecido, na esquina de Manhattan onde os pais deles assinaram seu primeiro acordo — e onde Charlotte e Alexander se viram pela primeira vez.Ela estava sentada num dos bancos altos. Vestia preto novamente, mas de forma mais leve. Soltou os cabelos. Um copo de vinho tinto pela metade. E um olhar que parecia segurá-lo mesmo antes de vê-lo.Ele entrou sem pressa.Machucado, mas vivo. A barba por fazer, uma cicatriz recente na mandíbula. Mas os olhos estavam ali. Os mesmos de sempre — claros, perigosos, difíceis de esquecer.Charlotte não se levantou. Apenas olhou.Alexander parou diante dela.— Parece que você salvou a empresa. A reputação do seu pai. A minha. O mundo inteiro.— Faltou você.Ele sentou ao lado, devagar. O silêncio entre eles era quase mais alto que a música ambiente.— Eu quase morri — disse ele, sem drama. — Pensei que era o fim.— Eu também.Ela virou-se. Não tocou. Mas chegou perto.— E mesmo assim... — a voz dela vacilou — eu não c
Os dados roubados do esconderijo de Katarina Vaughn abriram mais do que portas. Escancararam um esquema de infiltração que vinha crescendo há anos. Códigos ocultos em contratos, identidades falsas conectadas a fornecedores, desvios bancários mascarados como investimentos internacionais. A V.K. Capital não era apenas uma empresa fantasma — era um parasita alojado dentro das duas corporações. — Isso não é só espionagem — Charlotte murmurou, diante da projeção holográfica dos fluxos financeiros. — É sabotagem silenciosa. Progressiva. Alexander andava em círculos, inquieto. — Eles queriam que a fusão acontecesse. Katarina precisava unir as empresas para dar o golpe final de dentro. — E agora que sabem que estamos perto demais... Foi então que os e-mails começaram a chegar. Sede da Winters Holdings. Vazamento de dados. Sigilo corporativo quebrado. Imprensa na porta. Investidores exigindo respostas. Charlotte levantou-se de um salto. — É agora. — O ataque começou. — Eles vão me fo
endereço os levou a um galpão reformado nos arredores industriais de Viena. Disfarçado de empresa de armazenagem, o local tinha sensores de calor, câmeras escondidas e portas blindadas — todas controladas remotamente.— Ela está se escondendo à vista — Alexander murmurou, observando o prédio através de binóculos. — Um lugar desses não se constrói com raiva. Se constrói com plano.Charlotte digitava freneticamente no tablet.— Estou dentro do sistema dela. Só posso manter as câmeras inativas por três minutos.— Então entramos agora.Ambos vestiam roupas escuras, luvas, mochilas táticas. Um plano simples: entrar, copiar os dados, sair. Mas entre eles... nada era simples.Atravessaram a lateral do prédio e forçaram a entrada secundária. Lá dentro, a escuridão era quase total — exceto pela luz fraca de servidores piscando.Alexander guiava, Charlotte vigiava. Os dois em sintonia, mesmo no silêncio.— Você percebeu? — ela sussurrou.— O quê?— Que fazemos isso... como se já tivéssemos feit
Último capítulo