O corredor parecia mais silencioso do que deveria para aquele horário. Todos já haviam saído, com exceção deles dois.
Charlotte saía da sala com passos decididos, quando ouviu a voz baixa e inconfundivelmente provocadora atrás de si:
— Então é assim que vai ser, Winters? Guerra fria logo no primeiro encontro?
Ela não parou imediatamente. Respirou fundo, manteve o controle. Só então se virou, com a mesma calma que usaria para analisar um contrato de vinte páginas.
— Alexander... Se está procurando calor, talvez devesse procurar outro tipo de parceria.
Ele riu baixo. Um som que parecia mais um teste do que uma reação genuína.
— Ah, mas você sabe que eu gosto de desafios.
Ela cruzou os braços. O blazer de corte impecável, o olhar firme. Aquilo não era flerte. Era duelo.
— O que você quer, Reed?
Ele se aproximou um passo. Só um. Respeitosamente próximo, perigosamente próximo.
— Saber o que você realmente pensa dessa fusão. Sem os advogados, sem o teatro. Só você e eu. Os herdeiros da bagunça que nossos pais deixaram.
Charlotte manteve o olhar, mas não respondeu de imediato. A verdade era que ela odiava aquilo. Odiava a ideia de dividir decisões. Odiava confiar em alguém como ele. E, mais ainda, odiava o fato de que, por um segundo naquela reunião, quase admirou a forma como ele conduzia uma sala.
Quase.
— Eu penso que vamos ter que conviver. Não precisa gostar de mim, Alexander. Só precisa ser competente.
— Que sorte a sua, então.
Ela arqueou uma sobrancelha. Ele sorriu, mas dessa vez, havia algo mais ali. Uma tensão mais densa, menos ensaiada. Por trás do jogo, havia curiosidade. Real, desconcertante.
— E você, Reed? — ela perguntou, já virando-se para ir embora — O que pensa dessa parceria?
— Acho que vai ser um inferno, Charlotte — respondeu ele, com sinceridade cortante. — Mas um inferno... interessante.
Ela não olhou para trás. Apenas continuou andando, com o som de seus saltos marcando o ritmo daquela guerra silenciosa.
E por algum motivo, sorriu sozinha quando entrou no elevador.
As portas do elevador se fecharam com um clique suave, abafando os ruídos do corredor. Charlotte encostou-se discretamente à parede de aço escovado, soltando o ar que segurava desde o fim da conversa com Alexander.
“Vai ser um inferno... mas um inferno interessante.”
As palavras dele ecoaram, e ela odiou o fato de que sorriu com elas. Não devia.
Ela apertou os olhos por um instante, como quem tenta expulsar um pensamento inconveniente.
Esse projeto era sobre poder. Legado.
Quando as portas do elevador se abriram no térreo, Charlotte saiu com a mesma firmeza de sempre. A mesma máscara. A mesma força.
Mas por dentro, sabia: Alexander Reed não era apenas um rival.
Ele era uma lembrança viva do que ela não podia — ou não queria — sentir.
***
A porta da sala de reuniões havia se fechado, mas a presença dela ainda pairava no ar.
Alexander apoiou as mãos na bancada de vidro, o olhar fixo na paisagem da cidade lá fora, tão fria e impassível quanto Charlotte. Era fascinante, e irritante, como ela conseguia afetá-lo sem mover um músculo.
Charlotte Winters.
Nome de realeza corporativa. Frieza de estrategista. Beleza cortante.
Mas não era isso que o inquietava.
O que o tirava do eixo era o que não conseguia ver nela. Ele era bom em decifrar pessoas. Sabia quando alguém hesitava, fingia ou cedia. Mas com ela... nada. Nenhuma brecha. Nenhuma falha.
Agora não eram mais filhos sob as ordens dos pais. Eram os donos do tabuleiro.
E ela j**a melhor do que eu imaginava.
Talvez até melhor do que eu.
Ele se afastou da janela, soltando um suspiro que não admitiria para ninguém. Charlotte era a única pessoa que fazia seu instinto de competição se confundir com algo mais difícil de nomear.
Não era atração.
Era algo entre fascínio e ameaça.
E isso era só o começo.