Demir Zeki é um importante historiador e sociólogo, especialista em lendas e mitos das civilizações. Apaixonado por seu trabalho, dedica-se a recontar a história de Istambul por suas histórias antigas e místicas. Em sua jornada, encontra rastros que remetem a tesouros antigos e começa uma caça ao tesouro, desenterrando pistas em pergaminhos esquecidos e ruínas poeirentas que sugerem a existência de um artefato de poder incalculável, conhecido nas lendas locais como a "Yıldız Cehennemi" – a Estrela Infernal. Demir acredita que este objeto não é apenas um tesouro material, mas a chave para compreender segredos ancestrais da própria cidade. Paralelamente, Elara Demirkan, uma intrépida antropóloga forense que trabalha para a polícia de Istambul, possui uma paixão secreta: contar a história do mundo através das joias. Sua expertise em analisar artefatos antigos a leva a investigar uma série de crimes bizarros, todos aparentemente conectados a objetos de valor histórico recém-descobertos. Suas investigações a enveredam pelos mesmos becos labirínticos e sítios arqueológicos de Istambul que Demir explora, inevitavelmente interferindo em seus planos. O caminho dos dois se cruza quando uma morte misteriosa ocorre em um local que Demir acredita ser crucial para encontrar a Estrela Infernal. Elara, encarregada do caso, vê nos achados arqueológicos do local algo mais do que meras relíquias. A busca de Demir pelo mítico artefato e a investigação criminal de Elara se emaranham, revelando uma teia de segredos, cobiça e perigos ocultos sob a superfície da vibrante metrópole. Enquanto Demir segue as pistas místicas, Elara confia em sua análise forense e conhecimento de artefatos, criando uma tensão entre a crença no lendário e a busca pela evidência tangível. Juntos, eles precisam decifrar o verdadeiro segredo da Estrela Infernal antes que ela caia nas mãos erradas, ameaçando desestabilizar o delicado equilíbrio entre o passado e o presente de Istambul.
Leer másUm estrondo ecoou pelas ruas de Balat. Rua após rua, todo o antigo bairro mergulhava em uma escuridão sombria, sob os estouro dos trovões daquela tempestade fria no inverno de Istambul.
A noite, fria e úmida, escondia, sob a fina névoa, segredos sussurrados em pesadelos. A chuva se chocava, impiedosa, contra as paredes coloridas das casas, de janelas fechadas, encobertas por pesadas cortinas. O som de passos, apressados, podiam ser ouvidos, batendo contra as poças frias da água torrencial. Uma mulher corria, ofegante, desesperada, pelas ruas escuras e pesadamente silenciosas. O disparo de uma arma de fogo, ruidosamente, rasgava aquele véu negro, que absorvia toda a luz. A figura da mulher, surpresa, silente, sentia o choque que lhe alcançava a cabeça. Caia, lentamente, com o sangue em sua mão, sob a chuva. Uma sombra se apossava daquele corpo, reivindicando algo e desaparecendo sob o manto denso da noite tempestuosa, escondida no blackout que se abatia, escondendo aquele crime hediondo. Balat voltava a se iluminar, testemunha do sangrento ataque que deixava sua marca efêmera se esvair com a água, levando consigo o elixir que um dia circulou, vivo, naquele cadáver sob a luz piscante do poste. ****************** — Doutor Demir, está dizendo que a conjuntura histórica sugere que, antes mesmo de Constantinopla, podemos inferir a existência de uma civilização pré bizantina neste território? - O aluno perguntou, com deboche na voz. Desafiava o professor. — Essa é a hipótese estudada, meu caro. - Demir concluía sua palestra, crivado por perguntas de estudantes que estavam ali por interesse genuíno ou para completar a carga de créditos extras. A aula terminava sob o burburinho agitado dos jovens que se aglomeravam na marquise, encarando a pesada chuva que se abatia sobre a cidade. Ele fechou o sobretudo e, protegendo-se com sua