Laura fugiu do Rio de Janeiro juntamente com seu meio-irmão Caio, em busca de um recomeço e a chance de terem uma vida feliz e livre de abusos e torturas. Eles se mudaram para Boston, nos EUA, onde deram início a um novo ponto de partida. As coisas estavam indo como planejado, até seu caminho se cruzar ao de um homem rude, bonito e sedutor. Os dois engajam em um relacionamento romântico e complicado, no qual ela se permitirá viver o amor pela primeira vez. Porém, nem tudo será apenas paixão. Laura ficará perigosamente em risco quando alguém do seu passado ressurge para atormentar e causá-la dor novamente, mas ela nunca esteve mais protegida do que agora, nas mãos do perigo.
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Chegar a terras estrangeiras sem muito dinheiro no bolso e com poucas peças de roupas em uma mochila, não foi nada fácil. Por sorte, eu tinha o Caio – meu meio-irmão “postiço” – que jamais me deixou desamparada e sozinha. Quando fugimos de uma vida abusiva no Brasil, viemos para Boston, Massachusetts, em busca de vivermos livres pela primeira vez e conhecer o significado da palavra felicidade.
Apesar de não termos o mesmo sangue correndo nas veias, o nosso amor um pelo outro era incondicional. Ele era filho somente da minha madrasta. Roberta é uma mulher repugnante, que foi amante do meu pai por anos antes dele finalmente assumi-la como a sua mulher depois que a minha mãe morreu há seis anos.
O meu pai era um dos maiores traficantes procurados do Rio de Janeiro. O BOPE tinha uma sede infinita por sua cabeça, desde que me entendia por gente. Marcos Figueiredo comandava há quase trinta anos o tráfico de armas e drogas pela cidade e, principalmente, pelo morro da Rocinha. Um bandido temido pelo povo e respeitado pelos outros como ele, incluindo políticos corruptos. Marcos nunca foi um pai de verdade para mim. Ele sempre me machucou de diversas formas, assim como fazia com a minha mãe. Porém, nada do que já havia feito comigo, nem mesmo as agressões físicas, se comparavam ao dia em que permitiu que o meu irmão de sangue, Rodrigo, abusasse sexualmente de mim. Eu tinha apenas oito anos. Era uma menina frágil, pequena, inocente e assustada.
Rodrigo era dez anos mais velho. Naquela época, quando eu ainda era uma criança, acreditava que o meu irmão iria cuidar e proteger-me ao invés de me machucar tão brutalmente como fez. Ele não pensou duas vezes quando o meu pai ordenou que cometesse um crime bárbaro contra mim na frente da minha mãe, na sala de casa, como punição para nós duas por tentarmos fugir daquela vida de desgraça.
Até aquela noite eu amava o meu irmão, mas após longas e torturantes horas de abuso, aprendi a odiá-lo com toda a minha força e com cada célula do meu corpo. Desde aquela terça-feira de fevereiro, não houve uma noite que eu tenha tido paz no meu quarto. Rodrigo me visitava toda madrugada e ameaçava a nossa mãe caso eu corresse, resistisse ou gritasse. Eu suplicava, mas de nada adiantava. Então, para doer menos, ficava imóvel e muda. Nunca duvidei da sua crueldade e capacidade de fazer mal a quem o colocou no mundo. Ele era igual ao nosso pai. Quem sai aos seus, não degenera. Não é mesmo?
Sofri anos de angústia, depressão, medo, tristeza e dor. Assisti a minha mãe – a única pessoa que me amou verdadeiramente dentro daquela casa – morrer definhando à míngua sobre uma cama enquanto o meu querido pai se recusava a pagar o seu tratamento contra a leucemia. Ele era um homem sem escrúpulo algum, não tinha o mínimo de decência ou respeito pela esposa que escolheu a dedo em meio a centenas de outras garotas. Ele levava as suas amantes e outras vadias quaisquer para o quarto que pertencia a eles e passava a noite com elas, gemendo e gritando enquanto a minha mãe chorava de dor no quarto ao lado.
