Inicio / Urbano / Fugi grávida do meu Marido / Havia algo quebrado entre nós, invisível e irremediável.
Havia algo quebrado entre nós, invisível e irremediável.

Minha tia Clarice, que viera do interior para assistir à cerimônia, nunca aprovara aquele casamento. Ela o chamava de “meu Mohamed”, o homem-bomba, prestes a explodir. Eu costumava rir, achando graça da comparação, mas no fundo eu sabia: havia uma força em Zahir, uma impetuosidade que eu ainda não compreendia.

A lua de mel foi perfeita. Uma semana nas margens do Nilo, entre templos milenares e mercados que pareciam saídos de um sonho. Ficamos no melhor hotel do Cairo, e cada noite parecia um capítulo de uma história antiga, vivida e revivida em nossos corpos e promessas.

Zahir se mostrava o marido ideal. Atencioso, protetor, generoso. Contava-me histórias sobre os faraós, sobre o deserto, sobre as caravanas e as antigas rotas de comércio, e eu o ouvia fascinada.

Mas, ao retornar, a magia começou a se desfazer.

Descobri, com surpresa e desconforto, que iríamos morar com minha sogra — algo que ele jamais havia mencionado antes do casamento. Disse-me que seria apenas por um tempo, “até que tudo estivesse pronto”. Acreditei.

Quando cheguei àquela casa imensa, cercada de muros altos e silêncios ainda maiores, senti-me estrangeira em um território que não me pertencia. A senhora Ayman me recebeu com frieza educada, mas o olhar dela dizia tudo o que as palavras não diziam: eu era uma intrusa.

Recordo-me das primeiras semanas — dos almoços em silêncio, das tardes longas e solitárias, das janelas fechadas que pareciam observar cada passo meu. Eu me movia com cautela por aqueles corredores, tentando não incomodar, tentando merecer um lugar naquela família que jamais me aceitaria.

Abandonei o emprego, acreditando que logo teríamos nossa própria casa, um lar só nosso, onde eu poderia decorar, cuidar de um jardim, criar um espaço que me pertencesse. Mas os meses passaram, e Zahir nunca voltou a falar sobre mudança.

Aos poucos, a esperança se transformou em resignação. E a resignação, em dor.

Zahir, antes tão presente, começou a se afastar. Voltava tarde, cansado, sempre com o olhar distante. Quando eu o questionava, ele sorria e dizia que estava tudo bem, mas a frieza nos gestos o traía. Aos fins de semana, tentava compensar: saíamos para jantar, caminhávamos à beira do mar, e por algumas horas eu fingia acreditar que nada havia mudado.

Mas havia.

Havia algo quebrado entre nós, invisível e irremediável.

E então veio o dia que alterou tudo — o dia em que descobri que meu casamento era uma farsa sustentada por segredos e mágoas.

Naquela noite, Zahir dormia. Desci até a biblioteca para pegar água e, ao passar pelo corredor, ouvi vozes. Eram altas, nervosas, cheias de tensão. Reconheci de imediato o timbre grave de Bashir.

— Por favor, mamãe — a voz de Bashir soou carregada de impaciência e cansaço. — Você não vê que tudo isso é em vão? Zahir não vai deixá-la.

A resposta da senhora Ayman veio com a frieza de quem se habituou a controlar as emoções:

— Desculpe, Bashir. Mas eu não consigo aprovar um casamento cujo motivo é... vingança, desforra, ou seja lá o nome que você queira dar a isso. — Ela fez uma pausa curta, respirando fundo. — Não consigo olhar para ela e fingir que está tudo bem, sabendo de tudo.

Houve um breve silêncio, quebrado apenas pelo som leve do relógio de parede. Bashir passou a mão pelos cabelos, num gesto tenso.

— Talvez, no começo, tenha sido assim, mãe. — disse com voz mais baixa, quase conciliadora. — Mas parece que Zahir está gostando da moça. Eu vejo isso.

Eu, do lado de fora da porta, senti um arrepio percorrer minha espinha. A voz da senhora Ayman voltou, ríspida, cheia de desdém.

— Você acredita mesmo nisso? — Uma risada amarga escapou de seus lábios. — Acha que ele esqueceu Raifa? Não, meu filho. Seu irmão se casou por desgosto, não por amor. Foi um ato impensado, uma ferida disfarçada de aliança. Você lembra como ele ficou transtornado? Eu nunca vi Zahir daquele jeito. Lembra o que ele me disse, aqui mesmo, nesta sala?

Bashir não respondeu. O silêncio dele soou como concordância.

A senhora Ayman prosseguiu, com a voz embargada por um orgulho ferido:

— Não é justo o que Zahir está fazendo com essa moça. Um casamento assim não sobrevive.

Meu coração se apertou. Eu mal conseguia respirar. As palavras vinham como punhais, cortando minha esperança, um golpe de cada vez.

Bashir tentou ainda argumentar:

— Mãe, isso é problema dele. Sophia parece gostar dele de verdade. — A voz dele amoleceu. — Acho que a senhora deveria facilitar as coisas. Não deve ser fácil para ela viver em uma casa onde não se sente bem-vinda. É isso que a senhora transmite.

A resposta da matriarca veio firme, quase solene:

— Desculpe-me, Bashir, mas preciso de tempo. Seu irmão precisa me convencer de que está gostando dessa moça de verdade — coisa em que, sinceramente, não acredito. — Ela ergueu o queixo, com o olhar fixo em algo distante. — Não quero ver meu filho infeliz, ligado a uma mulher por capricho ou desforra.

Foi então que o chão pareceu desaparecer sob meus pés. Aquelas palavras ecoaram dentro de mim como o estalar seco de algo se partindo. A vingança... um capricho... um casamento por desforra.

O sangue latejava em minhas têmporas. A respiração vinha curta, irregular. Sem pensar, empurrei a porta e entrei.

A madeira rangeu alto, e ambos se viraram imediatamente. A expressão da senhora Ayman congelou — os olhos arregalados, o rosto lívido. Bashir, de pé junto à lareira, ficou estático, as sobrancelhas arqueadas em espanto.

Eu tremia da cabeça aos pés. Sentia-me gelada por fora, mas por dentro, algo queimava.

— Eu exijo uma explicação. — As palavras saíram trêmulas, mas afiadas. — E dependendo dela, senhora Ayman, a senhora não precisará de tempo algum. Por livre e espontânea vontade, eu mesma deixarei esta casa.

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