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St. Lawrence– Presente momento
Sofia
O vento do mar tinha um gosto salgado e suave, e o som das ondas parecia embalar meus pensamentos, como se quisesse me convencer de que a vida ainda podia ser simples. Eu observava meu filho, Vitor, brincar na beira da praia — uma faixa de areia estreita, cercada por rochedos escuros que pareciam guardar segredos antigos. A água, incrivelmente azul, formava pequenas espumas brancas ao se desfazer nas marolas, e cada estalo das ondas soava como um sussurro do tempo.
Atrás da praia, a vegetação densa exibia o verde vibrante das plantas tropicais, e as palmeiras altas dançavam ao sabor do vento quente. O sol, impiedoso, fazia cintilar a superfície do mar e se espalhava pela pele como fogo. Vitor, meu pequeno de um ano e meio, levantou uma conchinha branca com as mãozinhas ainda úmidas de areia. O sorriso dele era puro, um rasgo de luz no meio das minhas lembranças. — Linda! — sussurrei, inclinando-me sobre ele e sorrindo de volta. Ele respondeu com uma gargalhinha curta, como se tivesse compreendido o meu encanto. Olhei o relógio de pulso: dez horas. Tínhamos acordado tarde. Era sábado, e mesmo assim eu costumava vir à praia mais cedo, antes que o calor se tornasse tão intenso. O céu estava completamente limpo — nem uma nuvem para amenizar o brilho cortante do sol. Peguei Vitor pela mãozinha e o levei até a beira do mar. Lavei-lhe as perninhas e as mãos, observando a espuma envolver seus pés miúdos. Depois o ergui no colo. Ele protestou, agitando as pernas com força, inconformado por deixar a brincadeira. — Shiii… Vitor, vamos ver a Puppy? — murmurei perto do ouvido dele. Ao ouvir o nome da cachorrinha da vizinha, ele se acalmou de imediato e tentou pronunciar o nome com a inocência da infância: — Puuu… Sorri. — Isso mesmo, a Puppy. Seguimos pela pequena trilha que saía da praia. Era um caminho estreito, ladeado por mato baixo e salpicado de pequeninas flores amarelas e roxas, típicas dos lugares arenosos. O perfume leve da vegetação se misturava ao cheiro salgado do mar. Essa trilha levava até uma rua simples, de terra batida, que me conduzia em cinco minutos à minha casa — um lar pequeno, alugado, mas que eu chamava de meu refúgio. Antes de entrar, parei diante da casa da minha vizinha, Callie, para mostrar o cachorrinho ao Vitor. O poodle abanou o rabo com energia, e meu filho quis descer do colo, tentando se aproximar, ainda receoso de tocá-lo. Quando percebi que o sol começava a castigar sua pele clara, voltei a pegá-lo nos braços — o que, claro, gerou protestos infantis e choramingos. Cruzei o portão da minha casa, que rangia com o vento, e atravessei o quintal estreito. À direita e à esquerda, o que um dia fora um jardim agora se transformara num emaranhado de mato e flores secas. Entrei com ele e deixei a porta aberta para aliviar o calor abafado. Fui direto ao banheiro e enchi a pequena banheira com água morna. Assim que Vitor ouviu o barulho da água, o choro cessou. Tirei-lhe as roupinhas molhadas, e ele mergulhou feliz, brincando com o patinho de borracha. Apliquei shampoo em seus cabelos escuros, massageando com delicadeza. Aquele cabelo… era o mesmo do pai. Negro, denso, rebelde. Cada fio me fazia lembrar de Zahir. Vitor era a cópia viva dos Ayman — a mesma pele morena, o mesmo olhar profundo e inquisidor.Conheci Zahir Abulla Ayman quando eu trabalhava no Banco Golden, na área de aplicações financeiras. Ele era um dos meus clientes — um nome de peso, envolto em elegância e mistério. Na verdade, eu havia conhecido toda a família Ayman, pois a conta que Zahir movimentava pertencia à Naturalle, a indústria de cosméticos da família. De vez em quando, o irmão dele, Bashir, aparecia na agência para depósitos ou transferências, e a senhora Zaida Ayman — matriarca firme e de expressão severa — comparecia raramente, acompanhada pelo filho mais velho, apenas para verificar as aplicações e controlar de perto cada detalhe.