pasta, apressou-se até o carro, entrando, rapidamente. Partiu. Empolgava-se com o dia seguinte, quando uma nova descoberta lhe seria acessível pela primeira vez, encontrada em Balat, após a demolição de um antigo prédio, condenado, durante os processos de revitalização da região mais antiga de Istambul. Ele estava eufórico, ansioso com a possibilidade de provar sua teoria. Pela manhã, Demir e seus orientandos do Mestrado se reuniram na entrada de Balat, um clima tenso nas ruas, pessoas, nos cafés e no comércio que murmuravam entre si, cobrindo as bocas, com olhares furtivos para a direção de onde iam, a pé, entrépidos. O professor sentia seus alunos se acanharem com a exposição, carregavam equipamentos desajeitados quando, no canteiro da demolição, a faixa listrada de amarelo e preto, fortemente guardada, lhes impediu a passagem. Confiante, adiantou-se a um dos policiais. — Sou o Doutor Demir Zeki, da Universidade de Istambul. - Ele pigarreou, chamando a atenção de um policial que guardava a entrada, fechada por tapumes de telhas velhas de zinco e madeira podre. - Sou o responsável por esta escavação. Quero acesso ao local. - Os policiais se entreolharam, havia algo divertido naqueles olhares que confidenciavam algo indecifrável. — Responsável, hein? - O policial disse, quase a risos. — Sim, sou. Quem é que manda aqui? - Demir se irritava. — Chama a Doutora Demirkan. - O homem olhou para seu parceiro que entrou no lugar, infestado de policiais e gente coberta por macações brancos e luvas de borracha azuis. Do fundo, uma figura pequena e esguia acompanhava o policial guardião. Óculos de proteção, máscara azul descartável no rosto, as luvas azuis horripilantes sobre o macacão descartável. — Pois bem. - A pequena mulher, de intensos olhos castanhos, tirou a máscara, livrando o rosto. - O que precisam, policiais? — Doutora, este aqui é o suposto responsável por este lugar. Diz ser Doutor Demir Zeki. - O primeiro policial anunciou, com um sorriso sádico no rosto. — Oh! - A pequena mulher deixou a interjeição escapar, media o homem com o olhar. A ela, mais parecia um oportunista do que um doutor. - Pelo quê é responsável, doutor? - Ela o encarou, o olhar gélico dela faiscava algo como ódio, mas era difícil de afirmar. — Pela escavação, óbvio! - Demir se ultrajava, os alunos recuavam. — Quando obteve a licença? Hoje? - Ela perguntou, cínica. — Sim, esta manhã. - Ele afirmou. — Ah! - A mulher deu as costas para ele. - Contatem a prefeitura e suspendam. Isto aqui é cena de crime e não playground para brincar no barro. - Ela repousou a máscara obre o rosto, ultrajava-o de tantas maneiras que Demir sequer tinha reação. — Sua... - Ele rosnou entre os dentes. - Qual o seu nome e o seu posto? Isso não vai ficar assim! - Ela voltou e caminhou, em linha reta, até o homem. O que ele via naquele olhar, agora, certamente era ódio. — Elara Deniz Demirkan. Perita. - Ela informou. - Se não tem mais nada o que fazer, eu tenho. Já tem o que precisa para formalizar sua reclamação, não tem? - Ela o desafiava, afrontosa. Uma raiva subia na garganta dele, amarga. — Isso não vai ficar assim! - Ele bradou conforme ela se afastava. — Assim espero! - Ela respondeu, debochada, acenando uma despedida acima da cabeça, de costas para ele. Demir queria gritar com aquela mulher arrogante e desrespeitosa. Voltava com seu grupo para a universidade, o cronograma atrasava. Demir se apressou para ir até a prefeitura. Sua licença estava suspensa até segunda ordem. Alguém, do departamento da Polícia Técnica, havia informado uma ocorrência que impedia a utilização ou exploração do lugar até a liberação pela Polícia. O homem, furioso, foi até o departamento de Polícia, precisava falar com o chefe daquele lugar, urgia acessar o terreno. Foi acomodado e esperaria o quanto fosse necessário até conseguir alguma coisa. Horas