Depois da sua morte, comecei a sonhar com o dia em que me libertaria daquele mundo infernal. Quando Caio entrou na minha vida, juntos sonhamos com a nossa fuga e liberdade. Mas para isso era preciso ter uma boa grana e preparo. Primeiro, decidimos para onde ir. Quanto mais longe, melhor seria. Pensamos em várias cidades e países, até que chegamos a um lugar onde ele sempre quis viver: Boston, nos Estados Unidos. Não era tão longe quanto eu planejava, mas o suficiente para eu ter uma noite tranquila de sono.
Caio começou a trabalhar para o meu pai fazendo entrega de drogas, apenas se preparando para o que chamamos de “O Saque”. Com meses de planejamento, conseguimos roubar uma entrega de cocaína no valor de cem mil reais. Com a maioridade para sairmos do país, identidades falsas, destino definido e uma quantia razoável de dinheiro, fugimos deixando o Brasil sem olhar para trás em uma noite de tempestade.
Faz três meses que tínhamos conquistado a liberdade. Se você me perguntar a data exata de quando dei o meu primeiro sorriso honesto de alegria, saberei lhe dizer: treze de maio de dois mil e quinze. O dia em que pisei os meus pés no Aeroporto Internacional Logan.
— Sonhando acordada de novo? — perguntou Caio ao entrar no nosso apartamento.
— Sempre. — Sorri. — Como foi a noite de trabalho?
— Foi agitada e cheia de boas gorjetas — disse entusiasmado esfregando as mãos e jogando-se para trás sobre o sofá.
— Bom... Tem café na cafeteira e torradas sobre a pia. Já vou indo, senão me atraso.
Caminhei até ele e dei-lhe um beijo na testa, antes de sair para mais um dia de trabalho no Pop’s Coffee. Caio trabalhava à noite como barman enquanto eu era balconista de uma cafeteria movimentada no centro da cidade.
LORENZOOs almoços de domingo em família eram os melhores. Eu e vovô tínhamos um plano em ação. Ele iria finalmente pedir Steffania em casamento e eu fiquei muito feliz por isso. Antes a minha família era só eu e o papai, mas agora tínhamos a mamãe, Alícia, tio Caio e tia Angelita e não vamos nos esquecer do Jhonan, o meu priminho que estava a caminho crescendo na sua barriga.— Não pode colocar isso na boca, Alícia — disse para minha irmãzinha, tirando um guardanapo de papel da sua mão.Desde que ela aprendeu a andar, há alguns meses, tudo queria pegar e comer. Eu já havia dito que não podia, mas ela continuava a fazer e dizia-me coisas que só ela entendia.— Alícia, minha filha... Comendo guardanapo de novo? — perguntou a mamãe a ela, mesmo sabendo que não teria uma resposta. — Abra a boquinha, filha. Deixe-me ver se tem mais alguma coisa aí — falou inspecionando a sua boca.— Ela comeu guardanapo de novo ou foram flores dessa vez? — perguntou papai ao passar por nós com bebidas nas
ENZOTrês meses depois...Nada me fazia mais inteiro e feliz do que Laura e os nossos filhos. Ter Alícia pela primeira vez nos meus braços foi um sentimento tão pleno e repleto, assim como quando peguei Lorenzo pela primeira vez. Era indescritível a felicidade que morava dentro de mim. Ainda mais indescritível era o amor que sentia pelas minhas três joias mais raras e preciosas. Eu os amava e protegeria com a minha vida.— Um minuto da atenção de todos, por favor — pediu Caio, batendo sutilmente com um talher na sua taça de champanhe, após a sobremesa. — Em primeiro lugar quero agradecer a presença de cada um de vocês, aqui, esta noite. É muito importante para mim e Angelita, ter cada rosto amigo e familiar no nosso casamento. Obrigado de coração. Espero que todos estejam se divertindo.Depois de mais algumas pessoas oferecerem brindes aos recém-casados, era hora de dançar e beber. Bom... A parte do beber ficou para aqueles que não tinham duas crianças para ficarem de olho.— Mamãe! —
