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Por um instante, fui feliz.

Eu tinha apenas vinte anos quando experimentei o amor pela primeira vez. Zahir era… inesquecível. Cabelos negros, pele bronzeada, corpo forte e esguio — a beleza dele parecia ter sido talhada pela própria areia do deserto. A primeira vez que o vi, estava há dois dias no emprego, ainda tentando me adaptar ao ritmo do banco. Quando nossos olhos se cruzaram, percebi, com uma clareza assustadora, que nunca mais conseguiria olhar para outro homem da mesma forma.

Zahir era insistente. Sempre que ia ao banco, arrumava um jeito de puxar conversa, de fazer um convite, de me arrancar um sorriso. E embora meu coração batesse descompassado a cada aproximação, eu resistia.

Eu sabia o que significava me envolver com um homem árabe. Havia crescido ouvindo que eles olhavam com desconfiança para as mulheres ocidentais — achando-as modernas demais, livres demais, inconstantes demais. E ele… era um milionário. Um homem acostumado ao luxo e à reverência.

O que ele poderia querer com uma mulher simples como eu?

Essa pergunta me perseguia, mas havia outra voz dentro de mim, teimosa, que me sussurrava: por que não?

Zahir não desistiu. E quando finalmente cedi, não foi por cansaço, e sim por rendição. No início, temi que ele estivesse apenas fascinado pelo desafio, movido pelo prazer de conquistar o que lhe fora negado tantas vezes. Mas o tempo mostrou que havia algo mais. Nosso namoro cresceu, se aprofundou, e Zahir se revelou um homem atencioso, generoso e surpreendentemente doce.

Ele me cercava de presentes — joias, flores raras, perfumes vindos de longe. Eu sorria e agradecia, vendo o brilho de satisfação em seus olhos ao me observar.

Os homens árabes, pensei na época, tinham essa maneira intensa de demonstrar afeto: mais com gestos do que com palavras.

Mas o amor, descobri depois, é um idioma cheio de armadilhas.

Zahir me advertira certa vez, com aquele olhar que parecia ler o que eu não dizia. Falou com uma calma quase dolorosa que sua família jamais aceitaria nosso relacionamento. Naquele momento, eu não quis acreditar. Achei que era apenas o medo dele falando — ou um exagero de quem tenta proteger demais quem ama. Mas, com o tempo, entendi que não era apenas um receio, era uma premonição.

Ele não entrou em detalhes, apenas deixou escapar que o choque cultural seria inevitável. E eu, tão ingênua, pensei que o amor fosse suficiente para derrubar fronteiras, crenças, tradições e preconceitos.

O tempo se encarregou de provar o contrário.

O que no início parecia uma história de amor improvável logo se tornou uma luta silenciosa contra algo maior do que nós dois. E ainda hoje me pergunto até que ponto a família dele, com seus valores tão rígidos e orgulho quase ancestral, moldou o destino do nosso casamento.

Zahir costumava me falar sobre suas origens com um brilho de orgulho nos olhos. Dizia que, embora vivesse desde criança na Inglaterra, carregava dentro de si a alma do deserto, o peso da herança dos Ayman. Contava que os pais faziam questão de preservar a língua, as orações, os costumes. Em casa, falavam ora em árabe, ora em inglês, e os filhos aprenderam desde cedo que ser parte do Ocidente não significava esquecer o Oriente.

“Há coisas que o tempo não apaga”, ele me disse uma vez, enquanto acariciava meu rosto. “O respeito, a honra, a fidelidade. Esses são valores que nos formam, Sophia. E nem mesmo o amor pode existir sem eles.”

Na época, achei bonita a frase. Hoje entendo o quanto ela escondia.

Mesmo com todas essas advertências, casei-me com Zahir. O amor, ou o que eu acreditava ser amor, falou mais alto. Nosso casamento aconteceu discretamente, apenas no cartório, sem festa, sem testemunhas além de alguns poucos amigos. Bashir, o irmão dele, foi o padrinho; minha amiga Carla, a madrinha.

Recordo-me nitidamente do rosto de Bashir naquele dia — a semelhança física com Zahir era impressionante, mas o olhar… aquele olhar frio, endurecido pela dor, o tornava quase irreconhecível. Soube mais tarde, pelas palavras entrecortadas de Zahir, que o irmão carregava uma cicatriz profunda, não apenas no rosto, mas na alma. Havia perdido a noiva em um acidente de carro, e desde então, o riso o abandonara.

A cerimônia foi breve, quase silenciosa. Senti falta de abraços, de rostos sorridentes, de bênçãos sinceras. A ausência mais dolorosa, contudo, foi a de minha sogra, a senhora Zaida Ayman, que se recusou a comparecer. Mesmo sem palavras, ela havia deixado claro o quanto desprezava aquela união.

Lembro-me de ter prendido a respiração quando o juiz perguntou se havia algum impedimento. Dentro de mim, temi que alguém se levantasse. Mas ninguém o fez.

Quando Zahir colocou a aliança em meu dedo, os olhos dele — tão negros, tão intensos — brilharam de um modo que me fez acreditar que, apesar de tudo, tínhamos vencido.

Por um instante, fui feliz.

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