Nascida em uma família perfeita aos olhos da sociedade, Emeraude Lewis sempre viveu cercada de luxo, regras e segredos. Filha de um médico brilhante e de uma psicóloga renomada, ela não sabia que sua verdadeira herança era sobrenatural. Na noite do seu 16º aniversário, durante uma festa proibida na floresta, Emeraude desperta poderes que mudam sua vida para sempre: ela é uma Banshee, capaz de prever a morte e ouvir os sussurros do além. Agora, cercada por visões sombrias, mentiras antigas e criaturas ocultas, Emeraude precisa encarar seu destino — ou se perder no grito que anuncia o fim.
Leer másA noite estava pesada.As árvores sussurravam nomes antigos. O véu entre os mundos tremulava como uma cortina à beira de se rasgar. Emeraude sentia isso não apenas em sua alma, mas em seus ossos. Algo estava morrendo — não no mundo físico, mas na memória espiritual que ligava todas as banshees. E o nome que ecoava na bruma era um só: Sorelle.— Ela está na fronteira do esquecimento — murmurou Emeraude, olhando para o céu, onde as estrelas piscavam como olhos assustados. — A saudade está se apagando.O grupo não hesitou. Agora eram cinco: Ilyra, a guia; Nyra, a ecoante; Elara, a lembrança; Lys, a dor; Mira, a justiça. Unidas pela missão de reunir as vozes ancestrais, partiam para um território ainda mais frágil: o Jardim da Saudade, onde tudo era lembrança viva — e tudo podia se perder em um suspiro.---A travessia exigiu mais do que magia. Foi preciso coragem para atravessar as Trilhas da Memória, onde cada uma delas foi confrontada com seus maiores vínculos e perdas. Nyra viu sua ir
O entardecer chegou tingido de tons púrpura e escarlate, como se o próprio céu pressentisse a aproximação de algo sombrio. O grupo agora contava com quatro banshees, mas a euforia das vitórias anteriores dava lugar a um silêncio espesso. Algo no véu havia mudado. Os ecos antes claros e suplicantes tornaram-se distorcidos, como gritos abafados por lama.Emeraude sentia isso com clareza crescente. Sua conexão com as vozes estava mais forte, mais vívida — mas também mais dolorosa. As memórias que atravessavam seu espírito vinham em fragmentos desconexos, como visões de um pesadelo partilhado.— Há algo errado — disse ela, acordando sobressaltada de mais um sonho perturbador. — As vozes... estão sendo silenciadas à força.Lys, sentada perto da fogueira, ergueu os olhos. — Silenciadas? Como se... fossem apagadas?— Como se alguém estivesse... devorando os gritos — completou Ilyra. — Há lendas sobre criaturas que vivem nas margens do véu. Aqueles que se alimentam da dor reprimida.Elara est
O céu estava cinzento quando Emeraude e as outras deixaram a cidade onde o tempo havia parado. Elara caminhava ao lado das novas companheiras com passos calmos, mas seu olhar denunciava as marcas profundas do esquecimento. Seu grito restaurara o fluxo da memória e do tempo, mas não curara todas as feridas. Havia coisas que nem mesmo o tempo devolvido poderia consertar.— Qual é o próximo destino? — perguntou Nyra, olhando para a Herdeira do Grito.Emeraude fechou os olhos. As vozes do véu ainda chamavam, cada uma em uma frequência única, como notas de um lamento antigo. Entre elas, uma sobressaía. Não era um sussurro — era um choro agudo, constante, insuportável. Um eco de sofrimento ininterrupto.— Vamos para os campos da angústia — respondeu Emeraude. — Onde o sofrimento virou terra.---O caminho até lá foi árduo. Ao se aproximarem dos campos, o solo ficou rachado, enegrecido, coberto por espinhos que cresciam ao som de lamentos. Não havia trilhas, apenas fragmentos de dor espalhad
A viagem foi silenciosa.Não por falta de palavras, mas porque o caminho exigia escuta. Emeraude, Ilyra e Nyra seguiam por trilhas antigas, guiadas por murmúrios do véu que se infiltravam no mundo físico. O ar tornava-se mais denso a cada passo. Era como se o tempo, aos poucos, esquecesse de passar.Ao terceiro dia, avistaram os portões.A cidade era cercada por muros de pedra cobertos por heras eternamente verdes. Nenhuma folha murchava. Nenhuma flor desabrochava. O céu, fixo em um entardecer melancólico, parecia congelado — e o vento ali não passava de um suspiro retido.— Entramos em uma dobra do tempo — disse Ilyra, franzindo o cenho. — Aqui, o presente é uma prisão.Nyra, com seu olhar sempre atento, tocou o portão e sentiu o arrepio familiar. — Há algo… chorando aqui dentro. E está preso há muito tempo.Emeraude respirou fundo. — Então vamos libertar.Quando entraram, tudo estava imóvel. Pessoas congeladas no meio de passos. Roupas balançando ao vento — mas o vento não soprava.
A aurora tingia o céu com tons pálidos de lavanda e dourado quando Emeraude se afastou da clareira. Cada passo seu parecia ressoar com ecos antigos, como se a própria terra reconhecesse a mudança que havia acontecido dentro dela. O Grito da Redenção ainda vibrava em seu peito — um poder silencioso, adormecido, mas pulsante.Ilyra a observava em silêncio, com os cabelos azuis espalhados pelo vento matinal. Desde que haviam libertado Aelynn, o véu entre os mundos parecia mais fino, como se a fronteira que separava os vivos dos mortos agora respirasse. O equilíbrio fora restaurado, sim — mas por quanto tempo?— Você sente isso? — Emeraude perguntou, olhando para as árvores.— Sinto. — Ilyra respondeu. — O véu está sussurrando de novo. Outras vozes… estão acordando.As duas caminharam até o Refúgio dos Ecos, onde Kaien e Alisha já as esperavam. O lugar, antes tomado por sombras e batalha, agora estava em paz. Musgos brilhavam com leveza sobre pedras e raízes, como se o mundo espiritual ta
Antes do mundo esquecer, ela gritou.Syllen nasceu sob uma chuva de cinzas, numa aldeia onde o tempo escorria pelas pedras como sangue antigo. Era filha de uma sacerdotisa muda e de um ferreiro que moldava sinos para espantar maus presságios. Mas mesmo entre segredos, ela nasceu gritando.Seu primeiro choro fez os pássaros caírem do céu.As mulheres da aldeia se benzeram. Os anciãos sussurraram "má sorte".Mas a mãe sorriu. Ela sabia: aquela menina ouvira algo antes de nascer.Syllen cresceu ouvindo o que ninguém ouvia: ecos de vozes enterradas, preces sussurradas entre as árvores, o nome das coisas antes que fossem ditas. Não tardou para perceber que podia também responder a esses chamados.Um dia, diante da fogueira do templo, enquanto as outras crianças imitavam cantos antigos, Syllen soltou um grito que fez o tempo parar.Não era um aviso de morte. Era um grito de liberdade.Ela gritou para quebrar o destino. Para escolher.Mas o mundo não estava pronto.As anciãs da ordem baniram
Último capítulo