Mundo ficciónIniciar sesiónNina tem 28 anos e, no mundo brutal da máfia italiana, isso a torna praticamente descartável. Quando seu pai acumula dívidas impagáveis com a famiglia errada, apenas um homem pode salvá-los da ruína: Matteo Salvatore, o mafioso mais temido de toda a Costa Leste. Desfigurado por um atentado brutal, Matteo esconde seu rosto atrás de máscaras e sombras. Poderoso, implacável e solitário, ele precisa de uma esposa que lhe dê um herdeiro para consolidar sua posição — e Nina é a escolha perfeita. O casamento é frio, o acordo é claro: ela lhe dará um filho, ele salvará sua família. Mas quando Nina se torna a primeira pessoa a olhar para Matteo sem medo ou repulsa, algo muda. Por trás das cicatrizes existe um homem assombrado por traição e solidão. E por trás da resignação de Nina existe uma mulher capaz de incendiar o coração de pedra de um monstro. Em um mundo onde confiança é moeda rara e traição espreita cada esquina, Nina e Matteo descobrirão que o casamento de conveniência pode se tornar a obsessão mais perigosa de todas.
Leer másDez anos antes...
O cheiro de gasolina e carne queimada ainda impregnava o ar quando Matteo Salvatore acordou no hospital.
Ele não gritou. Os gritos haviam ficado presos em sua garganta três dias atrás, quando as chamas consumiram metade de seu rosto e o transformaram naquilo que os médicos chamavam educadamente de "sobrevivente". O que eles realmente queriam dizer, Matteo sabia, era monstro.
Através do olho esquerdo — o único que ainda funcionava perfeitamente — ele enxergou o teto branco do quarto privado. Caro. Isolado. Não por bondade, mas por necessidade. Um homem na sua posição não podia mostrar fraqueza. E despertar gritando, com o rosto derretido como cera, definitivamente era fraqueza.
A porta se abriu sem cerimônia.
Luca Moretti, seu conselheiro mais antigo, entrou com o semblante grave. Aos sessenta anos, Luca tinha sobrevivido a três guerras entre famílias e inúmeras traições. Nada o abalava. Mas quando seus olhos pousaram no rosto de Matteo — ou no que restava dele — algo vacilou em sua expressão controlada.
— Não — Matteo murmurou, sua voz rouca pela fumaça que havia inalado. — Não me olhe assim.
Luca recuperou a compostura instantaneamente, aproximando-se da cama com passos medidos. — O médico disse que você teve sorte.
— Sorte. — Matteo teria rido se não doesse tanto. A pele do lado direito de seu rosto estava coberta por bandagens, mas ele sentia. Sentia cada terminação nervosa morta, cada pedaço de carne que nunca mais seria o que era. — Encontrou quem fez isso?
— Sim. — A palavra saiu como uma sentença de morte.
— Quem?
Luca hesitou. Naquele silêncio, Matteo soube. Soube antes mesmo de ouvir o nome que destruiria o que restava de sua humanidade.
— Vittorio.
Seu irmão.
Matteo fechou o olho que ainda funcionava. Claro. Claro que havia sido Vittorio. O irmão mais novo, sempre na sombra, sempre ressentido por Matteo ter sido o escolhido para liderar a famiglia aos 29 anos. O incêndio no armazém não tinha sido um acidente. Tinha sido uma execução falhada.
"Onde ele está?" A voz de Matteo saiu baixa, perigosa.
"Fugiu para a Sicília. Está sob proteção da famiglia Andretti."
"Então declare guerra."
"Matteo..." Luca começou, mas foi interrompido pelo olhar gélido que o mais jovem lhe lançou.
"Declare. Guerra."
Luca assentiu lentamente. "Há outra coisa." Ele puxou uma cadeira, sentando-se como se precisasse de apoio para o que viria a seguir. "A famiglia está... dividida. Alguns capos questionam se você ainda tem condições de liderar."
"Por causa disso?" Matteo apontou para o próprio rosto com amargura.
"Por causa da instabilidade. Vittorio não agiu sozinho. Temos traidores entre nós, e agora, com você..." Luca escolheu as palavras cuidadosamente. "Incapacitado, eles veem uma oportunidade."
Incapacitado. Que palavra delicada para descrever um monstro.
"Quanto tempo tenho?"
