Nascida em uma família perfeita aos olhos da sociedade, Emeraude Lewis sempre viveu cercada de luxo, regras e segredos. Filha de um médico brilhante e de uma psicóloga renomada, ela não sabia que sua verdadeira herança era sobrenatural. Na noite do seu 16º aniversário, durante uma festa proibida na floresta, Emeraude desperta poderes que mudam sua vida para sempre: ela é uma Banshee, capaz de prever a morte e ouvir os sussurros do além. Agora, cercada por visões sombrias, mentiras antigas e criaturas ocultas, Emeraude precisa encarar seu destino — ou se perder no grito que anuncia o fim.
Ler maisAntes do mundo esquecer, ela gritou.Syllen nasceu sob uma chuva de cinzas, numa aldeia onde o tempo escorria pelas pedras como sangue antigo. Era filha de uma sacerdotisa muda e de um ferreiro que moldava sinos para espantar maus presságios. Mas mesmo entre segredos, ela nasceu gritando.Seu primeiro choro fez os pássaros caírem do céu.As mulheres da aldeia se benzeram. Os anciãos sussurraram "má sorte".Mas a mãe sorriu. Ela sabia: aquela menina ouvira algo antes de nascer.Syllen cresceu ouvindo o que ninguém ouvia: ecos de vozes enterradas, preces sussurradas entre as árvores, o nome das coisas antes que fossem ditas. Não tardou para perceber que podia também responder a esses chamados.Um dia, diante da fogueira do templo, enquanto as outras crianças imitavam cantos antigos, Syllen soltou um grito que fez o tempo parar.Não era um aviso de morte. Era um grito de liberdade.Ela gritou para quebrar o destino. Para escolher.Mas o mundo não estava pronto.As anciãs da ordem baniram
O grito ecoou por eras esquecidas.O véu tremeu, não em colapso, mas em renascimento. Aelynn, a primeira banshee, agora liberta de seus próprios grilhões, flutuava diante de Emeraude e Ilyra como uma sombra transmutada em luz. Seus olhos ainda carregavam dor, mas havia paz também — a paz que só se encontra depois de se ouvir e ser ouvida.— “Obrigada…” — disse Aelynn com uma voz antiga e doce como chuva sobre pedras. — “Por lembrar quem eu era.”O véu começou a se fechar lentamente, mas não como uma prisão: agora era um santuário. As almas que vagavam começaram a desaparecer, guiadas por banshees do passado. Elas cantavam, como um coral de espíritos, libertando gritos que nunca puderam ser dados.Ilyra tocou o ombro de Emeraude.— “Você reescreveu nosso destino.”— “Eu só ouvi,” — respondeu a jovem. — “Foi isso que ninguém fez com ela.”Do outro lado, Kaien e Alisha estendiam as mãos, tentando manter o portal estável. Estavam exaustos, seus corpos marcados pelo esforço, mas seus olhos
O Refúgio tremeu.A Entidade do Silêncio rasgava a realidade como se fosse tecido velho. Das fendas surgiam criaturas feitas de ausência: sombras com bocas costuradas, olhos brancos e garras que sugavam o som ao redor. Cada passo que davam era um roubo — o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas, o sussurro das memórias. Tudo desaparecia.Emeraude se manteve firme, sentindo o peso da Lua em seu peito como uma batida constante. Ela era a Voz agora. E sabia que não estava sozinha.De repente, um grito atravessou o ar — gutural, ancestral.Era Lysandra.Ela havia invocado o Grito Ancestral das banshees antigas. Seu corpo tremia, os olhos brilhavam em prata, e ao seu redor as sombras hesitaram.— “Vamos, Emeraude!” — ela gritou. — “Convoque as vozes!”Emeraude ergueu os braços.— “Aos que vieram antes de mim… às banshees esquecidas… às vozes que foram silenciadas… EU CHAMO VOCÊS!”O chão se abriu em runas cintilantes. Espíritos de banshees antigas se ergueram, translúcidas, envoltas em
O Refúgio dos Ecos estava em silêncio. Mas não era um silêncio comum. Era o tipo de silêncio que vem antes de uma tempestade — ou de um renascimento.Emeraude ajoelhou-se diante do altar lunar, rodeada por círculos de sal, prata e folhas secas de louro, símbolos antigos das banshees e dos filhos da lua. O céu estava limpo, mas a lua, cheia e densa, parecia pesar sobre a Terra.Kaien colocou as mãos sobre os ombros da filha.— “Você foi criada entre verdades incompletas. Agora, vai ouvir tudo. Vai cantar com sua própria voz. Vai sangrar por sua linhagem. E sobreviver, se for forte o bastante.”Ao redor, banshees ancestrais surgiam como espectros de névoa. Algumas choravam. Outras cantavam. Lysandra e Syllen seguravam tochas acesas, como guardiãs do ritual.Então a lua começou a cantar.Não era um som comum. Era um canto profundo, ancestral, cheio de notas que nenhuma garganta humana poderia emitir. Era o chamado.Emeraude gritou. Mas não de dor.Gritou porque sua alma estava se abrindo
Depois do confronto com o Silenciador, Emeraude não foi mais a mesma.Algo havia sido liberado dentro dela. Um canal. Um eco ancestral que agora pulsava em seu peito como um segundo coração — não feito de carne, mas de lamentos, memórias e cantos esquecidos. Vozes antigas começaram a sussurrar quando ela fechava os olhos. Algumas pediam ajuda. Outras apenas cantavam… histórias de dor e coragem.Certa noite, enquanto descansava no sótão de casa, ela ouviu claramente:— "Emeraude... está na hora de escutar o que foi perdido."Era Nyra, a primeira banshee da linhagem Lewis. Um espírito ancestral que ecoava através da alma de suas descendentes, mas que há séculos estava em silêncio. Agora, o véu estava aberto. E Emeraude podia vê-la.Nyra surgiu na escuridão com cabelos flutuantes e olhos opacos como a lua coberta por nuvens. Sua voz era melódica, mas cheia de cicatrizes:— “Nós fomos esquecidas… abafadas… mas não destruídas. Cada banshee carrega a dor de uma linhagem, Emeraude. E cada um
O eco do nome proibido reverberava pelos cantos mais antigos de Ravenshall. Nos telhados, nas fendas do subsolo, nos ossos enterrados sob igrejas esquecidas. Algo havia despertado — e não estava mais disposto a ser calado.Syllen vivia.Mas não como antes. Emeraude sentia a presença dela não apenas nos sussurros, mas dentro de si. A banshee ancestral havia deixado de ser uma lenda distante. Agora, era uma sombra enraizada na sua voz.A cidade começava a sentir os efeitos.Pessoas tinham pesadelos em conjunto. Áudios sumiam de celulares, como se toda gravação sonora estivesse sendo devorada. E, o mais assustador: três mortes ocorreram em silêncio absoluto, com olhos arregalados e ouvidos sangrando.Emeraude sabia: aquilo era sua culpa.Mas também era seu dever consertar.O último selo era o Grito Puro.O som ancestral. O primeiro grito que deu origem às banshees. Um grito que não apenas previa a morte… mas definia o destino. A mãe dela mencionara algo assim uma vez, numa conversa abafa
Último capítulo