de espera até a informação de que não seria recebido naquela tarde. Demir marchou de volta para a universidade, irritado. "É cena de crime e não playground." Aquelas palavras, na voz daquela mulherzinha, ecoavam nas paredes de seu desgosto. "Quem ela pensa que é?" Demir bufava, intimamente, revolto. Os alunos o encaravam, entre o medo e o riso. Era como ver alguém cair na rua. O imponente Doutor Demir Zeki, temido professor e odiado pesquisador, havia sido impedido de acessar mais uma de suas escavações por alguém que ignorava seu status e atropelava suas expectativas como um trem a uma galinha. Demir tinha duas certezas: para ser perito, era necessário ter formação e ela tinha um nome. "Elara Deniz Demirkan. Maldita." Ele praguejava, pesquisando em seu sistema quem era aquela mulher que o deixava em uma situação tão ridiculamente exposta.Faruk percebeu a reverência com que Elara entrou no ofício. Aquilo lhe dava um orgulho inigualável, os olhos dela brilhavam. Ela levantou a mão, delicadamente, tinha unhas longas, pintadas de um tom claro, de pérola e tocou uma das colunas, como se afagasse a história do universo. Chegava a ser emocionante ver a bonita mulher, coberta de joias e brilhos, reverenciar aquele lugar e honrar seu ofício. — Por aqui, Elara. - Ele a conduziu. Seu bracelete sobre um meio pilar de mármore, iluminado. Ele acendeu a luz, símbolos nítidos se projetavam para longe, nas paredes. Ele fechou as mãos, como se amparasse a jóia. - Apenas a joia verdadeira faz isso, menina. - Ela via linhas de símbolos se desfocarem e outros ganharem foco. Ela era linda, olhava aquilo como uma criança que vê as estrelas do céu pela primeira vez, fascinada. — Isso é lindo! - Ela sussurrou. - O que são os símbolos? — Quem sabe? - Ele respondeu. Demir a olhava, do limiar. O pai percebia o filho, apaixonado, irremediavelm
Demir se banhou. Elara expunha sua intimidade. Era alguém pouco vaidosa, mas cuidadosa consigo mesma. Os cheiros dos cosméticos dela o levavam a outro lugar em sua mente, e olhos fechados, ele via a alucinação, com o prazer no rosto, a tinha contra a parece, presa contra seu corpo. Segurou seu rosto e o elevou, beijando-a docemente. Os olhos suplicantes, vulneráveis. "Isso é uma visão. Que sonho!" Ele sorria para si. ********************— Obrigado por esse sentimento de pertencimento. - Demir surgia pela porta da sala, em um moleton molinho e meias. Era o início da primavera. Dócil, foi para a lavanderia e estendeu a toalha. Elara já tinha desaparecido. Ele ouviu o chuveiro. Decidiu esperar na sala. Apreciava os desenhos. Via os desenhos das jóias e as anotações do "Arco do Universo", os desenhos se encaixavam. Ao que parecia, a Estrela Infernal, como ela tinha apelidado, e o Arco do Universo eram joias complementares. "Você me abandonou." A sua assombração interna voltava a lhe ato
Elara travou por um instante. Desde aquele dia, Ahmet se tornava cada vez mais abrasivo e difícil. Ela engoliu a seco a pergunta de Demir e não o respondeu, continuando a picar os temperos. — Ei. Não é culpa sua, garota. - Demir lhe tocou o braço, afagando-a. Aquele gesto parecia tão próximo e respeitoso. — Foi sim. Eu provoquei a situação. - Ela respondeu, a voz trêmula. - Eu estava dançando para ele. Que inocente. - Ela se repreendia. - Me sinto tão envergonhada quando penso nisso hoje. — Nada justifica. - Ele voltava a encher a taça dela. — Demir, você acha que... - Ela dizia algo e se interrompeu. - Deixa para lá. Pergunta idiota. — Não existe isso de pergunta idiota. No pior cenário, é retórica e dispensa resposta. - Ele disse, gentil. — Eu quero que me abrace. - Ela disse, firmemente. — Solte a faca e conversamos. - Ele gracejou. Ela acabou rindo, o ar pesado em torno da pequena turca dispersava, magicamente. Ela soltou a faca, com as mãos para o alto. - Está se rendendo?