"Até você se recuperar. Mostrar que ainda é forte. Que ainda comanda." Luca fez uma pausa. "E eventualmente, precisará de um herdeiro. Um sucessor legítimo. Isso acalmaria muitos."
Matteo riu, um som áspero e sem humor. "Um herdeiro. E que mulher iria querer me tocar agora?"
Luca não respondeu. Não precisava. Ambos sabiam a resposta.
Nos dias que se seguiram, Matteo recebeu visitas. Homens da famiglia, aliados, até alguns rivais fingindo preocupação. Todos entravam com expressões neutras. Todos saíam com alívio mal disfarçado por não serem eles a carregar aquelas cicatrizes.
As mulheres eram piores.
Giulia, sua noiva há três anos, veio uma única vez. Ela tentou esconder, mas Matteo viu. Viu o tremor em suas mãos, a forma como ela evitava olhar diretamente para ele, como seus olhos se encheram de lágrimas — não de compaixão, mas de horror.
"Eu sinto muito", ela sussurrou antes de praticamente correr para fora do quarto.
O anel de noivado foi devolvido por mensageiro dois dias depois.
Matteo não a culpou. Como poderia? Ele havia se olhado no espelho naquela manhã — contra os conselhos dos médicos — e visto o que ela tinha visto. Metade de seu rosto era um mapa de cicatrizes retorcidas, a pele esticada de forma grotesca, o canto da boca puxado em um sorriso permanente e cruel que não refletia nenhuma alegria.
Ele era uma fera. E feras não mereciam amor.
Mas feras ainda podiam comandar através do medo.
Dois meses depois, quando Matteo deixou o hospital, foi com um plano. Ele usaria máscaras. Esconderia o rosto nas sombras. Tornaria-se ainda mais implacável, ainda mais brutal. Se não podia mais inspirar lealdade através do carisma, inspiraria através do terror absoluto.
E quanto ao herdeiro que a famiglia exigia?
Bem, eventualmente encontraria uma solução. Alguma mulher desesperada o suficiente, com dívidas profundas o suficiente, que não teria escolha senão aceitar o monstro em sua cama.
Amor era para homens com rostos inteiros.
Ele se contentaria com dever.
Matteo Salvatore olhou pela última vez para o homem que havia sido no reflexo embaçado da janela do carro que o levava de volta para seu império.
Aquele homem estava morto.
Em seu lugar, nascia algo muito mais perigoso.
Depois de um silêncio constrangedor, Valentina DeLuca tentou mudar de assunto.Matteo apenas continuou olhando para Nina com uma expressão que ela não conseguia decifrar. Mas quando as conversas recomeçaram, ele se inclinou e sussurrou no ouvido dela.— Você é extraordinária.Nina sentiu calor subir pelo pescoço.— Apenas disse a verdade.— A verdade é a coisa mais perigosa de se dizer neste mundo. — Sua respiração roçou o cabelo dela. — E você a disse de qualquer forma.Ele se afastou antes que Nina pudesse responder, voltando sua atenção para Luca, que estava relatando algo sobre uma remessa.Depois de algumas horas, o jantar terminou. Os convidados começaram a partir em duplas e trios, cada um parando para cumprimentar Matteo e Nina com recém-descoberta cordialidade.— Você fez bem, querida — Isabella disse, beijando as bochechas de Nina. Ainda havia condescendência ali, mas menos do que antes. — Talvez você sobreviva a isso afinal.— É o plano — Nina respondeu com um sorriso que n
Por um segundo, talvez dois, eles simplesmente se olharam através da distância. Nina não conseguia ler sua expressão por trás da máscara, mas viu algo no olho visível algo que fez seu coração acelerar de uma forma que ela não estava pronta para entender o que era.Então Matteo começou a caminhar em direção a ela.A multidão se abriu automaticamente, criando um caminho. Conversas recomeçaram em volume baixo, todos tentando parecer que não estavam observando cada segundo dos dois.Matteo parou na frente de Nina, tão perto que ela teve que inclinar a cabeça para trás para encará-lo.— Nina — ele disse, sua voz baixa o suficiente para apenas ela ouvir.— Matteo — ela respondeu, mantendo a voz firme apesar dos nervos.Ele estendeu a mão. Nina olhou para ela por um segundo antes de colocar a sua própria. Sua mão era grande, quente, engolfando a dela completamente.— Você está linda — ele disse, num tom que a pegou desprevenida.— Obrigada. Bianca me ajudou.— Ela fez um bom trabalho — Um to
