007

— Óbvio que não tem. É uma pesquisa, não uma conversa com velhos em um bodega. - Elara respondeu, ríspida.

— Calada você é uma obra de arte. - Ele a ofendia, elegantemente. - Tem acesso ao acervo da Catedral? - Ele perguntou, avançando um passo ao mesmo tempo que ela recuava outro.

— Não sem meu distintivo. - Ela respondeu, defensiva. A imagem do pesadelo a fazia empalidecer novamente. Demir notava que algo não parecia certo e nem bom com aquela mulher pequena, cujo olhar oscilava entre uma lebre assustada e uma serpente hostil.

— Consegue ficar no mesmo carro que eu? - Ele perguntou.

— Posso seguir com o meu carro. - Ela respondeu, ainda mantendo distância.

— Vou lhe dar um voto de confiança. Aqui. - Ele revirava a bolsa. Pegando as anotações e o modelo, deixando-os sobre a mesa e recuando alguns passos, para que ela pudesse se aproximar. Ela avançava a cada passo, parecia manter a distância de um bote dele. Ele a observava. Estava, realmente, assustada. Ela recolocou o bracelete no pulso. Saía dali com ela há alguns metros dele. Indicou seu carro. Ela foi para o dela, coincidentemente, estacionado ao lado do dele. Um jipe de navegação, grande, robusto, pronto para atravessar um deserto. Ela passou por ele, esperou que manobrasse, seguia-o. Sob a chuva, chegavam ao acervo da Catedral. Uma biblioteca imensa de documentos reservados a pesquisadores.

Os corredores, longos, depois da recepção, eram sobrios e se aprofundavam, em vias cada vez mais estreitas e sufocantes, ela sempre parecia em prontidão. Foram levados a um acervo cuja placa apontava para algo anterior ao século dois antes de Cristo. "Isso é um equivoco. Não tem como uma joia tão precisa ser tão arcaica." Ela ponderava.

— Fique à vontade. Temos duas horas. - Ele disse, dando passagem para ela entrar na sala subterrânea, sem qualquer janela ou saída além daquela porta. Sentia a ansiedade tomá-la. Demir a notava respirar, pausadamente, controlava algo dentro de si. - Está com medo de mim? Você não é uma policial? Não deveria saber se defender.

— Você é meio lento, não é? - Ela respondeu. - Sou perita. Polícia técnica. Nosso maior risco é uma ratazana. Meu trabalho envolve coisas inertes, eu já disse. Assim como já disse que me assusta.

— Bu! - Ele avançou um largo passo, os braços para o alto, os dedos curvados, cruzando as mãos na altura do pescoço dela. Elara gritou, apavorada, protegendo o pescoço com as mãos. A pasta foi ao chão, suas anotações se espalharam no lugar. Ele a via tensa, encolhida. Não entendia a reação da mulher arrogante, tão frágil diante dele. Ele a via tremer. - Me desculpe. - Ele pedia a ela. - Eu a espero do lado de fora.

— Eu saio. - Ela se apressou, recolhendo os desenhos e as anotações, afobadamente, urgia sair de perto daquele homem. Tropeçava nas próprias pernas, quase a prantos. Sentou-se no corredor, abraçada às próprias pernas, com a cabeça apoiada nos joelhos, respirava, pausadamente, controlando a sensação angustiante. Recuperava o fôlego, devagar, enquanto acalmava o coração acelerado.

Demir separou os materiais dela, onde o desenho da joia em formato de estrela aparecia. A maioria, fragmentos de documentos. Mesmo juntando e sobrepondo cada peça, nada formava um desenho tão vivo e detalhado. Nas referências, anotações parciais, de uma língua que não reconhecia, informavam algo mais antigo do que o tempo. Era coisa muito antiga.

A porta, enfim, se abria. Ela se sobressaltava outra vez, ficando em pé em um salto. Estava realmente apavorada com ele.

— Quando sairmos, quero minha resposta. - Ele determinou, encostando-se na parede, a alguns metros dela. Ela parecia considerar uma distância segura algo na casa dos três metros. Ela o encarou, assustada, entrava na sala e se fechava. Sobre a mesa, fragmentos de documentos de mais de dois mil anos. Delicadamente, ela reproduzia as anotações com as partes que tinha do desenho, corrigia as notas antigas, mantendo, ao par, uma cópia do desenho original. Naquele tipo de lugar, flashes eram estritamente proibidos, fotos estavam fora de cogitação. Não era diferente em acervos com aqueles níveis de controle do ambiente. Até o ar era diferente para preservar aquelas peças raríssimas que ainda testemunhavam a história do mundo. Elara se assustava com as batidas na pota.

— Nosso tempo acabou, Doutora. - A voz de Demir, abafada atrás da porta, informava. - Você tem que sair. A segurança dos documentos é acionada automaticamente. - Elara recolheu suas coisas, devolvendo os documentos aos seus espaços, em lâminas de acrílio herméticas. Saia no último instante, ouvindo a porta se travar atrás dela e o som do que parecia um exaustor funcionar. - Minha resposta. - Ele exigiu.

— Fiquei sem patrocínio. - Ela se afastava antes que ele percebesse sua proximidade. - História não vende. Simples assim.

— Sua Universidade não a financiava? - Ele se surpreendia.

— Era uma pesquisa independente. - Ela confessava, ressentida. - Reconheço que não sou uma flor de candura. Nem didática o suficiente para arcar com as horas de aula, menos ainda alguém carismática. - Ela revirou os olhos. - Está bom de respostas?

— Depende. - Ele começou a marcha, ela recuava. - Vai ter que me deixar passar se quiser sair deste labirinto. - Ele parou. - Vou passar de lado, de frente para a parede, já que não me suporta.

— Agradeço. - Ela encostou na parede, parecia pronta para disparar em uma fuga frenética.

De frente para a parede de pedra, um flash de uma memória o tomava. Via os próprios braços, em roupas que não reconhecia, de tecido pesado e bordado, cravejada de joias que lhe adornavam as mãos. A odalisca suspensa no ar, com as costas contra a parede, com suas mãos em torno do pescoço delicado, sufocava sob a impulso sádico. Havia tanto prazer quanto espanto naquela visão que o assaltava. Ele se forçou a sair, por mais que sua vontade fosse se virar para ela e executar o mesmo movimento.

— Vamos. - Ele definiu. Na entrada da Catedral, ela fugia para seu carro, rapidamente, afastando-se dele com urgência. "O que acontece com essa doida? Onde ela viu aquele artefato em tão perfeitas condições?" Ele pensou, vendo-a manobrar o carro e sumir no trânsito. Ele se adiantou sob a garoa até seu veiculo. Voltava para a Universidade. Não lhe restava nada além das páginas da pesquisa inacabada dela. Tinha o texto fluído, de marcha forte e imponente, como os textos de Carl Marx. Era objetiva e descritiva, ao melhor estilo Darwiniano. Não era alguém que teria medo de um simples professor universitário. Ele a lembrava de algo aterrorizante.

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