LAURAAmava de verdade estar à espera de um filho, mas nem tudo estava sendo às mil maravilhas como sempre li e ouvi as mulheres descreverem. Acho que na hora de falar sobre maternidade, elas se empolgam e esquecem-se de relatar as partes terríveis. Estar no final de uma gestação não era nada agradável.Maldita aquela que disse que estar grávida era o paraíso ou a oitava maravilha do mundo. Se você ouviu uma gestante dizer isso a você, referindo-se à gestação inteira, cuidado! Ela está mentindo. Esta mulher apenas quer que você pense que tudo é incrível para engravidar e viva a tortura de uma reta final que ela viveu, assim, não se sentirá sozinha no universo da maternidade.Desde o final do oitavo mês, eu não sabia o que era dormir, transar, ou vestir uma roupa e me achar bonita. E nem vamos falar dos pés e rosto inchados. Mas querem saber de uma coisa? Independente de tudo isso, eu mal podia esperar para estar com a minha filha nos meus braços e sentir o seu cheirinho único pela pri
LAURAOs dias foram se passando e tudo foi ficando para trás. Eu já me encontrava no sétimo mês de gestação e a minha cunhada Angelita decidiu que devemos fazer um chá de bebê para Alícia. Eu não tinha muitas amigas, mas estava começando novas amizades com as mulheres da máfia.Ela se encarregou de cuidar de tudo e no fim ficou perfeito. O chá foi no nosso jardim dos fundos e contamos com poucos convidados, que deram o total de cinquenta pessoas. Estava no meu quarto terminando de me arrumar quando uma leve batida soou na porta e Angelita passou por ela em seguida.— Está pronta? — perguntou ela sorridente vindo até mim.— Estou sim. — Levantei-me da penteadeira ao canto do quarto.— Tem algo que preciso muito te contar. — disse ela com um enorme sorriso no rosto.— O que é? Não me diga que também está grávida — falei com enorme ansiedade e curiosidade.— O quê? Não! Ao menos ainda não. Mas a notícia é que... — se interrompeu e estendeu-me a sua mão esquerda, onde vi um solitário da T
ENZOTomei o meu banho no banheiro do quarto de hóspedes e vesti com um terno limpo. Saí de lá e segui ao encontro com o Conselho, já estava quinze minutos atrasado. Ao chegar onde estavam todos reunidos, deixei claro a minha vontade de que a pena de execução fosse aplicada. O Conselho, em comum acordo com o meu pai e eu conselheiro pessoal, decidiram que a pena de morte por enforcamento seria aplicada.Mais tarde, quando o sol já havia se posto, liguei para casa para saber como estavam as coisas. Laura atendeu ao celular no primeiro toque.— Estava esperando a sua ligação. — Oi, meu anjo. Como estão as coisas por aí?— Tudo certo. E por aí?— Está tudo bem. Só liguei para dizer que eu amo vocês e para avisar que não irei chegar a tempo do jantar.— Tudo bem. Já esperava por isso. — Eu tenho que ir.— Nós também amamos você, Enzo.— Me espere acordada. Chegarei antes da meia-noite.— Claro. Até daqui a pouco.— Até, amor. Dê um beijo no nosso filho por mim.— Eu farei. Encerramos a
ENZOAcordei cedo e saí de casa antes que Laura acordasse. O sol ainda nem sequer brilhava direito no céu. Seria um dia cheio. Eu tinha um encontro com o meu novo carcereiro e depois outro encontro com o Conselho antes da execução de Melissa. Ainda havia tempo para a revogação da sentença e eu queria garantir que isso não aconteceria.Tomei o meu banho e me arrumei fazendo o mínimo de ruído possível para não acordar a minha esposa. Antes que passasse pela porta, parei e voltei para escrever um bilhete a ela, para que não ficasse preocupada comigo. Caminhei até o jarro com rosas de todas as cores sobre o aparador, próximo ao closet, e apanhei uma rosa branca voltando em seguida até a cama.Sobre o meu travesseiro, deixei a flor e o bilhete com uma pequena declaração de amor. Velei o seu sono por breves segundos observando o jeito que dormia de barriga para cima com a mão esquerda guardando o seu ventre que começava a crescer. Deixei o quarto e encontrei o meu pai no corredor.— Saindo
Último capítulo