Demir aguardava, ansioso, a chegada de Elara. Logo teria sua alta e gostaria de vê-la, certamente. A companhia dela havia se tornado inestimável. O fim do dia se apressava e a ansiedade, crescente, o recompensava por sua espera com a visão da bonita turca, em trajes de alfaiataria e óculos que se aproximava pelo corredor. Elara não era o tipo de mulher que caminhava, simplesmente. O blazer aberto, a mão no bolso e a bolsa, na outra, trazida pela alça, eram uma visão de poder. "Como consegue ser tão imponente sendo tão pequena?" Ele se intrigava. Ao vê-lo, o amplo sorriso se abriu, iluminando-o.— Olá, Demir! - Ela cumprimentou, suavemente. - Nem o hospital o aguentou?— Um ultraje! Justo a mim! Uma mente brilhante. - Ele entrava na brincadeira ácida dela. — Não sabem o que estão perdendo. - Ela riu, suave. Ruiz a olhava, do canto do quarto, intimidada pela beleza e pela imponência da imagem que, discretamente, detinha poderoso renome. — Não os perdoarei. - Demir brincava, causando e
— Elara! Por misericórdia, me perdoe. - Demir pediu, encabulado. - Eu... A Yasemin... — Ele ouvia a gargalhada gostosa dela.— Tudo bem se quiserem autenticar a joia. - Ela permitiu. - Eu vou ficar feliz em poder buscar. São ourives? Joalheiros, pelo que eu entendi. — Sim. Eu... Eu estou tão envergonhado. - Demir se rendia, manso como um cão de companhia, para surpresa da irmã, calada, observando a cena. O irmão não percebia que já estava dominado.— Não fique. Já estamos em maus lençóis de qualquer forma. - Ela respondeu, docemente. Derretia as resistências de Demir.— Me desculpe. - Ele insistiu. — Vejo você mais tarde. Obrigada por divertir meu dia. - Ela provocou.— Até mais tarde. - Demir expirou. — Você gosta dela. - Yasemin observou, curiosa.— Ela permitiu autenticarem a joia. - Demir disse. Estava constrangido demais para sustentar a presença da irmã. — Trago de volta amanhã. - Ela se continha. Comemorava, intimamente, ter uma possível joia ancestral nas mãos. — Vamos bu
A manhã chegou e, com ela, a surpresa de Somsak: havia uma Senhora Zeki que, pela foto dela, era outra deidade no campo da história da humanidade. O aluno via seu professor aninhado a uma bonita turca, pequena, esguia e de traços sutis. "Elara Demirkan?" Ele se perguntava, incrédulo. "Esse ordinário está namorando E. D. Demirkan? Ela deve ser mais velha! Não pode ser essa menina. Pode?" Somsak conferiu a foto de Sven. Aquela era Elara. O delicado momento, confessional, de cuidado, ganhava o registro e a menção no fórum extraoficial da Universidade. Somsak entrou, aproximando-se do casal. Elara o encarou, imóvel, como um golem assombrado que lhe extraiu a alma instantaneamente. — Bom dia, Senhora Zeki. - Somsak se forçou, atordoado com o poder do olhar da imponente mulher que se levantou e afagou o rosto ferido de Demir, que ainda dormia profundamente.— Bom dia. Obrigada por vir. - Elara disse, retirando-se, sem esclarecer o mal entendido ou dar qualquer explicação. Somsak estava em
Último capítulo