O jantar de ensaio seria na mansão Salvatore.Nina passou os cinco dias anteriores em treinamento intensivo com Bianca, memorizando nomes, rostos, hierarquias e os milhares de regras não escritas que governavam o mundo da máfia. Ela aprendeu a segurar um copo de vinho sem beber muito rápido, como cumprimentar os capos sem parecer muito familiar, e acima de tudo, como manter sua expressão neutra não importa o que fosse dito.— Você nunca reage — Bianca enfatizou pela décima vez naquela manhã, enquanto ajudava Nina a se vestir. — Nem com choque, nem com raiva, nem com medo. Você é pedra. Você é gelo. Você é inabalável.— Fácil de dizer — Nina murmurou, observando seu reflexo no espelho.Bianca havia escolhido o vestido: um modelo midi preto em seda, elegante mas conservador, com mangas três quartos e decote modesto. Sapatos de salto que adicionavam cinco centímetros à altura de Nina. Cabelo preso em um coque baixo sofisticado. Maquiagem discreta, apenas o suficiente para realçar sem cha
— Ah, por onde começar? — Bianca se animou. — Primeiro, seu comportamento em público. Você sempre ficará ao lado de Matteo, ligeiramente atrás. Nunca o interrompa quando ele está falando com outros homens. Nunca demonstre desacordo em público, mesmo que discorde em particular.— Isso parece bem medieval.— Bem-vinda à máfia. — Bianca revirou os olhos. — Confie em mim, eu sei como é frustrante. Mas essas regras existem por um motivo. Qualquer sinal de desrespeito, qualquer rachadura na fachada, e os inimigos atacam.— Inimigos — Nina repetiu. — Matteo tem muitos?— Querida, ele é um Don. Ele tem uma lista. — Bianca puxou um caderno pequeno da bolsa. — O que me leva ao próximo ponto: você precisa conhecer os principais jogadores. As famílias que são aliadas, as que são neutras, e as que definitivamente querem Matteo morto.Pelos próximos quarenta minutos, Bianca detalhou a complexa rede de poder da máfia italiana em Nova York. Nina aprendeu sobre os Andretti, que ainda abrigavam Vittori
Três dias depois, Nina estava em pé na sala de estar da casa dos Russo, sendo medida por uma mulher italiana de meia-idade que não parava de murmurar em italiano enquanto passava a fita métrica por seu corpo.— Você é magra — a costureira, que se apresentara apenas como Signora Lucia, beliscou a cintura de Nina. — Isso é bom, pois o vestido ficará perfeito.Nina permaneceu imóvel, os braços estendidos, sentindo-se como uma boneca sendo preparada para exibição. Sua mãe observava do sofá, as mãos nervosamente entrelaçadas no colo. Seu pai, previsivelmente, estava ausente — provavelmente em algum bar, afogando a culpa em álcool.— Que tipo de vestido será? — Nina ousou perguntar.Senhora Lúcia sorriu. — O Don especificou elegância, mas nada que chame muita atenção.Claro. Porque Matteo não queria que ninguém prestasse muita atenção na noiva que ele estava essencialmente comprando.— Posso ver um esboço?— Não — A mulher disse alegremente. — O Don quer surpresa. Mas não se preocupe, que
Matteo se levantou, contornou a mesa e parou na frente de Nina. Ele era ainda mais alto e assutador de perto, sua altura e ombros largos bloqueando a luz fraca. Nina precisou erguer o olhar para encará-lo.— Deixe-me ser muito claro, Nina — ele disse, sua voz baixa e perigosa. — Eu não sou um bom homem. Fiz coisas que manteriam você acordada à noite se soubesse. Machuquei pessoas. Matei pessoas. Destruí vidas sem um pingo de remorso.Ele se inclinou, apoiando as mãos nos braços da poltrona dela, prendendo-a no lugar.— Mas — continuou, seu rosto a centímetros do dela — eu não bato em mulheres. Não machuco crianças. E quando faço um acordo, eu o honro. Você será minha esposa. Viverá com luxo que sua família nunca poderia proporcionar. Será protegida, alimentada, vestida. Nada de mal acontecerá com você enquanto você seguir as regras.Nina podia sentir o calor dele, e seu coração batia acelerado, mas ela se forçou a não recuar.— E se eu quebrar as regras? — ela sussurrou.Algo perigoso





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