Antes do mundo esquecer, ela gritou.
Syllen nasceu sob uma chuva de cinzas, numa aldeia onde o tempo escorria pelas pedras como sangue antigo. Era filha de uma sacerdotisa muda e de um ferreiro que moldava sinos para espantar maus presságios. Mas mesmo entre segredos, ela nasceu gritando.
Seu primeiro choro fez os pássaros caírem do céu.
As mulheres da aldeia se benzeram. Os anciãos sussurraram "má sorte".
Mas a mãe sorriu. Ela sabia: aquela menina ouvira algo antes de nascer.
Syllen cresceu ouvindo o que ninguém ouvia: ecos de vozes enterradas, preces sussurradas entre as árvores, o nome das coisas antes que fossem ditas. Não tardou para perceber que podia também responder a esses chamados.
Um dia, diante da fogueira do templo, enquanto as outras crianças imitavam cantos antigos, Syllen soltou um grito que fez o tempo parar.
Não era um aviso de morte. Era um grito de liberdade.
Ela gritou para quebrar o destino. Para escolher.
Mas o mundo não estava pronto.
As anciãs da ordem baniram